Wagner Teodoro

Futebol periférico

05/01/2020 | Tempo de leitura: 3 min

Segundo o Transfermarket, site alemão especializado em transferência de jogadores, entre os 100 clubes de futebol com elencos mais caros do planeta apenas cinco sul-americanos aparecem. O melhor colocado deles é o River Plate, que figura na 70ª colocação, com time avaliado em 142,30 milhões de euros. Na sequência do ranking aparecem Flamengo, 83º, elenco de 125,70 milhões de euros; Boca Juniors, em 85º, 123,10 milhões de euros; Grêmio, 92º (111,30); Palmeiras, 94º (107,55). A listagem é liderada pelo Manchester City, que tem elenco estimado em 1,30 bilhão de euros, tendo Liverpool (1,19 bilhão), Barcelona e Real Madrid, ambos com 1,07, e Paris Saint-Germain, com 1,01 bilhão, fechando um seleto "top five" de clubes com elencos bilionários. Tottenham, Bayern de Munique, Chelsea, Atlético de Madrid e Juventus completam os dez elencos mais caros deste globo que habitamos.

A listagem, de certa forma, traduz o que o poderio de marcas mundiais conseguem colocar em prática para ratificar seu domínio de corações e mentes em todos os continentes. Claro, alguns deles contam com mecenas injetando dinheiro e, muitas vezes, levantando suspeitas e quebrando o fair play financeiro. Mas os gigantes europeus impõem um círculo virtuoso, onde investimentos astronômicos em elencos se traduzem em alto nível, bom espetáculo, fidelizam admiradores e fazem dinheiro. Verba oriunda, entre outras fontes, de acordos extremamente bem costurados com mídia em diversas plataformas, direitos de nomes de estádios, premiações e patrocínios fortes em busca da visibilidade certeira que vem justamente porque montam excelentes elencos.

'Ninguém vê'

Se não causa surpresa os clubes que lideram a lista, afinal, em rankings de equipes esportivas mais valiosas do mundo todos os milionários europeus estão presentes, divindo colocações com franquias das quatro superligas da América do Norte, há também a constatação de que grandes clubes brasileiros têm menos poder de fogo do que equipes apenas medianas como Hoffenheim, Watford, Crystal Palace, Sassuolo, Getafe, Cagliari, entre outros, que são meros coadjuvantes em suas ligas nacionais. A constatação óbvia é que a forte moeda e o poderio econômico de seus países tornam estas equipes mais competitivas no mercado. Mas, para além disso, não haveria também outras explicações? O modelo de gestão das ligas em relação, a própria administração dos clubes, a aposta certeira em marketing…

Não sou especialista, mas penso que São Paulo, Corinthians, Internacional, Santos, que não se situam entre os 100 elencos mais valiosos, poderiam ter situação financeira mais cômoda e força no mercado de contratações em outras circunstâncias de organização. Até porque o Campeonato Brasileiro é "desconhecido" no Exterior. Durante o Mundial de Clubes ficou claro mais uma vez o quão obscuro é o que ocorre por aqui. O Flamengo em uma temporada espetacular era uma incógnita para o Liverpool. Como o Brasileirão não é transmitido para vários países, sem exagero, pouco se sabe lá fora sobre os clubes daqui. Sem exposição, como tornar potencial em realidade e explorar marcas do quilate dos clubes citados?

Mudança de mentalidade

Uma transformação exigiria uma mudança de mentalidade dos dirigentes nacionais. A formação de uma liga, com os próprios clubes gerenciando seus interesses, por exemplo. NBA e NFL mostram bem o quanto é possível lucrar somente com direitos de transmissão de jogos, evidentemente guardadas as devidas proporções de economia entre os dois países. Os direitos de transmissão não são monopólio de determinada emissora e as ligas podem ser vistas em várias plataformas. Mais ou menos o que o NBB busca no Brasil. No futebol brasileiro, o Clube dos 13, a única organização que partiu dos próprios clubes para defender seus interesses, foi implodida em racha entre presidentes em nome de interesses individuais. E a cada ano nos consolidamos como meros exportadores de commodities. Falta pensar o futebol como um negócio de todos.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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