OPINIÃO

Juros americanos e contas públicas pressionam dólar

Por Reinaldo Cafeo |
| Tempo de leitura: 2 min
O autor é diretor regional da Ordem dos Economistas do Brasil

Quem acompanha o dia a dia do mercado financeiro tem observado que a cotação do dólar assumiu outro patamar. A cotação que poderia ficar em torno de R$ 4,85, com viés de baixa, bateu o nível mais elevado no governo Lula, acima dos R$ 5,35.

Há duas causas principais para que o dólar tenha este nível de cotação: uma externa e outra interna.

No ambiente econômico externo a taxa de juros americana é a que mais tem mais pressionado o mercado cambial brasileiro. Juros elevados na principal economia do mundo atrai os investidores internacionais, os quais conseguem rentabilizar seus recursos com baixo risco. Esse movimento tem se refletido principalmente na Bolsa de Valores brasileira. Os estrangeiros já retiraram cerca de R$ 35 milhões da Bolsa. Aumento da demanda por dólares, sem a devida compensação na oferta, cotação se eleva.

Esse movimento seria menos intenso, portanto, mais "brando", caso o governo federal não gerasse tanta insegurança no mercado interno, principalmente no tocante ao controle das contas públicas.

Está mais que evidenciado que tentar buscar o equilíbrio fiscal elevando a carga tributária tem seus limites. E como é isso o governo vem praticando, os agentes econômicos já perceberam e precificaram essa prática. Se no curto prazo há bons indicadores econômicos, tais como, o crescimento do PIB em 0,8% no primeiro trimestre deste ano, queda na taxa de desemprego e manutenção na geração de empregos formais, por outro lado, na visão de médio e longo prazos o modelo econômico alicerçado em consumo das famílias e baixo compromisso do governo com os resultados fiscais, não se sustenta.

Desta forma, os agentes econômicos buscam "proteção" em moeda estável e também pressionam a cotação do dólar.

É evidente que o mercado cambial é volátil e a cotação oscilará ao longo do tempo, contudo, o receio é que, se os juros americanos demorarem a cair e a questão fiscal se agravar por aqui, o dólar assuma novo piso, mais elevado, e traga com isso pressão sobre os preços internos, o que, juntamente com o problema de abastecimento provocado pelas enchentes do Rio Grande do Sul, a inflação suba, e para combatê-la os juros se manterão internamente mais elevados, afetando o crescimento econômico.

Tudo ficaria mais fácil, se o governo federal fizesse a sua parte, afinal, a ciência econômica já ofereceu instrumentos mais que suficientes para isso.

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