Conversando com o Bispo

A força da ressurreição

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12/04/2020 | Tempo de leitura: 3 min
Dom Sevilha Bispo Diocesano de Bauru

Não é fácil desejar "Feliz Páscoa" nesse momento difícil e estranho que estamos vivendo. Temos a sensação de que o mal é maior do que nós. Porém, ele não é. A força da vida sempre vencerá as forças do mal e da morte.

Jesus, verdadeiro homem e verdadeiro Deus, tomou sobre si as nossas dores, ele vivenciou no corpo e na alma as nossas fragilidades e angústias. A solução, ou a resposta de Deus para o mal e a morte, foi o amor. "Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim" (Jo13,1).

O amor de Deus não é feito de sentimentos ou idealismos, mas é amor concreto e real. Jesus assumiu sobre si as nossas dores, pois "ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos" (Jo15,13). O amor triunfa sempre, pois ele transforma todas as situações. O amor é Páscoa. O amor faz tudo passar da morte para a vida, do mal para a virtude. A Páscoa é o triunfo do amor de Deus que revive, renova, eleva e transforma toda a humanidade e toda criação.

Quem tem fé sabe que, mesmo nesse momento obscuro e difícil, a páscoa está acontecendo, isto é, no miolo da nossa fragilidade, no interior dos nossos medos, no âmago da nossa escuridão, a força amorosa de Deus já está presente e fazendo germinar a vida que terá sua plenitude na eternidade.

Santa Teresa de Ávila compara os nossos momentos difíceis à feia lagarta que, para ser transformada em linda borboleta, deve passar um tempo presa e imóvel dentro de um asfixiante casulo. "Se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, fica só; se morrer, produz muito fruto" (Jo12,24).

O momento difícil que estamos vivendo é também páscoa, isto é, passagem da força amorosa de Deus em nós gerando vida nova e melhor. Será o "novo normal". De fato, para o cristão o novo é sempre normal e a normalidade traz em si alguma novidade sempre. A própria Palavra de Deus nos mostra este paradoxo ao afirmar que "não há nada de novo abaixo do sol" (Ecl1,9) e, pelo contrário, o Senhor afirma: "farei novas todas as coisas" (Ap21,5).

A história humana sempre conviverá com a luta entre o homem velho do pecado e o homem novo regenerado pela graça. O Papa Francisco, sabiamente, nos recorda que "a Ressurreição não é algo do passado; contém uma força de vida que penetrou o mundo. Onde parecia que tudo estava morto, voltam a aparecer, por todo o lado, os rebentos da Ressurreição. É uma força sem igual. É verdade que, muitas vezes, parece que Deus não existe: vemos injustiças, maldades, indiferenças e crueldades que não cedem. Mas também é certo que, no meio da obscuridade, sempre começa a desabrochar algo de novo que, mais cedo ou mais tarde, produz fruto. Num campo arrasado, volta a aparecer a vida, tenaz e invencível. Haverá muitas coisas más, mas o bem sempre tende a reaparecer e espalhar-se. Cada dia, no mundo, renasce a beleza que ressuscita transformada através dos dramas da história. Os valores tendem sempre a reaparecer sob novas formas e, na realidade, o ser humano renasceu, muitas vezes, de situações que pareciam irreversíveis. Esta é a força da Ressurreição" (EG. 276).

Creio que, após o nosso isolamento social, a humanidade renovada se abraçará de maneira mais forte e mais verdadeira como nunca se fez. Será o novo normal. Será a Páscoa acontecendo aqui e agora. Feliz Páscoa.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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