OPINIÃO

Manifesto pela volta da feiura e estupidez humana

Por Renato Ghilardi | 28/03/2024 | Tempo de leitura: 2 min

O autor é professor livre docente da Unesp

O homogêneo. Não há nada pior que o homogêneo. Esse mar de pasmaceiras onde nada se cria e que, de uma forma claramente anti-biológica, não permite que o processo evolutivo aconteça. E erra quem acha que esse mar sempre é calmo. A homogeneidade pode ser encontrada em um mundo caótico também. Um mar revolto é homogêneo em vagalhões e todo navio que por lá passa tem a chance de afundar.

Nossas vidas não podem ser homogêneas, jamais. Pois se assim o for, não haveria possibilidade de se conhecer o novo e o diferente que são justamente os fatores que nos fazem crescer espiritualmente. Não teríamos parâmetros comparativos e, portanto, seríamos cada vez mais individualistas e crentes em nossos dogmas e ideologias existentes para manter nossa homogeneidade de pensar. Talvez, dentro dessa luta incessante da busca pela heterogeneidade, o campo mais difícil de batalha seja o da formação do pensar do jovem que está potencializado em sua dificuldade no ambiente acadêmico. Antagonicamente, nos tempos atuais, é lá que mora a máquina de ideologias que estanca as possibilidades das diferenças. Vários são os exemplos mas podemos nos ater em conceitos que se desvaneceram nos atributos dos jovens humanos da atualidade: a feiura e a estupidez. Não existe mais aquele que é feio em suas qualidades e muito menos aquele que é estupido em determinada prática. Há apenas uma massa única e homogênea de indivíduos que se consideram iguais. Porém, essa pretensa igualdade só faz com que haja o realce e a existência de novas características as quais chamarei de "ausência de beleza" e "ausência de inteligência". Assim, também, a beleza como a inteligência são diluídas nesse novo mar de homogeneidade e passam a não mais existir.

Isso é bom? Os jovens em sua falta de vivência, e alguns professores com sua "ausência de inteligência", consideram que agindo dessa forma estão salvando a sociedade ocidental das dores e angústias de uma auto-reflexão. Contudo, esse auto-engano apenas permite com que haja mais individualismo e sofrimento para poder se esconder de algumas realidades e assim manter o teatro da homogeneidade criado pelas ideologias da bolha na qual eles vivem. Se não existe mais a feiura, a beleza também não existe; e sem essa última não há transcendência. Estamos fadados à mediocridade eterna. Nesse contexto que peço que considerem a real existência do feio e do estúpido. Sem medo, sem ranço.

Que assumamos nossa feiura e estupidez, tão inerentes ao ser humano, e que possamos nos livrar das amarras da homogeneidade do falso acolhimento ideológico. Que não nos enganemos com essa religião laica pois o feio é feio, o belo é belo, e o que não é um nem outro (assim como os "desprovidos de inteligência") que entenda que a crueza da vida não pode ser amenizada por chavões ideológicos.

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