Wagner Teodoro

O crepúsculo dos deuses

13/10/2019 | Tempo de leitura: 3 min

"Estou na fase final. É triste, mas é a realidade". Deparei-me com esta declaração de Rafael Nadal nesta semana, em entrevista ao site espanhol Sport. Ele se referia à sua trajetória nas quadras. Ela me fez pensar que estamos nos aproximando de um "crepúsculo dos deuses" no tênis masculino. Roger Federer, Rafael Nadal e Novak Djokovic caminham para a reta final de suas carreiras. Nadal está com 33 anos e dá mostras, até pelo seu estilo de jogo, que o corpo já não corresponde à altura. Roger Federer tem 38 anos e, apesar de toda a capacidade técnica, não deve jogar por muito mais tempo, ele mesmo admite. Novak Djokovic, 32 anos, é o mais novo, mas tem um histórico de lesões contra o qual luta há um bom tempo. Em boas condições, é o que tem mais tempo pela frente. Porém, já não é nenhum jovem. O certo é quando estes "monstros" saírem de cena termina uma era no tênis. Haverá uma mudança profunda no circuito e um vácuo ficará, de tal dimensão que é de se pensar se surgirá tão logo alguém com tamanha envergadura para ser o herdeiro do "Big Three". Eu penso que a sombra dos três gigantes persistirá por alguns anos até que o tênis consiga virar a página definitivamente.

Era de ouro

O domínio de Federer, Nadal e Djokovic no circuito é tamanho que, nos últimos 15 anos, apenas cinco jogadores conseguiram quebrar a hegemonia do "Big Three" em algum momento na disputa de torneios do Grand Slam. São eles Andy Murray, 32 anos, duas vezes campeão em Wimbledom (2013 e 2016) e uma do US Open (2012); Stan Wawrinka, 34 anos, campeão no Australian Open (2014), Roland Garros (2015) e US Open (2016); Marin Cilic, 31 anos, campeão do US Open (2014); Juan Martin Del Potro, 31 anos, campeão do US Open (2009); e Marat Safin, 39 anos, campeão do Australian Open (2005). Não por acaso cito as idades dos heróis que conseguiram superar a "Magnífica Trindade", pois nenhum jogador nascido a partir da década de 90 conseguiu levantar a taça de um Grand Slam ainda, o que é outro fato impressionante. No feminino, por exemplo, Bianca Andreescu, campeã do US Open neste ano, tem 19 anos. Naomi Osaka, que venceu no ano passado, 21. E todas as quatro campeãs do Grand Slam em 2019 nasceram de 1991 para cima. E não é porque não existam bons jogadores jovens no masculino. É que estamos diante da "Era de Ouro" do tênis, com três gênios em ação ao mesmo tempo, dominando um circuito com centenas de tenistas, boa parte deles com mais vigor físico pela idade. É um fenômeno certamente.

Inigualável

Dos "deuses" do tênis em ação, Roger Federer, pela idade, é o mais próximo de se aposentar. O gênio deixou nas entrelinhas a possibilidade de se retirar já na próxima temporada. Tomara que não. Mas, infelizmente, vai chegar o momento da despedida. Federer é o melhor tenista da história. Não só pelos resultados incontestáveis, mas pela técnica refinada, pela execução irrepreensível, pelo equilíbrio emocional, pela atitude, pela elegância e eficácia do jogo. Ele, como todo mestre, faz coisas que parecem impossíveis em sua modalidade. Mas vai além, como um verdadeiro deus do esporte, faz o impossível parecer simples. Vê-lo em ação dá a impressão de que qualquer um poderia fazer o que ele põe em prática, tamanha a perfeição de seu jogo. Isso o diferencia até mesmo de Djokovic e Nadal, que têm um estilo mais físico, com sofrimento mais visível, apesar de igualmente eficaz e louvável. Nadal saiu de um jogador imbatível no saibro para ser um tenista perigoso em qualquer superfície, intenso, poderoso, forte psicologicamente, com raça e persistência que desanimam seus adversários. Djokovic tem velocidade, potência, precisão, e é um às da defesa e contra-ataque. Com a cabeça boa, é um cara extremamente letal. Mas Federer é completo. Vê-lo é ter uma aula de tênis. Mesmo que seja superado em número de títulos de Grand Slams por algum jogador, no panteão do tênis, Federer é o deus maior.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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