Conversando com o Bispo

Seja bom e o ano será feliz

Perguntas para dom Sevilha podem ser enviadas para o e-mail: pascom@bispadobauru.com.br É importante colocar nome completo e endereço. Diocese de Bauru: www.bispadobauru.org.br

29/12/2019 | Tempo de leitura: 3 min
Dom Sevilha Bispo Diocesano de Bauru

C omeçando o novo ano, todos nos enchemos de expectativa e desejo de que o próximo ano seja um ano bom. Sendo também o tempo uma criação de Deus, ele só pode ser sempre bom, pois Deus não faz nada mau. O tempo é bom, o próximo ano será bom, há uma bondade intrínseca em todas as coisas, pois "Deus contemplou toda a sua obra e viu que tudo era muito bom" (Gênesis 1, 31).

O tempo passa. Para os ateus, cada ano que passa é visto como um ano a menos de vida. Para nós crentes, cada ano que passa é um ano a mais de vida. Aliás, a nossa contagem dos anos não termina nesta vida, mas atravessa a nossa irmã morte adentrando de maneira triunfal na vida eterna, onde o relógio humano não consegue mais computar aquele "eterno hoje" que é o céu. O relógio de Deus não funciona como o nosso relógio, embora o nosso orgulho, queira que Deus acerte o relógio d'Ele pelo nosso. Devemos nós, nos ajustar ao tempo de Deus, e não o contrário.

Com o passar do tempo alguns começam a se perguntar: o que eu fiz da minha vida, não fiz nada de importante, desperdicei minha vida. Outros estão ainda esperando a vida "acontecer"; para esses, o tempo vai passar, eles vão morrer, e terão a sensação de que a vida ainda não "aconteceu".

Não sei o porquê, mas as festas de final de ano acentuam o pessimismo em algumas pessoas. Na retrospectiva interior deles, passa um filme só contendo desgraça e tristeza. Todavia, o pessimista dirá que ele não é pessimista, mas, sim, "realista". Curiosamente o otimista dirá a mesma coisa: "sou realista". Afinal, temos duas realidades ou, apenas, dois olhares sobre a única realidade? Podemos acrescentar uma terceira realidade: a realidade sobrenatural da fé. Claro que a realidade é uma só, porém, ela não é monolítica ou um círculo perfeito. A realidade, como nos lembrou o Papa Francisco, é poliédrica, composta de muitos lados, ângulos, luzes e sombras. Resumindo, na realidade encontram-se todos juntos e misturados: a graça e o nosso pecado, o trigo e o joio enroscados, o humano e o divino encarnados, a religião, a política, a oração, a economia...

Deus conduz a história. O Espírito Santo harmoniza todas as coisas com a sua luz e renova a face da terra. Cabe a nós, deixarmo-nos conduzir por Deus, isto é, lançarmo-nos confiantemente nos braços do Pai e fazer o pequeno máximo que podemos realizar. Deus pode transformar com o seu poder o nosso pequeno grão de mostarda em árvore frondosa com flores e frutos. Deus pode aproveitar a porção de fermento dos nossos pequenos gestos e fermentar grandes transformações. Deus pode usar as nossas duas pequenas moedas, como aquelas da viúva do Evangelho (Lc 21,1) e, pelo seu poder, construir grandes coisas. Cabe a nós crentes, humildemente, depois de termos feito tudo o que devíamos fazer, dizer: "somos servos inúteis, apenas fizemos o que devíamos ter feito" (Lc 17, 10).

O ano novo será bom e feliz para aqueles que tiverem uma alma boa e feliz. Para o estômago ruim, nenhuma comida é boa. A culpa não será do cozinheiro, ou da qualidade do alimento, pois o problema está no interior doente que não consegue saborear e absorver as coisas boas. Quando o interior do coração está saudável, até as ervas amargas que a vida oferece, tornam-se remédio que purifica e fortalece os músculos da alma. Nosso orgulho e egoísmo nos deixam sozinhos à mesa comendo comida ruim, mas Jesus está batendo à nossa porta dizendo: "Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, eu entrarei em sua casa para comer junto com ele, e ele comigo" (Apocalipse 3, 20).

Feliz Ano novo!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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