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Aparelho é nova arma contra gagueira

Gabriel Ottoboni
| Tempo de leitura: 4 min

Distúrbio na fluência e na temporalização da fala, a gagueira atinge cerca de 1,6 milhão de pessoas no Brasil, segundo a Associação Brasileira de Gagueira (ABG). Mas há tratamento para o distúrbio e este é o objetivo da campanha que está sendo realizada nesta semana no Brasil todo, aproveitando o Dia Internacional de Atenção à Gagueira, comemorado hoje. Uma tecnologia desenvolvida nos Estados Unidos promete ser a mais nova arma contra a gagueira. O SpeechEasy foi desenvolvido baseado no “efeito coro” e pode reduzir o problema em até 80%.

Ele é um dos vários tratamentos existentes para o distúrbio. O Brasil é o único país da América do Sul que disponibiliza o aparelho para venda, porém o preço é alto: custa aproximadamente R$ 9 mil.

Com cerca de 2,5 centímetros e muito leve o aparelho, introduzido na região denominada conduto, proporciona o retorno da voz do paciente com alguns decréscimos de segundo através de uma minúscula antena. “Ele escuta a fala com um pouco de atraso”, explica a fonaudióloga Liliane Campos Stumm. Ou seja, escutando a própria voz, fala-se melhor.

“O aparelho não é uma cura, mas uma possibilidade melhor”, destaca. A recomendação é que seja utilizado nos momentos em que é necessária a comunicação. No País, o produto passou por quatro anos de testes acompanhados pelo Instituto Brasileiro de Fluência (IBF) para comprovar sua funcionalidade. Além disso, foi realizada uma pesquisa nos Estados Unidos com 489 pacientes, onde 80% dos usuários de disseram satisfeitos com o aparelho – mais de 90% recomendaram seu uso.

Segundo o Instituto Brasileiro de Fluência (IBF), a gagueira pode ser genética (55% dos casos) ou causada por lesão cerebral (45%). Fonoaudióloga há 25 anos, Liliane explica que a gagueira é resultado da falta de sincronização hemisférica do cérebro, que minimiza o potencial da fala.

É normal crianças com dois anos e meio apresentarem disfluência. “Isso é um fator fisiológico que tende a desaparecer com o amadurecimento neurológico da criança e o aumento do repertório”, afirma.

A fonoaudióloga destaca que atitudes inadequadas dos pais podem comprometer o desenvolvimento da fala dos filhos. Nos casos em que a criança nem sempre encontra a palavra correta para expressar seu pensamento, mandá-la parar para respirar, por exemplo, pode acarretar em futuros problemas.

“Dizer para a criança pensar antes de falar ou criticar seu comportamento pode piorar. A criança não sabe o que fazer e tenta alternativas para mudar esse padrão, tencionando mais a fala”, ressalta. “O ideal é não chamar a atenção e deixá-las falar”, orienta. Informações sobre a gagueira podem ser obtidas pelo telefone (14) 3223-1075.

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Aparelho reduz problema

Querer que a criança acompanhe o raciocínio e a velocidade da fala dos adultos também é prejudicial, de acordo com a especialista. “Se os pais pontuarem isso como problema, pode deixar o filho inseguro e com medo de falar, favorecendo a presença da gagueira”, alerta a fonaudióloga Liliane Campos Stumm.

A melhor saída, segundo Liliane, é falar mais devagar, ouvir o que a criança tem a dizer e estimular o máximo a fala, contando histórias e dando tempo de escuta, principalmente para aquelas que possuem irmãos mais velhos. “Eles também falam mais, melhor e não dão oportunidades para os menores falarem”, ressalta.

Se na infância a gagueira é considerado um processo fisiológico, na fase adulta pode ser caracterizada como uma doença. A disfunção pode prejudicar o relacionamento social da pessoa e até seu desempenho profissional. Pode causar vergonha, raiva e frustração. A boa notícia é que há vários tratamento. Os de linha fonoaudiológica tendem a enfocar a aprendizagem motora de técnicas a serem usadas durante a fala.

Os de linha psicológica tendem a focar os aspectos emocionais que interferem na fala da pessoa que gagueja.

A eficácia do tratamento depende da base teórica que o fundamenta, do profissional que o aplica e também da pessoa que gagueja (em termos do seu empenho ao tratamento e do quanto de participação genética e psicológica existe na gagueira daquela pessoa em particular). Mas os especialistas ressaltam que nem toda pessoa que gagueja precisa se tratar, segundo a ABG.

A opção pelo tratamento vai depender do nível de gravidade da gagueira –as pessoas que apresentam um nível leve podem não achar o tratamento necessário. O tratamento é indicado quando a gagueira prejudica sua vida, o que tende a estar diretamente relacionado ao nível do distúrbio.

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Principais sintomas

* Repetição de sons e sílabas. Exemplos: “A-a-atenda o telefone, por favor” e “Atenda o te-telefone, por favor”. Este é um sintoma da dificuldade de ligar os elementos na fala.

* Prolongamento de sons. Exemplo: “Atenda o telefone, por ffffavor”. Este é um sintoma da alteração na temporalização da fala.

* Bloqueio de sons (ocorre quando o som fica “travado”, “preso”). Exemplo: “Atenda o [silêncio de alguns segundos] telefone, por favor”. Este é um sintoma da alteração na temporalização da fala.

* Ocasionalmente essas disfluências também ocorrem na fala dos falantes fluentes, mas aparecem em menor número, sem tensão ou movimentos associados e, principalmente, são seguidos de pronta recuperação da fluência.

Fonte: Associação Brasileira de Gagueira

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