POLÍTICA

Câmara de Bauru retoma análise da concessão sob pressão após estrago das chuvas

Obra de drenagem na avenida Nações Unidas, afetada por tempestade nesta quarta, seria contrapartida de futura concessionária

Por André Fleury Moraes | 15/02/2024 | Tempo de leitura: 4 min
da Redação

Pedro Romualdo/Câmara de Bauru

Prefeita Suéllen Rosim (PSD), autora do PL da Concessão, em discurso na Câmara quando do aniversário de Bauru; Legislativo retoma análise do texto nesta quinta
Prefeita Suéllen Rosim (PSD), autora do PL da Concessão, em discurso na Câmara quando do aniversário de Bauru; Legislativo retoma análise do texto nesta quinta

A Câmara de Bauru volta a discutir nesta quinta-feira (15) o Projeto de Lei (PL) que autoriza o governo a conceder o sistema de esgotamento sanitário local à iniciativa privada. A sessão legislativa ocorre no dia seguinte à tempestade que caiu sobre o município e deixou estragos em vários pontos da cidade, entre os quais a avenida Nações Unidas.

O temporal desta quarta amplia a pressão sobre os vereadores pela aprovação da proposta, uma vez que o projeto e a obra de drenagem urbana na Nações, que sofre com alagamentos desde que foi inaugurada, deverão ser obrigatoriamente realizados pela futura concessionária a título de contrapartida pela assinatura do contrato.

A própria prefeita Suéllen Rosim (PSD) voltou a publicar vídeo nas redes sociais pedindo a aprovação da proposta. A modelagem da concessão foi elaborada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), entidade vinculada à USP, mas não está vinculada ao PL da concessão - que apenas autoriza o governo a terceirizar o serviço.

"Esse projeto que põe fim a esse problema na Nações já foi proposto pelo nosso governo e resolve dois grandes gargalos de uma vez: a drenagem da Nações e a retomada das obras da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Vargem Limpa", disse a mandatária.

Suéllen negou em entrevista ao JC na noite de ontem que esteja pressionando a Câmara. "Eu não vejo nada disso", garantiu. "O papel do Executivo é propor soluções e a solução está proposta. Mas é uma via de mão dupla. Tem participação da prefeitura e precisa ter participação do Legislativo", disse.

"Não é uma cobrança, mas um esclarecimento para a população. Mostrar o que é esse projeto. Isso tem de ser dito à população. Não estou jogando para a Câmara uma responsabilidade que é nossa. Estou dizendo que a minha responsabilidade de propor o projeto foi feita. Se a Câmara entender que não é viável, ela tem a autonomia de rejeitar ou não", prosseguiu.

A futura concessionária teria até sete anos para construir os piscinões na avenida - o que adiaria a solução para 2031 num cálculo que considera a aprovação do PL, a conclusão da licitação e a assinatura do contrato neste ano.

MUDANÇAS?

Ao JC, a prefeita Suéllen afirmou, no entanto, que a responsável pelo serviço começaria a fazer levantamentos sobre pontos críticos de alagamento já nos primeiros anos. Ela não descartou, porém, eventuais mudanças na modelagem proposta pela Fipe.

Segundo Suéllen, o escopo pode sofrer alterações e o governo não descarta reduzir o prazo de conclusão da obra de drenagem quando da elaboração do edital de concessão. "Mas para isso precisamos da autorização legislativa", observou.

É justamente essa autorização que os vereadores - tanto da base governista como da oposição - questionam.

A principal crítica dos parlamentares está na ausência de discussões sobre o projeto, mas se estende também ao fato de que a proposta da Fipe não está vinculada ao texto.

Em outras palavras, a administração não seria necessariamente obrigada a conduzir a concessão nos moldes propostos pela fundação. Daí o motivo pelo qual vereadores têm dito que o PL significa uma "carta-branca" à prefeita.

O texto corre na Câmara sob regime de urgência e precisa ser votado nesta quinta-feira em razão dos prazos desse regime de tramitação, segundo a qual o PL precisa ser votado em até 10 sessões após o período de 20 dias de análise das comissões permanentes. A reunião de hoje é justamente a décima. Caso não haja deliberação sobre a proposta, a pauta da Câmara trava e nada mais poderá ser votado.

E tudo aponta para isso. O vereador Eduardo Borgo (Novo), por exemplo, já antecipou há cerca de duas semanas que não vai liberar o projeto enquanto membro da Comissão de Meio Ambiente. O parlamentar pretende promover uma audiência pública sobre o tema antes de emitir parecer.

A ideia, afirmou Borgo ao JC, é chamar setores da sociedade à discussão - entre os quais a Associação dos Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos de Bauru (Assenag) e o Conselho de Desenvolvimento Econômico, Sustentável e Estratégico (Codese).

José Roberto Segalla (União Brasil) fez a mesma avaliação durante discurso na tribuna na semana passada. Ele também criticou uma recente reunião entre o governo e a Fipe para a qual os parlamentares não foram convidados.

"Quem precisa ser convencido de que é um bom projeto somos nós, que votamos a proposta. A prefeita vota? Não. O presidente do DAE vota? Não. Quem tem de ser convencido? Somos nós, vereadores", afirmou.

O PL da Concessão foi adiado na semana passada pelo vereador Beto Móveis (Cidadania), integrante da base do governo, que pediu prazo para se manifestar sobre se o texto tem ou não amparo legal. Na quinta (8), ele votou pela regularidade do PL.

TRAMITAÇÃO

O projeto de lei que autoriza a concessão tramita na Câmara desde julho do ano passado e até o momento só passou por duas comissões permanentes - a de Justiça, que emitiu parecer favorável, e a de Economia, para a qual o texto não tem amparo legal.

Relatora da proposta neste último colegiado, a vereadora Chiara Ranieri (União Brasil) se manifestou pela inconstitucionalidade da matéria.

Ela argumenta que o PL "ainda apresenta lacunas consideradas fundamentais que, sem a transparência necessária e clareza em seus objetivos, podem representar riscos à saúde financeira do Departamento de Água e Esgoto e prejuízo aos consumidores". Seu parecer ainda deve passar pelo plenário.

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5 COMENTÁRIOS

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  • Deoclécio
    15/02/2024
    Isso pq o IPTU de Bauru é um dos mais caros do país!!!! Barbaridade!
  • Déia
    15/02/2024
    Dar um cheque assinado em branco, é muito perigoso, ainda mais, em ano eleitoral! Parabéns Chiara pelo o excelente papel de agente fiscalizadora que compete ao cargo de Vereadora! Carregamos uma herança enorme de problemas pq os Vereadores, não fiscalizavam!
  • Geraldo
    15/02/2024
    Troquem o DAE pela Sabesp! Em Agudos não falta água e há o tratamento de esgoto! Infelizmente, o DAE já era!
  • Tati
    15/02/2024
    É muito bonito uma política jogar o problema em políticos passados!!!! Parabéns!!! Essa enrolação vimos há décadas (mais de 40 anos)!!!!! Viva Bauru, a terra sem limites!
  • Jorge Hamilton Quatrina
    15/02/2024
    Todos os Projetos e Planos Viários dentro do Município devem ser vistos e estudados por Setores COMPETENTES, TIPO FACULDADE DE ENGENHARIA E ARQUITETURA, ECONOMIA, ETC...E AINDA SERVIRÃO COMO ESTUDO DE \"CA$O\", PARA OS ESTUDANTES. QUE PODERAM DAR IDEIAS INOVADORAS E GRATUITA$ A CIDADE SEM LIMITES...Por exemplo, a Rotatória do Trevo da Rodovia Mal Rondon X AV.Matozinho,( final da Getúlio, É A ROTATORIA COM O M2 MAIS CARO DO BRASIL , para que ? Para fazer fila de carros quando chegam em Bauru para vê-la! Só Por Deus ! Agora inauguraram a \"VICE Now\", do Mary Dota e temos que sair da av.Duque de Caxias e fazer um \"Rotária Tur\" para entrar na Rondon...CADE VOCÊS VERE \"A DOR \" EX...???