Wagner Teodoro

De incertezas e protocolos

26/04/2020 | Tempo de leitura: 3 min

Com o futebol parado há aproximamente 40 dias, o cenário de futuro incerto começa a não só preocupar, mas a ameaçar os clubes. Por isso, já existe um movimento de pressão para a retomada dos campeonatos, principalmente por parte dos grandes clubes de olho no dinheiro da TV, fonte que secou. É certo que, apesar da pandemia de coronavírus, uma hora a bola vai ter que voltar a rolar. E é preciso ter discernimento e sensatez para que ocorra no momento oportuno e não coloque vidas em risco. É certo também que os times que têm calendário, que estão inseridos nos Estaduais e Nacionais, sobretudo nas Séries A e B do Campeonato Brasileiro, terão algo parecido com aquilo que foi previamente planejado para a temporada, dentro do que a situação permite. Um torneio com 38 rodadas se anuncia cada vez mais certo por compromissos de transmissão e patrocinadores.

Mas serão meses com estádios vazios em todas as divisões. O que vai acarretar a muitos clubes uma combinação de queda de receitas, dívidas pré-existentes e novas despesas. Um time que disputa o Brasileirão, que vai ganhar uma cota razoável da TV, que conta com uma base de sócios-torcedores e que certamente vai usufruir da suspensão do pagamento de alguns tributos governamentais - já está em pleno andamento uma força-tarefa para adiar em um ano as parcelas do Profut, por exemplo - pode pensar em atravessar a tormenta com menos oscilação. Será uma nova realidade, mais "pé no chão", uma readequação dos valores com os quais o futebol trabalhava, mas existe perspectiva. O problema mesmo é para os clubes menores, que já apenas sobreviviam antes do atual cenário. Agora, talvez precisem de "aparelhos" para seguirem respirando.

Protocolos

Entre os planos da Federação Paulista de Futebol para reiniciar o Estadual, a entidade prepara um protocolo de segurança. A cartilha envolveria a possibilidade de período de isolamento dos atletas durante 15 dias no mesmo local antes de retomar as partidas, com testes para Covid-19 pré, durante e pós-quarentena. Um cuidado que englobaria também comissões técnicas e funcionários dos clubes. O diretor médico da FPF, Moisés Cohen, chegou a falar "em regime de concentração utilizado para a Copa do Mundo" e na possibilidade de atletas usarem máscaras. Mas não existem de fato muitas definições. A própria entidade não tem respostas sobre quem pagaria os testes, que não são baratos, e onde os atletas, funcionários e comissões técnicas ficariam em isolamento. Tudo acarreta custos extras. Fala-se em CTs dos clubes. Imagine o Noroeste com 50 pessoas em isolamento no Complexo Damião Garcia. Antes e depois dos jogos. Como ficaria a logística, despesas? Há condições de todos os clubes fazerem a quarentena com os profissionais envolvidos em seu futebol? Sem renda de bilheteria dos jogos, com orçamento comprometido, quantas equipes da Série A3 podem arcar com tais gastos ou possuem estrutura para isso? A FPF, repito, não tem respostas.

Imposição

Na videoconferência que definiu pelo término da Série A3 em campo, a FPF não abriu votação para os clubes definirem. O presidente do Noroeste, Rodrigo Gomes, deixou claro que houve imposição, uma determinação, e os times puderam "opinar". Opinar não é decidir e nem vetar. Com orçamento enxuto e novas contas à vista, o clube bauruense "opinou" que estaria de acordo se a Terceirona terminasse até o dia 17 de maio, período no qual vencem os contratos alvirrubros. Ou seja, até quando o clube tem elenco, verba e planejamento para a disputa. Em junho, o Norusca não tem receita. Agora, alguém acredita que o campeonato pelo menos seja retomado até esta data?

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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