Wagner Teodoro

O vírus que a Terra parou

15/03/2020 | Tempo de leitura: 3 min

Suspensão, cancelamento, adiamento… Palavras assim tomaram o noticiário esportivo, principalmente a partir da quinta-feira (12). O motivo foi a pandemia do novo coronavírus, que avança ao redor do globo e causa verdadeiro pânico em vários países. Assistimos, perplexos, ao inimaginável: uma reação em cadeia de confederações, federações, associações de todas as modalidades interrompendo centenas de competições nas mais variadas esferas. Assim, ligas europeias, Conmebol, Fórmula 1, NBA, ATP, COB, Fivb, Uefa, Fiba, COI, MLB, Concacaf e muitas outras pararam. Não fui o único a lembrar de um clássico de Raul Seixas, "O Dia em que a Terra Parou", cuja letra fala que de um sonho no qual as pessoas não sairiam de casa porque saberiam que ninguém estaria aonde iriam, pois seria o dia em que a terra parou. E o "Maluco Beleza" acorda justamente no dia que tinha sonhado. Uma música que sempre foi deleite de imaginação para mim, quando eu era criança. Décadas depois, nos deparamos com situação parecida com a canção. De fato, o mundo continua em movimento, mas o planeta esporte está parando. O que não foi paralisado ocorre sem público, salvo raras exceções. Daria para fazer uma versão, mudando o refrão de Raul para "o vírus que a Terra parou".

Prejuízo

2020 é repleto de grandes eventos e importantes competições. Basta lembrar simplesmente que é um ano olímpico. Além disso, Eurocopa e Copa América têm edições originalmente marcadas para este ano. Fora Mundiais de várias modalidades, Eliminatórias. Cancelamento ou adiamento representam imenso prejuízo financeiro e técnico. Atletas se preparam anos para disputar competições de nível máximo e isso inclui investimento de tempo de treinamento e rotina rígida, e também de dinheiro. Além disso, os eventos são ancorados em muita, muita grana injetada, tanto por governos em infraestrutura quanto por direitos de transmissão e patrocinadores, que fazem imensos aportes para vincularem suas marcas a competições que atraem os olhos do mundo todo.

Portanto, existe certa relutância em simplesmente mexer no calendário esportivo. Para ficar no exemplo do evento maior de 2020, nos Jogos de Tóquio, que começam em 24 de julho (Olimpíadas) e 25 de agosto (Paralimpíadas), as cifras são bilionárias. Estima-se que o Japão gastou até agora US$ 26 bilhões (R$ 125,4 bilhões) para sediar a competição e só em solo japonês já foram vendidas 4,48 milhões de entradas. Além disso, as Olimpíadas são patrocinadas por 80 empresas que desembolsaram, juntas, vários bilhões de dólares para serem parceiras. Por isso, o COI e o comitê organizador resistem tanto em adiar os Jogos.

Saúde

O esporte, assim como a economia global em geral, sofrerá prejuízos imensos com a pandemia de coronavírus. Mas é preciso ter em mente que a vida, a saúde das pessoas, é o óbvio fundamental. O coronavírus não é considerado letal, mas é extremamente contagioso. Em números totais, pode vitimar muita gente. Essa é a verdadeira causa do pânico em alguns países e de todas as medidas que governos vêm tomando pelo mundo. Diante disso, o esporte, que é importante, fica em segundo plano. Sempre muito lúcido, Paulo Autuori deu entrevista durante a semana, dizendo que, se o objetivo é realmente prevenção, deveriam parar todas as competições de uma vez. O treinador lembrou que calendários já foram mudados e cancelados em momentos de guerra, em analogia à "guerra contra o vírus". Mesmo sem público, atletas, comissão técnica e outros profissionais viajam, estão expostos. De fato, se é para fazer sem público, talvez fosse o caso de interromper de uma vez.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

Receba as notícias mais relevantes de Bauru e região direto no seu WhatsApp
Participe da Comunidade

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.