OPINIÃO

Por um trânsito humanamente sustentável

Por Archimedes Azevedo Raia Jr. | 23/04/2024 | Tempo de leitura: 2 min

O autor é mestre e doutor em Engenharia de Transportes/USP e Diretor de Mobilidade e Transportes da Assenag

A cada dia a sociedade se depara com notícias chocantes a respeito da sinistralidade de trânsito, na cidade de Bauru, na região e em nível nacional. São milhares de pessoas mortas e feridas, anualmente, com elevado custo humano e social. Tudo isso impõe aos envolvidos, familiares e amigos, um ônus incalculável de dor pela perda de entes queridos.

Estudo levando em conta dados produzidos pela Polícia Rodoviária Federal, sob sua área de atuação, as rodovias federais, considerando dados de 2021, indicam os principais fatores que incidem na produção de sinistros, do mais ao menos grave: falta de atenção; velocidade incompatível; distância de segurança inadequada; e ingestão de álcool. Já os fatores que provocam mais mortes são: desobediência à sinalização; falta de atenção; velocidades e ultrapassagens indevidas; e ingestão de álcool.

Esses fatores representam uma evidente falta de educação para o trânsito que pode ser revertida por meio de uma profunda mudança no comportamento humano. Por isso, é preciso produzir políticas eficientes e eficazes de educação para o trânsito, não só de condutores, mas também de pedestres, ciclistas e motociclistas.

Adicionalmente, embora seja impopular, a fiscalização, aplicada com bom senso, possui função também de educação. Diversas pesquisas apontaram que aumentar o rigor da fiscalização no trânsito diminui a quantidade de sinistros. Leis mais pesadas implicam, recorrentemente, em punição mais ampla ou mais severa.

Condutores frequentemente cometem erros devido às limitações humanas: físicas, perceptivas e cognitivas. Esses erros podem não resultar necessariamente em sinistros porque os condutores podem compensar erros de outros condutores ou porque as circunstâncias são indulgentes. Por exemplo, quando há espaço para manobras e evitar o sinistro. Os "quase sinistros" são muito mais frequentes do que os acidentes e são estudados.

No sistema de trânsito, o erro do condutor é um fator que contribui significativamente para a maioria dos sinistros. Por exemplo, os motoristas podem cometer erros de julgamento em relação à velocidade de fechamento de semáforo, aceitação de brechas para transpor um fluxo contínuo de tráfego, negociação de espaços em curvas e velocidade apropriada para aproximar-se de cruzamentos e faixas de pedestres. Distrações no interior dos veículos (celular) e nas vias (outdoors, placas) e o cansaço do condutor podem levar a erros. Um motorista também pode ficar sobrecarregado pelo processamento de informações necessárias para realizar múltiplas tarefas simultaneamente, o que pode levar também a erros.

Para reduzir a sua carga de informação, os condutores baseiam-se em um conhecimento a priori baseado em padrões ou respostas aprendidas; portanto, é mais provável que cometam erros quando suas expectativas não são atendidas. Além de erros não intencionais, os motoristas às vezes violam deliberadamente dispositivos e leis de controle de trânsito.

A operação do trânsito em condições seguras se torna um bem comum a ser buscado por todos os players, governamentais e sociedade civil organizada, com o objetivo não só de preservar vidas, mas de disciplinar o comportamento coletivo para um trânsito humanamente sustentável.

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