Conversando com o Bispo

Haverá fé sobre a Terra?

Perguntas para dom Sevilha podem ser enviadas para o e-mail: pascom@bispadobauru.com.br É importante colocar nome completo e endereço. Diocese de Bauru: www.bispadobauru.org.br

20/10/2019 | Tempo de leitura: 3 min
Dom SevilhaBispo Diocesano de Bauru

Estamos vivendo tempos novos maravilhosos, mas justamente por serem novos, levam um tempo para serem assimilados. O tempo e o travesseiro são os melhores conselheiros, já diziam nossas avós.

Estamos vivendo tempos difíceis. Assistimos a uma mudança de época e não simplesmente a uma época de mudanças. Há uma enxurrada de novidades, sobretudo tecnológicas, que alteram sensivelmente nossa maneira de agir e de pensar. Novidades e mudanças sempre aconteceram na história da humanidade, mas não com tamanha rapidez e grande quantidade como agora. É um tsunami cultural.

Como está a fé? Quem dera que ela estivesse impávida e tranquila navegando acima das ondas. Mas não! A fé e tudo mais que a rodeia - religiões, igrejas, dogmas, costumes morais, liturgias, tradições, hierarquias, etc. - também estão convulsionados pelo profundo terremoto epocal que estamos vivendo.

Jesus se fez uma pergunta intrigante há dois mil anos atrás: "- Mas o Filho do Homem, quando vier, será que ainda vai encontrar fé sobre a terra?" (Lc 18,8). Não consigo entender como os ateus e os semiateus ou os cristãos semiateus, torcem para o desaparecimento da fé. Sem a fé o mundo vai visivelmente se deteriorando, inclusive fisicamente, veja a situação ecológica e climática. Sem a fé o homem estraga a si mesmo e a tudo o que estiver ao seu redor: os relacionamentos ficam deteriorados, o ar e a água ficam poluídos, as florestas devastadas e os animais extintos. E os ateus aplaudindo a diminuição da fé e, contraditoriamente, preocupados em salvar a nossa Casa Comum.

Sem a fé, isto é, sem Deus acima e dentro de nós ("Ele está no meio de nós"), restam o nada acima de nós e o vazio dentro de nós. Não havendo nada acima de nós, resta-nos agarrarmo-nos a nós mesmos como solitários e desesperados autossalvadores. Resumindo, caímos no salve-se quem puder. Cada um por si e Deus por ninguém. Estabelece-se a lei da selva, a lei do mais forte, onde vencerá o mais competente, o mais eficaz. No mundo sem fé não há lugar para os pequenos e perdedores! Aqui está a causa da multidão de pessoas descartadas e excluídas da sociedade.

- Haverá fé sobre a terra? A pergunta de Jesus nos questiona profundamente. Creio que a força da fé, por ser dom de Deus, sempre triunfará contra as forças do mal. Talvez, fazemos uma interpretação exageradamente negativa a respeito da diminuição da fé, enquanto que, na realidade, ela não está diminuindo, mas apenas evoluindo e surgindo com as roupas e costumes novos da modernidade. O Espírito Santo sempre foi muito criativo e surpreendente ao longo da história da Igreja. Ninguém consegue engaiolar o Espírito Santo, mesmo sendo "gaiolas de ouro teológicas", pois o "vento sopra onde quer, você ouve o barulho, mas não sabe de onde ele vem, nem para onde vai. Acontece a mesma coisa com quem nasceu do Espírito" (João 3, 8).

Deus está agindo poderosamente no nosso mundo atual. Afinal, Ele é o Senhor da história humana. Nós cremos que Deus conduz com amor e sabedoria, tanto a história global como a história pessoal de cada um de nós. Deus nos conduz também através dos nossos erros e pecados. Nada é capaz de amarrar as mãos fortes do Pai celestial que estão eternamente abertas para nos amparar e, com infinita ternura, abraçar cada um de nós seus filhos. Cabe a nós, mesmo quando estamos sofrendo e não entendendo nada, tranquilamente dizer em profundo silêncio: "Sei em quem acreditei!" (2Tm 1,12).

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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