Copa do Mundo

Por Por Carlos Brunelli | 20/11/2022 | Tempo de leitura: 3 min

Nos próximos trinta dias, a atenção de bilhões de pessoas ao redor do planeta estará voltada para uma pequena porção peninsular à beira do Golfo Pérsico - o Catar. Esse diminuto emirado árabe, com extensão territorial equivalente à metade do menor estado brasileiro - Sergipe - e independente há apenas 50 anos, teve sua economia embasada na extração de pérolas marítimas, até 1940. Tudo mudou com a descoberta de abundantes jazidas petrolíferas, capazes de manter a produção atual pelos próximos 37 anos e ainda de recolocá-lo brevemente como o maior exportador de gás natural do mundo. Toda essa riqueza que, literalmente, jorra do solo, impulsionou a construção de nababescas torres comerciais, museus de arquitetura futurista e mesquitas douradas por fora e por dentro. "Vi todas as obras que se fazem debaixo do sol, e eis que tudo é vaidade e correr atrás do vento" (Eclesiastes 1.14).

Porém, o brilho reluzente da moeda e o fulgor do forte sol desértico nos espigões envidraçados aparentemente ainda não conseguiram jogar luz sobre as trevas de seu vigente sistema político-religioso, o qual provoca paradoxos como o de permitir a poligamia para os homens, mas, ao mesmo tempo, condenar à morte por lapidação (apedrejamento) o adultério. A mulher é considerada pessoa de segunda categoria, pois nas varas de família o testemunho dela vale metade ao de um homem, como se fora ela meio ser humano. À parte de tais questões sociais, o diminuto emirado exibirá, da metade de novembro à metade de dezembro, um desfile sem precedentes de egocentrismos, vanglórias e culto ao dinheiro. Serão horas destinadas a exaltar o luxo e a riqueza; egos elevados e soberba. Decerto não faltarão reportagens enaltecendo os padrões faraônicos dos requintados hotéis onde ficarão hospedadas delegações futebolísticas; outras repercutindo as altíssimas diárias cobradas de abastados turistas; ainda outras comparando os estratosféricos salários de alguns atletas que atuam na Europa aos dos que praticam o mesmo esporte em outras comunidades do planeta. Predominarão imagens de imensos iates ou transatlânticos atracados ao longo do golfo. Um deslumbre frívolo acometerá a mente de muitos espectadores com esses temas e certamente ocupará boa parte do assunto nos noticiários e nas rodas de conversa, amortecendo a cruel realidade do barbarismo catarense nas relações humanas. "Porque o Senhor não vê como o ser humano vê. O ser humano vê o exterior, porém o Senhor vê o coração" (Eclesiastes 16.7).

Somente a construção de cada um dos sete estádios erigidos especialmente para abrigar a competição de apenas um mês despendeu, em média, um bilhão de dólares. Embora seja impossível estabelecer o custo total do evento, estudos e relatórios diversos estimam algo em torno de 200 bilhões de dólares. Passada a euforia da Copa do Mundo, é difícil imaginar a serventia futura desses palcos bilionários num país em que o futebol profissional de alto nível ainda não passa de uma miragem: "Tudo não passa de vaidade de vaidades" (Eclesiastes 1.2). É fácil, no entanto, idealizar o que essa imensidão de recursos poderia impactar na pesquisa científica voltada para a saúde; impulsionar programas de combate à miserabilidade, à fome ou à preservação do meio ambiente e, por consequência, à vida humana. O Evangelho de Mateus relata, em seus capítulos 5 e 6, um conjunto de ideias deixadas por Jesus para nossa vida. Dentre elas, o ensinamento de que "Não acumulem tesouros sobre a terra, onde as traças e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam, mas ajuntem tesouros no céu ... Porque, onde estiver o seu tesouro, aí estará também seu coração" (Mateus 6.19-21). Trinta dias de mergulho em uma fantasia oriental, recheada de palacetes e personagens elevados à condição de heróis, como um conto das mil e uma noites.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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