ENTREVISTA

Jorge Sebastião dos Santos; a história a partir da farda

Por Tisa Moraes | da Redação
| Tempo de leitura: 5 min
Laylla Fiore
Jorge Santos também fez faculdade de história e geografia
Jorge Santos também fez faculdade de história e geografia

Aos 8 anos, após ganhar do pai o capacete do avô, combatente da Revolução Constitucionalista de 1932, Jorge Sebastião dos Santos começou a nutrir duas de suas grandes paixões: a segurança pública e o colecionismo aliado à história. Dez anos depois, ingressou na Polícia Militar e atuou em Santos antes de fixar-se definitivamente em Bauru.

Na cidade, também foi professor de história e geografia, fotojornalista, radiocomunicador e, em 2013, vereador, tendo participado das tratativas para a instalação do Bom Prato local. Já aposentado, decidiu dedicar-se à criação do Museu Histórico e Militar de Bauru, que 'nasceu' em 9 de julho de 2022.

Desde então, já passaram pelo local, na quadra 12 da rua Antônio Alves, mais de 17 mil visitantes. São mais de 20 mil itens em exposição, como os relacionados à Revolução de 32 e à Segunda Guerra Mundial, e alguns deles raros, como a farda dos Dragões da Independência, do Exército Brasileiro, e da Guarda Nacional, da época do Império.

Nascido em Silveiras, Jorge, 58 anos, é casado com Edilene e pai de Hugo, Lisandra, Laura e Jorge Jr., de quem diz ter sempre recebido apoio. Nesta entrevista, ele relembra momentos marcantes de sua trajetória, como no dia em que foi baleado e quando realizou uma prisão inesperada, e fala sobre o que o move a manter o museu, bem como sua exposição itinerante, que já passou por mais de 350 cidades. Leia os principais trechos.

JC - Conte um pouco sobre sua origem.

Jorge - Nasci em Silveiras, no Vale do Paraíba, mas morei em São Paulo até 18 anos, quando entrei na Polícia Militar. Meu pai era barbeiro e, com 14 anos, me ensinou a cortar cabelo. Trabalhei com ele por um ano e fui trabalhar em um salão próprio no Itaim Paulista. Com 18 anos, em 1985, vim de trem com 160 homens fazer escola de soldados em Bauru sem conhecer a cidade. Eu me formei em seis meses e um amigo, o Sílvio, colocou meu nome, sem eu saber, e de outros 11 em uma lista para trabalhar em Santos. Lá, fiquei até 1988.

JC - O que você fazia lá?

Jorge - Policiamento ostensivo. Era época da nova Constituinte e o governo queria aproximar a polícia da comunidade, então, tinha o radiopatrulhamento padrão, mudaram a farda, de cáqui para o cinza bandeirante, uma transformação total. Certa vez, o Sílvio e eu estávamos em São Paulo e nos deparamos com dois elementos armados, que tinham assaltado um banco e estavam com um malote, na Radial Leste. Houve troca de tiros e, quando fui afastar uma mulher grávida em um ponto de ônibus, fui baleado no peito. Começou a sair sangue pela boca, nariz, ouvido e achei que ia morrer. Um médico, major da PM, estava no local, me socorreu no helicóptero da polícia e fez minha cirurgia. Fiquei internado por 15 dias e, em dois meses, já tinha voltado ao trabalho.

JC - E de Santos, você foi para onde?

Jorge - Pedi transferência para Bauru, porque tinha gostado da cidade. Fui trabalhar no Choque, que fazia policiamento preventivo daqui até a fronteira com o Mato Grosso do Sul. Também atuei, por muito tempo, na barbearia do quartel, simultaneamente ao trabalho no Choque. Atuei em casos interessantes, como o de três indivíduos que cometeram duplo homicídio em Botucatu e fugiram para Bauru. Eles assediaram uma mulher na rua e ela me abordou na viatura. Peguei os três e levei na Base Centro. Em seguida, um delegado e mais dois policiais civis passaram em uma viatura e os convidei para tomar um café. E eles estavam procurando justamente aqueles três homens.

JC - Seguiu nesta função até se aposentar?

Jorge - Também trabalhei na Base Móvel, na área central. Em 2013, eu era suplente de vereador e, com o afastamento do Carlinhos do PS para tratamento de saúde, assumi no lugar dele por dois meses. Na época, consegui trazer o Bom Prato para Bauru, por meio do secretário adjunto da Secretaria de Desenvolvimento Social do Estado, o Henrique Almirates. O Pedro Tobias também teve influência grande. E também fiz a devolução do monumento da Revolução de 32, que estava no Cemitério da Saudade, para a sede do Comando de Policiamento do Interior 4 (CPI-4). Depois, fui trabalhar na secretaria com o Almirates. Fiquei por cerca de um ano e voltei a Bauru.

JC - Foi quando começou a se dedicar mais a contar a história das forças de segurança?

Jorge - Com 8 anos, meu pai me deu o capacete do meu avô, que participou da Revolução de 32. E as histórias contadas sobre ele pelo meu pai, que foi policial civil, me inspiraram a ser PM e começar minha coleção. Fui guardando itens, ganhando outros e, com amigos, tendo como maior incentivador o coronel Galdino, do Museu Histórico da PM em São Paulo, montei o Acervo Militar de Bauru. Há 15 anos, faço exposições itinerantes e já passamos por mais de 350 cidades. Ganhei muitas peças de pessoas cujos parentes participaram destes fatos históricos, ganhei a obra de reforço da estrutura do prédio, a energia solar. Hoje, temos mais de 20 mil itens expostos e somos o único museu que abriga peças da Marinha, Exército, Aeronáutica e PM. Temos, ainda, a maior coleção de notas e moedas dentro de museu no Brasil, cerâmicas indígenas de mais de 500 anos e peças de outros fatos marcantes, personalidades, migrações, profissões. E abrimos espaço para a Feira Ubá e o Clube Numismático de Bauru.

JC - O que te move a fazer este trabalho?

Jorge - Já fazia exposições para o 4.º Batalhão, quando estava na PM. E, em 1989, fui fazer faculdade de história e geografia. Dei aulas durante seis anos no Stela Machado. Sempre gostei de colecionismo e acho importante contar nossa história, assim como compartilhar conhecimento para que os jovens possam entender o futuro e fazer a diferença. Meu desejo é que o museu se torne um centro de referência de museologia no Estado. Temos até tanque de guerra, mas não temos espaço. Por isso, a ideia é continuar crescendo.

O que diz o presidente do museu:

'Temos mais de 20 mil itens e somos o único museu que abriga peças da Marinha, Exército, Aeronáutica e PM'

'Acho importante contar nossa história para que os jovens possam entender o futuro e fazer a diferença'

'Meu desejo é que o museu se torne um centro de referência de museologia no Estado. A ideia é continuar crescendo'

Jorge Santos em 2013, na Machado de Mello, quando trabalhava na Base Móvel
Jorge Santos em 2013, na Machado de Mello, quando trabalhava na Base Móvel
Jorge Santos, no Jardim Europa, após entrega de cestas básicas, no final da década de 1990
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Jorge Santos (jeans) 'reviveu' a Revolução de 32 com o Tiro de Guerra de Itacaré
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Jorge Santos (1º à esquerda), ao lado da sobrinha Ana, com os filhos, Hugo, Laura, Jorge Jr. e Lisanda e a esposa Edilene
Jorge Santos (1º à esquerda), ao lado da sobrinha Ana, com os filhos, Hugo, Laura, Jorge Jr. e Lisanda e a esposa Edilene

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