ENEM 2023

Enem 2023: Modelos prontos de redação podem atrapalhar desempenho de estudantes e afetar

Por João Victor Teófilo |
| Tempo de leitura: 4 min
Divulgação
 Enem deste ano, que aconteceu no último domingo (5) e recebe sua segunda etapa neste domingo (12)
Enem deste ano, que aconteceu no último domingo (5) e recebe sua segunda etapa neste domingo (12)

Mais de 3 milhões de estudantes do Brasil todo realizaram, no último domingo (5), a primeira parte do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2023, respondendo a 90 questões de duas áreas do conhecimento: Ciências Humanas e suas tecnologias, e Linguagens e suas tecnologias, além, claro, da redação.

Temida por muitos candidatos, a redação tem pontuação de 0 a mil e obter um bom resultado pode ser um diferencial para o candidato. Neste ano, o tema, que sempre é uma surpresa, se voltou para as mulheres e teve como temática a invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil.

Para Leila Felipini, professora do curso de Letras e Tradução no Centro Universitário do Sagrado Coração (Unisagrado), em Bauru, e mestre em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem, o tema deste ano é bastante significativo e contempla uma realidade até o momento pouco discutida.

“Trazer essa temática para o Enem demonstra a intenção de que temáticas como essa sejam mais discutidas e que esse tipo de trabalho, em específico, deixe de ser ignorado pela nossa sociedade”, afirma.

Para Rosilene Bombini, professora de Letras no Unisagrado e integrante da Comissão Assessora Especial das Licenciaturas (CALIC), do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), o tema é importante e segue o padrão de anos anteriores, já que é pouco discutido. No entanto, é justamente pela invisibilidade que é tão necessário pensar a respeito.

“A mulher sempre fez o trabalho de cuidado, desde sempre, detém essa "missão" de cuidar dos filhos, dos pais, enfim... da família. E não é algo que se reconhece”, avalia Bombini. “Assim, refletir sobre esse tema torna-o público, enfatiza a necessidade de reconhecimento desse ‘trabalho invisível’, e até de uma política pública que se dedique a essa causa”.

Não é segredo que, para se sair bem na redação do Enem, o aluno precisa estar preparado e devidamente treinado para que o desempenho seja satisfatório. No entanto, é necessária muita prudência no processo de estudos, especialmente no mundo digital, onde diversos professores, grandes escolas preparatórias e empresas de correção de redação prometem, nas redes sociais, fórmulas milagrosas e roteiros prontos para uma pontuação acima da média. Sem os cuidados necessários, o resultado pode ser frustrante.

Nayane Mensato, professora de Língua Portuguesa para alunos em fase de vestibulares e especialista em gestão educacional, afirma que, quando o tema é divulgado, profissionais da área aguardam ansiosamente para comentarem e, muitas vezes, detalham modelos do que é esperado do aluno. Porém, alguns modelos desconsideram fatores importantes, como a não formação dos alunos, o suporte das redes de pesquisa, o tempo hábil e a não pressão de prova. Para ela, é neste ponto que mora a irresponsabilidade desses profissionais, que pode afetar até mesmo a autoestima de alunos após a prova, quando estes procuram por modelos para verificar se, de fato, a redação que escreveram estava dentro do ‘esperado’.

“Quando o aluno sai da prova e lê esse apanhado de modelos prontos, acaba, muitas vezes, não se reconhecendo, questiona-se se partiu do ponto certo, se usou os melhores repertórios, enfim, geram-se inseguranças que não são, em nenhum momento, positivas aos vestibulandos”, afirma Mensato. “Além disso, ao lerem comentários, modelos feitos pelos próprios cursos e/ou professores o aluno se vê em dúvidas, desiste no meio do caminho e muitos não chegam a sequer prestar a prova no segundo dia de aplicação”.

Ainda segundo a professora, ao focar apenas em modelos prontos, sem regras de maleabilidade expressiva, o aluno deixa a criatividade de lado, assim como a liberdade de expressão e a capacidade de governar-se pelos próprios meios, o que não é recomendado e passa longe dos resultados esperados pelos alunos.

“Toda redação preza pela autonomia do aluno. Ele tem liberdade de escolher os argumentos nos quais se basearão. Cada aluno é um ser único, cada aprendiz pode ter sua redação bem avaliada quando escolhe os caminhos que quer seguir, obviamente dentro dos parâmetros exigidos na frase temática e regras dispostas no edital”.

Mensato avalia que uma forma de se obter um bom resultado na redação é conhecer bem o estilo da prova, além de fazer leituras de repertório sociocultural durante o percurso de estudos.

“O Enem é uma prova que exige do aluno, além do conhecimento adquirido ao longo do ensino médio, muita calma e inteligência emocional”, finaliza.

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