Wagner Teodoro

Salve, ofensivistas

08/09/2019 | Tempo de leitura: 3 min
Wagner Teodoro

O Campeonato Brasileiro tem trazido, quiçá, uma boa nova para o futebol nacional. Em um momento de extremo otimismo, eu digo uma "era dos ofensivistas". Sim, porque parece que, finalmente, teremos uma mudança no cenário pragmático e defensivista que domina o "esporte bretão" praticado por aqui há algumas temporadas. Os dois melhores times até aqui no Nacional têm em comum serem ofensivos, proporem jogo. Agir e não apenas reagir. Ousam atacar e não ficam simplesmente esperando o erro adversário para contragolpear. Algo que contraria retrancas que são tão comuns. As goleadas de 1 a 0. Quem sabe teremos uma "idade ofensiva" se contraponto ao "período retranqueiro" que ditou as regras, infelizmente.

Flamengo e Santos, os dois líderes do Brasileirão, são duas equipes que dão prazer de ver jogar. Ambos têm proposta de agredir, jogam quase sempre com marcação alta, apostam em velocidade e marcam muitos gols. Os técnicos Jorge Jesus e Jorge Sampaoli são os expoentes máximos em terras brazucas do jogo bonito, que enche os olhos. O Santos, recentemente, oscila, até porque não tem o elenco estelar e profundo que o Flamengo possui. O time ganha e perde, mas não tem jogo chato do Santos. No Flamengo, com a chegada de jogadores importantes, como os laterais Rafinha e Filipe Luís, o zagueiro Pablo Marí e o meio-campista Gerson, Jesus encontrou o equilíbrio defensivo necessário para fazer o rolo compressor de seu ataque engrenar. O time tomava muitos gols, não toma mais. O Flamengo joga o melhor futebol, hoje, no Brasil.

Coincidência?

Talvez não passe de mera coincidência, mas os dois técnicos lideres do Brasileirão são estrangeiros. Um é português e outro, argentino. De Sampaoli praticamente tudo já se falou, dos métodos, da personalidade, das estratégias e constantes mudanças nas escalações. O Santos tem a marca de seu treinador. Jesus era menos conhecido no Brasil. Foi uma aposta de coragem do Flamengo de romper com o que havia no cenário nacional e os resultados vêm encantando quem gosta de bom futebol. O Mister não costuma rodar tanto o elenco mesmo disputando mais de uma competição. Poupa um ou outro. Há algumas rodadas no Brasileirão, ganhando o jogo e tendo compromisso na Libertadores no meio de semana, ao invés de tirar os principais jogadores que iniciaram o jogo já pensando no mata-mata, fez substituições justamente colocando os outros atletas com status de titulares que estavam no banco. Algo diferente do habitualmente que se vê.

Será que não se trata de uma proposta diferente do que reina por aqui há muito tempo de fazer futebol? Vejo também outros técnicos optando pelo ofensivismo. Rogério Ceni montou um bom Fortaleza dentro dessas características. Agora, inicia trabalho no Cruzeiro, em uma mudança total de rumos do clube, que rompeu com o estilo defensivista e reativo de Mano Menezes. Cuca esboça um São Paulo leve, rápido, agressivo. Fernando Diniz tem uma maneira toda própria de trabalhar, mas possui um DNA ofensivo do qual não abre mão.

Eficácia

Os resultadistas podem torcer o nariz. Mas o bom futebol, a ousadia, a criatividade não estão dissociados dos títulos. Eu sempre vou preferir o estilo Pep Guardiola ou Jürgen Klopp ao de José Mourinho. E, óbvio, todos são vitoriosos e competentes. É uma questão de gosto. E é claro que não há nenhuma ingenuidade aqui. O imediatismo dita as regras no nosso futebol, é preciso resultado a qualquer custo. Trabalhos e técnicos são triturados rapidamente em caso de insucesso.

Mas torço para que um time ofensivo, corajoso, ganhe o Brasileirão. Equipes campeãs sempre criam paradigmas. Para o bem e para o mal. A Itália campeã mundial de 1982, em certo sentido, fez mal ao futebol. O auge disso foi a Copa de 1990, com líberos e um futebol conservador e poucos gols (a pior média de um Mundial). O Barcelona de Guardiola fez bem ao futebol, unindo talento, ousadia e jogo coletivo. Agora, o mesmo ocorre com o Liverpool de Klopp. Guardadas as devidas proporções, que assim seja no Brasil.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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