OPINIÃO

PIB do primeiro trimestre: já vimos este filme!

Por Reinaldo Cafeo |
| Tempo de leitura: 3 min
O autor é diretor regional da Ordem dos Economistas do Brasil

Apesar do crescimento de 1 ponto percentual (p.p.) no setor serviços no primeiro trimestre deste ano em comparação ao primeiro trimestre do ano passado, ou seja, saltou de 0,4% para 1,4%, o filme verificado naquele período se assemelha ao de agora, com um agravante: a tragédia no Rio Grande Sul. Explicando melhor.

No primeiro trimestre do ano passado o setor primário (agricultura e pecuária) cresceu 16,2% em relação ao trimestre anterior e no primeiro trimestre deste ano o setor cresceu também em dois dígitos, isto é, 11,3%. Acontece que o bom desempenho do setor primário não se manteve ao longo do ano, ou seja, nos trimestres seguintes o setor teve crescimento negativo. Por analogia, e ainda somando-se a isso o impacto da baixa produção no Rio Grande do Sul devido a recente tragédia que assolou aquele estado, novamente este desempenho não se repetirá. Vale destacar a importância do estado no setor primário da economia.

Considera-se ainda que a indústria, há um ano, ficou no campo positivo e agora está no campo negativo e ainda, que o setor de serviços, para manter o bom desempenho atual dependerá do apetite do consumidor, o que não vem ocorrendo recentemente, o indicativo é que o segundo trimestre deste ano frustre os agentes econômicos.

É evidente que é possível fazer várias leituras do PIB brasileiro. Em um prisma, diria "otimista" o país pode atingir 2,5% de crescimento neste ano versus 2,9% do ano passado. Em uma visão pessimista, este crescimento rodeará os 2,0%.

Na visão de curto prazo, há um bom desempenho da economia, afinal, o mercado de trabalho se mantém resiliente, há queda na inadimplência e ainda a taxa de investimento cresceu 4,1% no primeiro trimestre, mas na visão de médio e longo prazos não se verifica sustentação do crescimento.

O governo Federal passa a impressão de que o "barco" da economia está à deriva. De um lado o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e sua equipe econômica, remando para um campo mais seguro, mantendo, por exemplo, o discurso de rigor fiscal, de outro lado o chefe dele, o Presidente Lula, pouco comprometido com este caminho seguro, por vezes desdenhando do compromisso fiscal do governo, o que leva o "barco" para outro lado.

Com aumento nos gastos públicos em curso, por sinal desejo do Presidente da República, resta a equipe econômica buscar alternativas para arrecadar mais, e ainda rever o resultado fiscal para baixo, deixando de lado o recente compromisso do déficit primário zero (receitas menos despesas, sem computar os juros da dívida pública).

Em resumo: seria de bom tamanho que houvesse unificação do discurso do governo Federal, que as ações da equipe econômica tivessem total respaldo do Presidente da República, e que a comunicação do governo fosse na direção de maior segurança para quem quer empreender.

Se de um lado há o desafio na reconstrução do Rio Grande do Sul, de outro lado há uma janela de oportunidades se o governo Federal fizer o mínimo: ser rigoroso no ajuste fiscal. Quem sabe o populismo abra espaço a visão mais técnica.

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