MUDANÇA DE VIDA

Após viver ao relento, homem refaz a própria história construindo imóveis

Giovani Pereira da Silva é um entre outros exemplos de pessoas que passaram pelo Albergue Noturno e mudaram de vida

Por Bruno Freitas | 13/04/2024 | Tempo de leitura: 4 min
da Redação

Bruno Freitas

Giovani Pereira da Silva trabalha na equipe de obras que constrói a futura sede da CPJ
Giovani Pereira da Silva trabalha na equipe de obras que constrói a futura sede da CPJ

Eles passavam frio nas ruas de Bauru, recorriam à caridade em semáforos, não sabiam se teriam algo para comer e atrofiavam corpo e espírito com cachimbinhos improvisados e uma garrafa de bebida alcoólica à mão. Essa foi a rotina vivenciada por algumas pessoas da cidade, que perderam praticamente tudo, mas conseguiram se reerguer. Outro ponto em comum entre as histórias: o auxílio encontrado no Albergue Noturno do Centro Espírita Amor e Caridade (Ceac), que completa 72 anos.

Esteve por lá Giovani Pereira da Silva, 55 anos. Com o estímulo da entidade e trabalhando na construção civil, 'virou o jogo'. Natural de Elesbão Veloso (PI), em 1999 ele escolheu a Cidade Sem Limites para viver. Tinha uma situação financeira sem regalias, mas estabilizada, com casa própria e filhos já criados. Até que viu tudo desmoronar quando conheceu um baseado de maconha batizado, já "depois de velho", como destacou. Da maconha ao crack. A sua falha, ressalta, foi de enxergar o fundo do poço tarde demais.

Hoje, recuperado, ele não esconde as lágrimas ao comentar da gratidão que sente pelo Albergue Noturno. "Eu morava no Jardim Ivone e fui da associação de moradores. A droga me fez perder o convívio com amigos, familiares e os irmãos da minha igreja (evangélica), da qual eu fazia parte. Fiquei na rua por cerca de dois anos, depois de vender a casa para repartir o dinheiro com a ex. O pouco que tinha, gastei tudo", recorda Giovani.

Ele cita que o Albergue lhe deu a oportunidade de dormir em uma cama, almoçar, jantar e fazer sua higiene. E começou ali a esperança de reconstruir sua vida. Enquanto membros da igreja o magoaram porque não lhe estenderam a mão, os filhos nunca o abandonaram. Atualmente, voltou a conviver com eles: Jeferson, Gerson, Josafá (reside nos EUA) e Jonatas, além de quatro netos.

RECOLOCAÇÃO

"Eu tinha muita experiência na construção civil, como ajudante geral, e consegui uma chance de recolocação no mercado. Fiz tudo direitinho, lutei contra as recaídas e hoje tenho carteira assinada novamente", comemorou Giovani Silva.

Nos primeiros meses de trabalho, ele ficou mais um tempo no Albergue, juntando dinheiro até conseguir alugar uma casa, onde reside atualmente. Seu próximo sonho é comprar um terreno próprio, ainda que pequeno, e futuramente erguer sua casinha, com suas próprias mãos.

MAIS EXEMPLOS

Quem também passou por situação semelhante foi Claudinei Teixeira de Moura, 61 anos. Em 2014, logo após seu divórcio, ele passou a morar na rua, acompanhado do crack e de bebida alcoólica. Contar ter dois filhos bem-sucedidos profissionalmente, um residindo em Florianópolis e uma filha em Ibitinga, além de seis netos.

"Fiquei cinco longos anos na rua. E fui procurar o Albergue só no final de 2018, para dormir e receber apoio. O Ceac foi uma mãe para mim. Além de comida boa, tinha onde dormir, calçado e vestuário. Por eles, conheci o Esquadrão da Vida. Me ajudaram muito também. Hoje, resido em um apartamento e trabalho com pintura de residência e automotiva", comenta. Claudinei acrescenta que a Sorri-Bauru também o auxiliou com acompanhamento de seu problema auditivo.

VIROU FUNCIONÁRIO

Já Antônio Natalício da Silva, 46 anos, saiu das ruas para ser contratado como funcionário do Albergue. Natural de Vera Cruz (SP), passou a morar em Bauru em 1990. Assim como os outros, a dependência de crack e álcool o arruinou. Foram cinco anos. "Estou totalmente limpo com ajuda do Ceac. E hoje trabalho com carteira assinada no próprio Albergue, na função de serviços gerais. Graças a Deus, financiei um apartamento próprio", destaca.

Segundo o Ceac, quem também conseguiu voltar ao mercado de trabalho foi Wanderson Francisco de Souza. Ele é registrado em uma firma de Bauru e ajuda a empregar outros que passaram pela mesma situação no Albergue.

72 ANOS

Inicialmente, o Albergue Noturno de Bauru funcionava na quadra 4 da rua Sete de Setembro, mas desde 2011 está em uma sede maior, com 1.800 metros quadrados, situada na rua Inconfidência, 7-18, próximo do Terminal Rodoviário.

Segundo a assistente social Valkíria Rocha, a capacidade atual é de 46 pessoas assistidas do sexo masculino, além de quatro vagas emergências para o sexo feminino. O albergue oferece cinco refeições por dia, além de acomodação para dormir, vestuário, higiene pessoal e encaminhamento de saúde e da comunidade terapêutica. É custeado por município, Estado e União, além de apoio filantrópico da população em geral.

Antônio Natalício e a assistente social Valkíria Rocha com Giovani e Claudinei (crédito: Bruno Freitas)
Antônio Natalício e a assistente social Valkíria Rocha com Giovani e Claudinei (crédito: Bruno Freitas)

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