OPINIÃO

Condenações literárias

Por Adilson Roberto Gonçalves |
| Tempo de leitura: 1 min
Pesquisador da Unesp - Rio Claro

Aprendi a mergulhar nos livros com Monteiro Lobato e isso não posso mudar. Artigos acadêmicos que discutem os ataques que o autor está sofrente são precisos e necessários, pois a preguiça intelectual não pode ser argumento para "cancelar" o autor por ser racista e eugenista. Se seguirmos nessa toada, devemos condenar e abandonar Lima Barreto por sua explícita misoginia, ainda que seja um dos expoentes da literatura negra militante do início do século passado.

Ainda mais que o momento é de descoberta de novos escritores, com produções quase artesanais, que procuro valorizar pela leitura e estímulo em redes sociais. No entanto, para ler mais do mesmo prefiro reler os clássicos à busca de novas interpretações para o que escreveram, mesmo descobrindo lados indignos, como o já mencionado racismo de Lobato e a misoginia de Barreto. Julgo interessante e importante a busca por material não publicado ou de difícil acesso de escritores e músicos. A descoberta de inédito de Tom Jobim, por exemplo, ajuda a compor, com mais uma peça, a trajetória e o processo criativo do brilhante compositor, além do contexto em que foi produzida. Que seja levada aos palcos e aos ouvidos carentes da boa música.

Por fim, devemos investir nos autores nacionais, nos clássicos. Lendo o planejamento de novos filmes baseados nos livros de J.R.R. Tolkien (O Senhor dos Anéis), é admirável como conseguem explorar uma obra literária para além do máximo e produzir outras artes com grande dedicação e sucesso. Imagino o que se poderia fazer com a saga "O tempo e o vento", de Érico Veríssimo, para ficarmos em um de nossos expoentes do Sul do país, cuja epopeia precisa ser contada para superar a atual tragédia.

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