Polícia

Quadrilha com "QG" no Vale do Igapó resgataria preso de facção em hospital

Marcele Tonelli
| Tempo de leitura: 5 min

Deic/Divulgação
Eduardo Lapa dos Santos, 43 anos, era egresso do sistema prisional, onde cumpriu 24 anos de pena por roubos
Fotos: João Rosan
Jalecos e um arsenal de grosso calibre, contendo pistolas e fuzis, foram apreendidos com a quadrilha em Bauru

Os três jalecos brancos de enfermagem e um estetoscópio encontrados pela PM em poder da quadrilha desarticulada em 17 de outubro, em um “QG” (quartel general) montado em uma chácara no Vale do Igapó em Bauru, não seriam usados para atacar caixas eletrônicos em um hospital da cidade. Eles serviriam de disfarces para o resgate de um preso de alta periculosidade em um hospital de Botucatu (100 quilômetros de Bauru). A informação é do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) de São Paulo, que comunicou nessa quinta-feira (19) a prisão de Eduardo Lapa dos Santos, 43 anos, homem apontado como o porta-voz, ou seja, a liderança fora dos presídios, de uma facção criminosa que atua no Estado.

Detido na última quarta-feira (18) no município de Salto (272 quilômetros de Bauru), no período da tarde, Lapa seria o articulador da ação criminosa que teria como objetivo a liberação de Marcelo Vieira, 44 anos, vulgo Capetinha, traficante conhecido da zona norte da Capital e acusado de ser o mandante dos ataques a policiais militares e bases da PM em 2006 – ocorridos após o fracasso do plano de resgate de Marcos Camacho, o Marcola, líder da facção na época.

Condenado a cumprir 156 anos de prisão, Capetinha está preso em uma unidade de segurança máxima em Presidente Venceslau, mas, na semana em que o grupo estava em Bauru, em outubro, ele seria transferido para um presídio em Avaré (120 quilômetros de Bauru) a fim de tratar de um problema que possui em uma das pernas em um hospital de Botucatu.

Com os disfarces, o grupo, fortemente armado, planejava realizar atentados contra os funcionários do presídio que fazia a escolta na unidade médica e resgatar Marcelo Vieira.

Prisão do porta-voz

Segundo o Deic, Lapa não esteve em Bauru, mas coordenava as ações da Capital. Ele foi preso em casa, uma chácara de luxo em um condomínio fechado na estância turística de Salto, que possui aproximadamente 113 mil habitantes. Ele estava na companhia da esposa e, segundo a assessoria de imprensa do Deic, descobriu que estava sendo monitorado e já estava de malas prontas para fugir.

Com ele, os policiais apreenderam seis celulares, que passarão por perícia, R$ 4 mil em dinheiro e um Toyota/Corolla, um dos quatro carros que ele possuía.

Ainda conforme o órgão, a operação para o resgate de Capetinha chegou a ser monitorada três meses antes do ataque pela 6.ª Delegacia do Patrimônio, que investiga facções criminosas, com trabalhos coordenados pelo delegado Fábio Sandrin. “A equipe preparava a ofensiva para prender a quadrilha quando, por meio de denúncia anônima, policiais militares descobriram o esquema e agiram”, afirma a assessoria.

Os policiais, inclusive, chegaram a monitorar reuniões entre Lapa e outros integrantes da organização, nas quais falavam sobre a ação a ser realizada em Bauru.

Hierarquia do crime

Mortos no confronto com a PM em 17 de outubro, os moradores de Bauru que participavam da quadrilha, Adriel Lopes Custódio, 23 anos, vulgo Lágrima, e Leandro Mancuso Andrade, 36 anos (ambos possuíam antecedentes criminais), teriam sido “convocados” para dar suporte à ação por Pedro Luiz da Silva Moraes, 44 anos, vulgo Chacal, que foi preso e é apontado como o responsável por angariar participantes e coordenar as ações.

Na hierarquia da facção, Chacal era submisso à Lapa e tinha como braço direito Anderson Conceição de Lira, 32 anos, vulgo Profeta, que foi o terceiro morto durante o tiroteio. Lágrima e Leandro seriam os responsáveis pelo aluguel da chácara, pela ocultação de armas e pela logística e deslocamento dos integrantes durante a estadia do bando na cidade.

Bauru teria sido escolhida como QG pela localização estratégica, ponto de cruzamento de importantes rodovias, visto como possibilidades de rotas de fuga pelo grupo.

Ademir Laurindo de Moraes, 38 anos, vulgo Mi, também preso na data, era superior aos dois últimos integrantes citados e ajudava a coordenar as ações criminosas da facção.

Ronaldo Neias Carvalho Filho, 36 anos, seria a ligação do grupo com a cidade de Avaré e o responsável por ajudar a arquitetar a ação no hospital de Botucatu. Os outros presos são Alexandre Monteiro de Lima, 38 anos, Alexandro Santos Souza, 31, e Luiz Felipe Santini, 29, todos da Capital.

A Polícia Civil de Bauru pediu segredo de justiça no caso e não informou detalhes. Mas, segundo o JC apurou, outra pessoa que estava foragida desde o confronto já estaria com a prisão decretada. Os presos responderão a inquérito por receptação, associação criminosa, porte de arma de fogo de uso restrito e tentativa de homicídio.

Relembre o caso

Conforme noticiado pelo JC, a equipe da PM formada por cerca de 15 homens foi recebida a tiros ao localizar a chácara alugada pelo bando, na alameda Poriguá, no Vale do Igapó, na tarde de 17 de outubro.

Armados, quatro criminosos chegaram a pular o muro, mas a casa já estava cercada e três acabaram alvejados a alguns metros de distância. Alexandro, Ademir e Luiz Felipe estavam dentro do imóvel, não ofereceram resistência e foram presos.

Ronaldo, Pedro e Alexandre, que chegaram em um Cobalt com placas de Paulínia, logo após o confronto policial, também se renderam. O helicóptero Águia e cães farejadores tentaram encontrar o integrante da quadrilha que fugiu, mas nenhum suspeito foi localizado.

A quadrilha estava munida de um arsenal de grosso calibre, incluindo dois fuzis, quatro pistolas, um revólver e cerca de 100 munições de diversos calibres.

Na chácara, também foram encontrados um colete balístico, mais de R$ 3 mil em dinheiro, três jalecos de enfermagem, um estetoscópio, roupas e calçados sociais, além de veículos.

Comentários

Comentários