Contexto Paulista

O futuro das cidades na visão de especialistas (2)

Esta coluna, publicada pela associação Paulista de Jornais pode ser lida e atualizada em www.apj.inf.br - Publicação simultânea nos jornais da Rede Paulista de Jornais, formada por este jornal e outros 13 líderes de circulação no Estado de São Paulo

04/03/2020 | Tempo de leitura: 3 min

Quanto pode crescer uma cidade em tamanho e em habitantes? Como ficará a segurança? Que papel os carros terão nas cidades? Como abordar o turismo para evitar a ruína das cidades? Essas perguntas foram respondidas a um questionário enviado pelo site internacional ElPaís a quatro especialistas globais e publicadas em matéria intitulada "Outra cidade é possível". A última coluna Contexto Paulista resumiu as ideias de dois deles: o arquiteto britânico Norman Foster, ganhador do prêmio Pritzker (1999), considerado o "Nobel da Arquitetura", e Nicholas Negroponte, cofundador do MIT Media Lab. Hoje, é a vez do chileno Alejandro Aravena, também premiado com o Pritzker (2016).

O tamanho da cidade

As cidades, mais do que acumulações de casas, são concentrações de oportunidades de trabalho, de educação, de saúde e de lazer. Deveria se garantir que houvesse cada um desses elementos em vez de apontar para a separação e segregação funcional, para o zoneamento. Uma pessoa não deveria gastar mais de 45 minutos para ir de um lugar a outro. Se há sistemas de transporte eficientes, se pode crescer; se há bairros com multiplicidade de funções integradas, a cidade pode ser comprimida. Se gastamos tempo demais, os técnicos e autoridades devem tomar medidas (restringir crescimento, criar novos centros, eliminar zoneamentos ou investir no transporte público de alto padrão) para que se recupere o sentido que nos fez vir primeiramente para as cidades, que é ter melhor qualidade de vida.

Segurança e sociedade

A origem da insegurança não está associada tanto à pobreza como à desigualdade, que pode ser motivada por razões econômicas, mas também raciais ou religiosas e, portanto, não se corrige pela mera redistribuição de renda. A cidade pode ser ela mesma um atalho para a igualdade: projetos de transporte público, de espaço público, de infraestrutura e de moradia, estrategicamente identificados, podem melhorar a qualidade de vida em um período relativamente curto de tempo. O espaço público é redistributivo por natureza e, por isso, uma ferramenta muito mais potente do que se refugiar em uma fortaleza como estratégia frente à insegurança. Uma visão coordenada e sintética dos investimentos tanto públicos como privados é chave para que a cidade funcione como um ímã e não como uma bomba de tempo, e seja assim capaz de atrair pessoas, ideias e recursos.

O futuro dos carros

Deve ser dada atenção à forma como afeta o bem comum. Um ônibus, por exemplo, leva 100 vezes mais pessoas que um carro, portanto tem 100 vezes mais direito de passagem. As bicicletas e pedestres, apesar de serem individuais, ocupam pouco espaço, são eficientes no uso do espaço comum. Os carros, por outro lado, são como transporte de baixa densidade. Por isso, tanto o espaço designado para os carros como os investimentos públicos que se façam em infraestrutura para seu deslocamento deveriam ser coerentes com sua posição no "ranking de prioridade" do bem comum, bem abaixo na hierarquia. Nós que andamos de ônibus devemos entender que deveremos pagar um imposto em tempo. A melhor viagem motorizada na cidade é aquela que não se faz.

Turismo e população local

O turismo pode ser a manifestação mais visível de que as cidades são hoje uma concentração de oportunidades, e que o problema de fundo é que a capacidade de pagamento do mercado expulsa aqueles que mais necessitam das redes de oportunidades. Deve ser regulado com uma política pública, e não se esperar que seja regulado pelo mercado. Existe uma grande quantidade de ferramentas legais, financeiras e políticas para garantir uma certa diversidade urbana. No que concerne ao projeto, nossa modesta experiência consiste em equilibrar a seguinte tríade: densidade suficientemente alta (para pagar salários caros integrados às redes de oportunidades), em altura suficientemente baixa (para não ter altos custos de manutenção de serviços comuns), com possibilidade de crescimento no tempo (sistemas abertos que permitam melhoras adicionais para aqueles que não têm capacidade de pagamento hoje, mas que poderiam ter no futuro).

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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