Conversando com o Bispo

A vida é uma festa

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23/02/2020 | Tempo de leitura: 3 min
Dom SevilhaBispo Diocesano de Bauru

Frei Cristóvão foi um irmão carmelita descalço que, durante muitos anos, no norte da Itália, fora encarregado da "questua", ou seja, aquele que pedia esmola de casa em casa para o Convento. A região era, então, dominada pelos comunistas e o frei sofreu muitas humilhações. Mais tarde retirou-se para o Eremitério em Campiglioni, perto de Florença. Quando tinha quase oitenta anos de idade decidiu vir ao Brasil para "morrer". Eu era noviço quando ele completou noventa anos e, na missa festiva de ação de graças, durante a homilia, o Padre Prior perguntou ao Frei Cristóvão como tinha sido a vida dele. O irmãozinho respondeu, em português macarrônico: "Minha vida foi uma festa!" e, após um instante de silêncio, acrescentou: "Com alguns parênteses..."

Muitos consideram a vida exatamente ao contrário de Fr. Cristóvão, isto é, veem a vida como algo ruim e as partes "festivas" da vida como raras exceções intermitentes. Deus nos criou para a alegria. Santa Teresa dos Andes escreveu que Deus é alegria infinita. A vida eterna sempre foi representada, tanto pela Bíblia como pela cultura popular, como um excepcional banquete, uma esplêndida festa eterna.

As festas da terra, tanto religiosas como civis, existem para nos recordar que a festa é o nosso destino final. Toda a criação foi destinada para a alegria. Os sofrimentos da vida são os intervalos, são as esperas necessárias, as purificações, enfim, são aqueles momentos trabalhosos que antecedem e preparam a festa.

A alegria da alma é um dos frutos do Espírito Santo (Gal 5, 22). Sem a fé, torna-se muito difícil haver alegria verdadeira. Infelizmente, hoje muitos pretendem disfarçar a tristeza da alma com a superficial e momentânea euforia da bebida alcoólica, das drogas, da pornografia, do consumismo. As festas mundanas aprofundam a tristeza na mesma proporção que preenchem, com euforia, o vazio do coração.

São Francisco de Sales, falando da alegria, nos recorda que se trata de uma virtude que os antigos gregos davam o nome de eutrapelia, ou seja, bom humor, espirituosidade, alegria. É o modo de ter uma recreação honesta e amável. É necessário só ter cuidado para não passar das piadas para o escárnio. A zombaria provoca a risada por falta de estima e por desprezo ao próximo; pelo contrário, a piada alegre e a brincadeira provocam a risada por causa da surpresa, as combinações imprevisíveis feitas na confiança e na sinceridade amigável e sempre com muita cortesia na linguagem. Santa Teresa de Ávila dava este conselho para as suas monjas enclausuradas: "Quanto mais santas, mais conversáveis". Um santo triste é um triste santo.

Chesterton escreveu que "o teste da felicidade é a gratidão". Creio que o homem moderno tem pouco sentido de gratidão. Tem sentimento de gratidão aquele que recebeu muito. Tem sentimento de reclamação e cobrança aquele que acha que recebeu pouco. A humildade da fé nos leva a agradecer tudo aquilo que recebemos de Deus e sabemos que temos com Ele uma impagável dívida de gratidão. Quem não tem fé supõe não ter nada para agradecer e, frustrado, acredita ter muito para cobrar e reclamar.

As festas, tanto religiosas como civis, devem ser bem vividas e aproveitadas pelos crentes. O cristão saberá discernir e escolher a alegria sadia e verdadeira que a festa lhe traz. A qualidade da festa vai depender da maturidade e nobreza da alma. Para gente boa, não haverá festa ruim.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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