Totalitarismo - quando a conversa acaba

Por Hugo Evandro Silveira | 04/12/2022 | Tempo de leitura: 3 min

Pastor Titular - Igreja Batista do Estoril. E-mail: hugoevandro15@gmail.com

Em tempos de turbulências políticas e sociais, nada melhor do que pesquisar os termos das preposições, da forma como Aristóteles definiu desde os primórdios das categorias; devemos procurar os conceitos, ao invés de ficar usando os termos com conotações duvidosas. É preciso se acalmar e encontrar os conceitos para que o diálogo seja preciso. No caso do termo Totalitarismo, ele tem sido confundido com outros termos como despotismo, tirania ou ditadura, apesar de todos possuírem raízes no autoritarismo e na violência, mas cada um desses possuem as suas especificidades.

HANNAH ARENDT

Arendt (1906-1975) foi uma filósofa extremamente importante, que atuou a partir do fim da primeira metade do século 20. Um dos seus principais focos foi na filosofia política, trazendo abordagens rigorosas, do ponto de vista conceitual, do tema Totalitarismo. Em 1973 ela publicou a sua premiada obra "Origens do Totalitarismo - Anti-Semitismo, Imperialismo, Totalitarismo" (Companhia das Letras). Trouxe nessa obra a definição conceitual do significado do Totalitarismo no entendimento de suas origens. Segundo Arendt, a origem do Totalitarismo não está nos Impérios antigos como o Romano, nem mesmo na raiz da Tirania ou do Despotismo, tampouco nas estruturas da Ditadura. Hannah Arendt assegura que o Totalitarismo é um conceito do século 20 e que, como modelo público moderno, tanto o Comunismo quanto o Nazismo apresentam o mesmo princípio.

DEFINIÇÕES

Tirania é o exercício de uma ditadura que não reconhece o ordenamento jurídico, o princípio de uma norma jurídica, por isso o tirano exerce a sua autoridade de forma ilegítima, uma vez que não se submete a uma constituição, a uma lei. O tirano exerce o seu poder sobre a lei. É diferente do Totalitarismo, que exerce o seu autoritarismo sob o ordenamento jurídico, sob o poder da lei, dentro das regras de uma carta magna. Em seu livro, Arendt apresenta Adolf Hitler como exemplo de um modelo totalitário. Segundo a autora, absolutamente, em nenhum momento Hitler violou a norma da lei de seu país. Ele atuou dentro da "Constituição de Weimar", no máximo legitimado pelas brechas constitucionais. Isso também é diferente de uma Ditadura, que atua além da Constituição nacional. O déspota, igualmente, é aquele que exerce a sua violência de maneira arbitrária e opressora, fora da lei magna.

TOTALITARISMO

Numa sociedade plural existem várias ideologias, várias visões políticas, sociais, religiosas - numa sociedade democrática existem fatias distintas representando os diversos comportamentos, suas liturgias, costumes, culturas, pensamentos e etc. Arendt comenta que o totalitarismo dá a sua cara quando são sacrificadas todas as outras partes em favor de uma só parte, usando meios legais. O Totalitarismo irá se impor no sentido de que toda a realidade deverá ser compreendida por uma única visão, apenas um olhar. Uma única parte irá totalizar as outras partes, tornando-se um grande todo contra todas as outras perspectivas. O Totalitarismo, quando ascende ao poder, se impõe com força de destruição da pluralidade, para que todos se concentrem na mesma cosmovisão. Portanto, estamos falando de uma total inabilidade política com as outras perspectivas. Assim, o pensamento totalitário é homogêneo, demolidor das pluralidades.

ACABOU A CONVERSA

A lógica totalitária é: se todos pensarem igual, tiverem a mesma ideia, acabou-se a briga, o conflito. Nesse aspecto, quem pensa diferente deve ser isolado, linchado, eliminado, excluído, cancelado, afinal o indivíduo na contramão se comporta contrário à "unidade da nação". Em seu conceito, o totalitarismo não se define como inimigo da pátria, da lei; ao contrário, se vê como promotor da unidade da nação. Contudo, apresenta uma solução rápida para a controvérsia do mundo, se mostrando extremamente simplista, ineficiente e vil ao banalizar a existência dos seus discordantes. O Totalitarismo acaba com a conversa, com o diálogo, afinal todos devem pensar a mesma ideia, todos devem ser concordantes nos assuntos mais importantes. No mundo totalitário não há discordantes, não há discussões, finda-se a dialética. Num mundo totalitário, até mesmo sob a égide da lei, a conversa acaba. Todos se tornam títeres. É preciso rejeitar o Totalitarismo. O Totalitarismo é a morte do pensamento. Frente a esse perigo é significativo lembrarmos das palavras do nosso Senhor: "Se o Filho vos libertar, verdadeiramente serão livres" (João 8.36)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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