Pesca & Lazer

História de Pescador: Chicletes


| Tempo de leitura: 4 min

Caros leitores, antes de contar mais um “causo” de pesca , quero agradecer publicamente a um grande incentivador do meu trabalho, um amigo realmente muito especial, que não poupa elogios ao ler minhas histórias verdadeiras, achando-as engraçadas. Estou falando do companheiro João Ulisses, um banespiano aposentado como eu, alegre, apreciador das coisas boas da vida, entre elas a pesca. Trabalhamos juntos por muitos anos no nosso Banespa, e o João, mais do que ninguém, sempre soube da minha vontade de fazer com que os amigos esboçassem um sorriso, contando piadas ou escrevendo estas histórias inacreditáveis. Aliás, estas histórias são escritas por mim, com a mais pura intenção de alegrar os inúmeros leitores, pescadores ou não, deste dinâmico jornal. Falando nisso, vamos nos transportar, como em um passe de mágica, para as margens do lendário rio Batalha, logo abaixo da ponte rodoviária, na Rodovia Marechal Rondon.

Um dia ensolarado, uma manhã radiante, um domingo para se pescar. Foi no verão passado. Chegamos cedo, eu e meu companheiro Vaidi Stevanato, da antiga Cofermat, empresa que funcionava ali pertinho do Serve-Serve (Banespa), na rua Treze de Maio (bons tempos!).

A vara de bambu sustentava uns dois metros de linha 40, tendo na extremidade, depois da chumbada, um anzol médio encoberto por uma apetitosa (para o peixe!) e suculenta minhoca. O balde, forrado com terra úmida, estava repleto delas, conseguidas que foram, nos fundos de um quintal cheio de árvores, lá pros lados da Bela Vista. Nós dois (eu e o Vaidi) com equipamentos idênticos começamos a competição.

Repentinamente, o Vaidi soltou a voz feito um Pavaroti, desesperado: “Ajuda aqui, depressa!” O bambu parecia que quebraria, sustentando a linha mais esticada do que férias de vereador! Uma loucura! Conseguimos tirar da água uma bela piapara, no esplendor de seus quatro quilos! Uma bitela que fazia gosto! “Deve ter mais desse tamanho!”, falou o amigo Vaidi.

Era tanta a emoção que, sem poder evitar, na luta para segurar o peixe, meteu o pé no balde cheio de minhocas! O fundo do rio recebeu com surpresa aquele pesado recipiente, que deixava escapar dezenas de minhocas que nadavam direto para suas bocas famintas! “Xi! Acabou a pescaria!”, gritei desolado. Como ficamos sem isca, ocorreu-me uma brilhante idéia. “Vamos usar a goma de mascar, (o popular chiclete), já que tenho alguns comigo”, lembrei.

Dito e feito. Ficamos mastigando sem parar aquela borrachinha perfumada e doce. Varas na água novamente e, grudadinho no anzol, aquele chicletinho sem-vergonha! Nem beliscava! Foi então que pousou calmamente sobre a vara de bambu do Vaidi - sabem o quê? – um belo preto-azulado e brilhante tiziu! Que pássaro interessante! Não parava quieto, saltava verticalmente, dando uma cambalhota no ar e voltava para a mesma posição, sobre a vara. Fantástico!

Já o amigo Vaidi, mais velho e experiente do que eu, conhecia aquele passarinho desde os velhos tempos em que caçava com estilingue, lá pras bandas do rio Bauru. “Ele faz sempre isso. Dá um salto e volta pro mesmo lugar!”, explicou o bom companheiro. E num desses saltos, só pra sacanear, o Vaidizão puxou a vara para o lado e o pobre do tiziu, ao voltar do salto, não achou nada sob os seus miúdos pezinhos, coitado. Tchigummm!

Sem esperar, caiu no rio de tal forma que afundou nas águas, mais parecendo uma peteca de penas pretas! No mesmo instante, minha vara (a de bambu), que estava quietinha até então, ajudando a dar banho no chiclete, envergou para a água violentamente com a linha zunindo feito uma flecha, fazendo o maior alvoroço! Puxei-a para cima com vigor, sentindo o peso enorme! Foi com muito suor que consegui tirar do rio mais uma enorme piapara. Enorme e barriguda! Isso mesmo, caros amigos!

Ela, além de seu portentoso tamanho, estava com a barriga esbranquiçada e inchada feito uma bexiga! Nossa curiosidade era tamanha que resolvemos abrir a barriga da piaparona, pois não estávamos na piracema e ela não poderia estar pronta para desovar. Dito e feito. Foi só a lâmina afiada cortar o couro quase transparente daquele peixe que se ouviu: ploft! Justamente uma bola de chiclete estourou e para maior surpresa de nossas vidas, o tiziu saiu da barriga da piapara, voando são e salvo (e seco!). Calma que eu explico.

Quando o tiziu caiu na água, afundou e ficou preso no anzol, junto com o chiclete. A doida da piapara, que nunca tinha visto uma isca com penas pretas, abocanhou tudo aquilo com tal violência, que engoliu de vez o pobre do tiziu, grudadinho no chiclete. O infeliz do tiziu entrou pela boca do peixe, que não é tão grande, fazendo a maior pressão e esticando o chiclete, formando uma linda bolha de ar, que salvou sua vida (eta tiziu de sorte!).

Entenderam? Confesso que não foi fácil, até para nós, acreditar em tudo aquilo que havia acontecido. E o pior é que a única coisa que temos para provar a veracidade do ocorrido são algumas caixinhas amarelinhas e vazias do delicioso “Chicletes Adams”.... Não é mesmo, meu caro Vaidi?

(Fernando Lucilha Júnior é pescador, contador de histórias e colaborador da seção Pesca & Lazer)

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