Na música "Palavras ao vento", composição de Marisa Monte e Moraes Moreira especialmente para Cássia Eller, canta-se "palavras amenas, palavras pequenas", na busca por um devido encontro, exaltando o amor. Sim, há muitas palavras inadequadas, mas são com elas que nos expressamos.

Nesse sentido, foi interessante a defesa do pátrio idioma que faz José Roberto Batochio em artigo para o Estadão ["Assédio ao idioma (ou 'bullying' ortográfico?)"]. No entanto, há que se considerar que língua é um ser vivo e não falamos mais aquele português do século XVI, nem mesmo o dos anos 1940, o dos primeiros acordos ortográficos criticados por ele. Sou contrário à subserviência linguística gratuita, mas não há como remover toda a herança do francês, do inglês e de outras línguas que ficou embutida no português há décadas. As pessoas leem literatura, não textos jurídicos, é bom deixar claro. No mais, lembrar que a Língua Portuguesa deve ser a única no mundo regulada por lei e que letras como o y voltaram a fazer parte de nosso alfabeto!

A pouco menos de um mês do Dia Mundial da Língua Portuguesa, combinados ou não, articulistas da Folha de S. Paulo resolveram atravessar o meio de campo e atacar palavras indevidas (publicação de 4/4). Sérgio Rodrigues, sempre magistral, pontuou a ignorância que permeia os "atravessamentos" modernos que indevidamente nos atravessam. Flávia Boggio foi além, apresentando uma lista desses impropérios irritantes, "ressignificados", e, pior, prometeu que a sangria com mais termos continuaria. E Mirian Goldenberg com o artigo "A arte de brincar com as palavras", suavizou a questão, revelando que brinca com palavras, inspirada por Manoel de Barros, mostrando ser possível se divertir com elas, desde que na simplicidade do que o poeta nos ensina, sendo grandes ou pequenas tais palavras.