Wagner Teodoro

O padrão gringo

15/12/2019 | Tempo de leitura: 3 min

O sucesso e os títulos de Jorge Jesus à frente do Flamengo e o bom futebol apresentado pelo Santos sob comando de Jorge Sampaoli criaram uma espécie de "padrão gringo" no futebol brasileiro. A proposta de jogo do português e do argentino, de futebol intenso, ofensivo, agradável, parece que determinou um modelo que encantou não só torcedores, mas influencia a escolha dos dirigentes no planejamento para a próxima temporada. De repente, trazer um estrangeiro passa a ser a melhor das ideias. Nomes como Eduardo Coudet, Sebastián Beccacece, Ariel Holan, Jorge Almirón, todos argentinos, e o espanhol Miguel Ángel Ramírez, estiveram ou estão em pauta em diversos clubes brasileiros como opção preferencial para 2020.

Eu penso que os clubes não estão errados. O sucesso de Jesus e Sampaoli não deixa de expor uma certa medicriodade que reinava no futebol brasileiro. Muitos treinadores simplesmente resultadistas, por incapacidade, temor de ousar, para manter o emprego ou por filosogia de trabalho mesmo. E clubes que se contentavam em não perder ou ganhar pela diferença mínima. Ninguém que conhece futebol pode pensar que não se trata de resultado. Trata-se, sim. Mas de alguma maneira a temporada "oxigena" os raciocínios, mostrando que nem sempre, em campo, os fins justificam os meios. Ou seja, é possível ganhar sem ser covarde ou praticar o antifutebol. Jogar para frente, como sempre ditou nossa cultura futebolística, além de bonito, pode ser eficaz. Por mais estranho que seja, parece que nosso futebol havia se esquecido disso.

Nem sempre funciona

A vinda de técnicos gringos, com ideias diferentes, propostas e filosofias de trabalho próprias e independentes, profissionais talvez com menos apego ao cargo e mercado aberto, do tipo que vai ousar e, se não der certo, tem pouco a temer, é benéfica. Um futebol que propõe jogo, que aposta em habilidade, com vocação ofensiva, o que está na origem do que sempre se jogou aqui e influnciou treinadores com Pep Guardiola, por exemplo. Um intercâmbio de ideias e concepções de futebol é enriquecedor.

Mas não faço aqui apologia à uma invasão de estrangeiros. Até porque técnico gringo trabalhando no Brasil não é novidade e vários fracassaram. Basta lembrar do São Paulo com Diego Aguirre, Juan Carlos Osorio e Edgardo Bauza. Flamengo com Reinaldo Rueda. Cruzeiro com Paulo Bento. Palmeiras com Ricardo Gareca. Internacional também com Aguirre. Todos treinadores com bons trabalhos, mas que não conseguiram o impacto almejado pelos clubes brasileiros quando os contrataram. Portanto, não é simplesmente importar treinador e sair jogando bem e ganhando títulos. Cartolas de grandes clubes parecem obrigados a trazer um estrangeiro. Só quem nem sempre o que funcionou no "vizinho" vai dar certo na sua "casa". É necessário critério. E nem sempre o problema é técnico. Em muitos casos o correto seria importar dirigentes.

Made in Brazil

Em meio à "febre da renovação" com os gringos, existem bons profissionais atuando no Brasil. Rogério Ceni e Tiago Nunes são dois jovens treinadores que têm conseguido conciliar futebol ofensivo, gols, com títulos. Nunes tem um imenso desafio no Corinthians. Ceni recusou proposta do Athletico, ex-clube de Nunes, para permanecer no Fortaleza. Renato Gaúcho, mais experiente, tem feito isso no Grêmio também. Sim, porque reitero, como diz o clichê, futebol é resultado. O desafio é atingi-lo com eficiência e qualidade. Ser competitivo sem abdicar de jogar. Aí, sim, é um trabalho memorável.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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