O jornalista de Santa Ceuz do Rio Pardo Sérgio Fleury Moraes, 64, partiu prematuramente numa luta contra o câncer que contraiu pelos anos de tabagismo. Talvez os males que a profissão nos proporciona no fechamento do jornal.

Minha sensação é a de que, diante dele, todos nós somos pequeninos como aqueles anões de Velásquez, parafraseando o outrora jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues. No teatro da vida, "Serginho", como era mais conhecido na cidade, respirou e militou no jornalismo com idealismo nunca visto. Entregou a sua existência para manter semanalmente o jornal Debate.

Conheci de perto a redação do jornal que foi o mais independente dos jornais que trabalhei. "Serginho", se quisesse, trabalharia em qualquer grande jornal. Preferiu o Debate, que fundou em 1977 ainda jovem e escreveu a história de Santa Cruz do Rio Pardo. O jornal foi crescendo até na década de 90 ganhar prédio próprio.

Dali foi se modernizando até ser impresso em cores. Ele provou nos quase 47 anos de vida da publicação que é possível manter um jornal com independência, sobrevivendo de publicidade, sem vender sua consciência. Afinal, foram anos a fio, de janeiro a dezembro, de madrugadas insones para levar as bancas aquele que foi o mais importante veículo de comunicação da cidade e região.

Chegou a ser preso por um processo kafkiano. Pode se atribuir a essa galhardia do "Serginho" de se insurgir a esse desmando que provocou o fim do entulho autoritário da Lei de Imprensa. Grandes jornais aderiram à campanha, do qual "Serginho" chegou a escrever artigos sobre o tema nas páginas da "Folha de S.Paulo" e em "O Globo".

Nessa hora fica difícil escrever sobre o amigo. A morte física é cruel para todos nós, um dia iremos passar por isso. Talvez tivesse chegado o momento de "Serginho" ir descansar em outra dimensão pelos bons frutos semeados nas mais de quatro décadas dedicadas à comunicação.

Só assim seu legado será reconhecido.

Os grandes homens não morrem, o idealismo por um mundo melhor fica para a posteridade.