Articulistas

Contribuição para a reflexão

Jacob Hunzicker
| Tempo de leitura: 3 min

A Internet é pródiga em todos os assuntos, embora dependa - e muito - do filtro de quem nela pesquisa. Dentre os muitos que lotam as caixas de mensagem dos internautas, “peneirei” este que, por ser oportuno para o momento que vivemos, divido com os leitores desta coluna. Maiakovski, poeta russo “suicidado” após a revolução de Lenin, escreveu, ainda no início  do século XX: “Na primeira noite eles se aproximam sorrateiramente e colhem uma flor de nosso jardim e não dizemos nada. Na segunda noite já não se escondem, pisam as flores, matam nosso cão e não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E porque não dissemos nada, já não podemos dizer nada.”

Depois dele, nessa mesma linha de reflexão, Berthold Brecht escreveu: “Primeiro levaram os negros. Mas não me importei com isso. Eu não era negro. Em seguida levaram alguns operários, mas não me importei com isso. Eu também não era operário. Depois prenderam os miseráveis, mas não me importei com isso porque eu não sou miserável. Depois agarraram uns desempregados, mas como tenho meu emprego também não me importei. Agora estão me levando, mas já é tarde. Como eu não me importei com ninguém, ninguém se importa comigo.”

Já Martin Niemöller, símbolo da resistência nazista, escreveu em 1933: “Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu. Como não sou judeu, não me incomodei. No dia seguinte vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista. Como não sou comunista, não me incomodei. No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico. Como não sou católico, não me incomodei. No quarto dia vieram e me levaram; já não havia mais ninguém para reclamar...”

Recentemente, por ocasião de um triste episódio no Rio de Janeiro, o jornalista Cláudio Humberto escreveu: “Primeiro eles roubaram nos sinais, mas não fui eu a vítima; depois incendiaram os ônibus, mas eu não estava neles; depois fecharam ruas, onde não moro; fecharam estradas, mas eu não as uso; depois fecharam então o portão da favela, que não habito; em seguida arrastaram até a morte uma criança, que não era meu filho... “ e eu acrescentaria: em seguida a mais um acidente de trânsito o motociclista morre....e era meu filho!!!

É estarrecedora a constatação de que após mais de cem anos, desde Maiakovski, ainda nos encontremos tão desamparados, inertes e submetidos aos caprichos da ruína moral dos poderes governantes que vampirizam o erário com mensalões, propinas em meio a meias, cuecas, malas etc., formando, às vistas de todos, quadrilhas de colarinhos brancos que aniquilam as instituições e deixam a milhares de cidadãos apenas as migalhas das famigeradas “bolsas” disso e daquilo. Usuários do “óleo de peroba” compram o silêncio destes e se perpetuam no poder, porque o grito de protesto, a palavra, há muito se tornou inútil na garganta dos miseráveis. E as ações visando acabar com essa bandalheira, então, nem sequer saem do peito, já cansado de posar com bola vermelha no nariz. Até quando?... Espero (mais uma vez) que somente até o resultado das próximas eleições.

O autor, Jacob Hunzicker, é pedagogo, especialista em educação, supervisor pedagógico e professor aposentado

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