Wagner Teodoro

O valor do Pan

18/08/2019 | Tempo de leitura: 3 min
JCNET

O Brasil teve uma participação histórica nos Jogos Pan-Americanos de Lima. O País igualou sua melhor colocação na competição, com a segunda posição geral, feito obtido apenas uma vez antes, em São Paulo-1963. Se pensarmos que Estados Unidos campeão é barbada, os brasileiros venceram a disputa que realmente existe. Além disso, o Brasil quebrou todos os seus recordes de medalhas, com um total de 55 ouros e 171 pódios, superando as marcas do Pan de 2007, no Rio de Janeiro, quando contabilizou 52 medalhas douradas e 157 pódios. De quebra, ainda conquistou 29 vagas olímpicas para Tóquio-2020.

Vi muita gente desmerecendo o Pan e dizendo que o feito não significa muito. Eu discordo. O Pan tem seu valor próprio. Pela tradição, pela visibilidade, é uma competição importante, sim. Rafaela Silva, campeã olímpica, ficou emocionada ao ganhar seu primeiro pan-americano, por exemplo. Pergunte a Renan Torres, revelação do judô do Sesi Bauru, quanto vale seu ouro em Lima. O Pan é o momento em que o grande público acompanha atletas que vencem Mundiais e outras competições importantes de suas modalidades e que, muitas vezes, não têm o destaque na mídia que a competição continental possui. O Pan tem status de segunda maior competição, só perdendo para as Olimpíadas.

Pés no chão

Resultado a ser comemorado e guardado com carinho. Mas, claro, sem ilusão. E o discurso do Comitê Olímpico Brasileiro foi comedido e apropriado. Todos os objetivos em Lima foram alcançados e houve muita serenidade na análise. Estamos em momento decisivo do ciclo olímpico e o feito no Pan foi grande, mas Olimpíadas é outra história. Muitas modalidades ainda precisam garantir vaga em Tóquio no próximo ano. Há avanço, mas é fundamental um salto de qualidade para se pensar em bom desempenho em 2020. Eis o desafio.

E o futuro?

Outra questão pertinente é que o expressivo resultado do Brasil em Lima é fruto de investimentos feitos principalmente até 2016, ano das Olimpíadas do Rio. Depois dos Jogos, houve um esvaziamento no apoio ao esporte no Brasil. Portanto, ainda estamos surfando na onda pré-Rio-2016. Há três anos, as federações, confederações, clubes e associações têm enfrentado dificuldade na renovação de contratos e obtenção de patrocínio, seja com empresas privadas ou públicas. Somente neste ano, o aporte de empresas estatais ao esporte caiu 50%. Aqui vale um dado: 82,4% dos medalhistas no Pan recebem Bolsa Atleta. Dá a dimensão do quanto este dinheiro faz diferença para o esportista. Seria fundamental que houvesse continuidade do patrocínio para a formação e também alto rendimento. E não defendo aqui, evidentemente, uma “farra” com dinheiro público. Sei que o País vive uma crise. Mas um investimento regrado, que refletirá em cidadania e resultados.

Se houve irregularidades e corrupção em confederações, a solução não é cortar a verba, mas fiscalizar, acompanhar onde o dinheiro público está sendo investido. Até mesmo porque as estatais têm verba destinada a marketing e propaganda, pois disputam espaço no mercado com outras marcas. Associar sua imagem a uma equipe vencedora é obviamente uma maneira positiva de se mostrar. Pense no vôlei e logo terá em mente a empresa estatal que o apoia. Assim como a natação e o atletismo. Isso vale também para o setor privado. Caso persista o cenário de se cortar investimento no esporte, os ciclos olímpicos para 2024 e 2028 serão bastante prejudicados.

 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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