Wagner Teodoro

O time a ser batido

06/10/2019 | Tempo de leitura: 3 min
Wagner Teodoro

É o atual campeão. Mas não é por isso. É pelo futebol que pratica, pelo padrão de jogo que tem. O River Plater é o time a ser batido no continente. Em plena semifinal da Libertadores, isso fica claro. O River é uma equipe acostumada a decidir e tem toda a cultura futebolística argentina, que tanto nos dificulta nas competições internacionais. Mas tem mais. É um time ofensivo, mas consistente. Fica claro o trabalho do técnico Marcelo Gallardo, aliás trabalho longevo, já há cinco anos no comando dos Millonarios. Perde jogadores, mas mantém o alto nível. Diante do Boca, em pleno Superclássico, o domínio foi nítido e também clara a distância do futebol praticado pelos dois arquirrivais. Uma equipe com uma proposta moderna, com intensidade, que age, tem velocidade, joga dentro da escola argentina de troca de passes, com deslocamento constante, movimentação. O outro apostando em jogar nos erros do adversário, reagindo. E teve chances também. Cada um atua como pode, mas o River conta com um futebol mais agradável e um responsável direto por isso: um técnico competente, que deve, mais cedo ou mais tarde, assumir a seleção argentina. O River é o melhor entre os quatro semifinalistas. Isso quer dizer que o Boca não pode reverter a desvantagem (que ficou barata) de dois gols? Não. O imponderável faz parte do futebol. É provável que reverta? Não. É impossível um dos times brasileiros, Flamengo ou Grêmio, que são bons diga-se, sair campeão em jogo único na final. Também não. Porém, na minha opinião, o River é favorito. Só ressaltando: o River é o time a ser batido, não um time imbatível.

Reciclador

O trajetória longa de Gallardo à frente do River remete a analisar outro bom trabalho entre os quatro semifinalistas. O de Renato Gaúcho no comando do Grêmio. E ambos têm pelo menos uma característica em comum. Os dois clubes foram buscar em ídolos o técnico "ideal" para seus respectivos momentos. E foram bem-sucedidos. O River, que saiu de um buraco de rebaixamento em 2011 para se reiventar e ter em Gallardo o técnico que o levou novamente às glórias. No caso de Renato Gaúcho, o Grêmio, sem tanto dinheiro na época, apostou em um treinador caseiro para uma reconstrução. Desde 2016 no clube, o treinador se mostrou um "reciclador". Pegou jogadores em baixa ou menosprezados em outros clubes e os recuperou. Outro dia vi uma entrvista de Renato na qual ele dizia que ainda não encontrou jogador que não pudesse recuperar. Não sei se é exagero, mas a lista de nomes que chegaram ao clube em baixa e que renasceram em suas mãos é extensa: Cícero, Cortez, Léo Moura, Maicon, Paulo Vitor, André, Douglas… Vendo o jogo de quarta e reparando nos elencos, a disparidade de propostas de trabalho é gritante. Do lado do Flamengo, um grupo estelar, repleto de jogadores caros, de seleção. Do lado do Grêmio, muitos atletas que foram desprezados e tido como "perdidos", além de garotos revelados na base tricolor, outra característica do trabalho de Renato. A filosofia do Grêmio em contratar apostas confiando em seu técnico reciclador rendeu títulos e ascensão do time, hoje um dos mais fortes da América do Sul.

Dança dos técnicos

Enquanto a fase final da Libertadores dá exemplo de bons trabalhos de treinadores com tempo para colocar suas ideias em prática, assistimos a uma verdadeira "dança dos técnicos" no Brasileirão recentemente. Cuca, Oswaldo de Oliveira, Rogério Ceni, Zé Ricardo e Enderson Moreira deixaram São Paulo, Fluminense, Cruzeiro, Fortaleza e Ceará, respectivamente. O Cruzeiro dá mostras de total falta de planejamento. Fica a impressão de que o único plano é escapar de qualquer forma do rebaixamento. Saiu Mano Menezes e chegou Ceni, uma mudança total de concepção de futebol. Seis semanas depois, Ceni dá lugar a Abel Braga em mais uma guinada de conceito. Conceito? Enquanto isso, o time já começa a patinar na "areia movediça", que teima em prender algum grande na degola todo ano. Se olhar para cima, lá está o Fluminense, outro que já teve Fernando Diniz e Oswaldinho e segue sem engrenar.

 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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