Wagner Teodoro

O fim e depois

10/05/2020 | Tempo de leitura: 3 min

A decisão da Liga Nacional de Basquete (LNB) de encerrar a edição 2019/20 do Novo Basquete Brasil (NBB) foi sensata e oportuna. Por mais que a entidade se esforçasse, desejasse, compreensivelmente, e fosse "até o estouro do cronômetro", como disse o presidente interino, Nilo Guimarães, buscando finalizar a competição em quadra, com a definição de um campeão na bola, persistir em compasso de espera era apostar em um desfecho alicerçado em incerteza. Sim, porque os números mostram claramente que estamos indo para o momento de pico da pandemia de coronavírus no Brasil e não há uma mínima perspectiva de quando as partidas poderiam ser retomadas. Aguardar indefinidamente oneraria os orçamentos dos times em momento de absoluta baixa de arrecadação. Seria um esforço hercúleo técnico, financeiro e estrutural em um salto no escuro, com zero de segurança sobre um retorno no médio prazo. Fora o aparato logístico que seria necessário, por mais que se planeje protocolos, bastaria um jogador testar positivo após ter jogado e tudo seria imediatamente afetado.

Compreensível também que o fim do Nacional desta maneira frustre algumas equipes mais do que outras. Flamengo e Franca, amplos favoritos, são os que mais perdem. Projetos com bom orçamento, montados para brigar pelo título. O São Paulo, que fazia bela campanha e estava na terceira colocação, também acaba sendo muito prejudicado pelo imprevisível destino do NBB12. Além deles, o Minas, que contratou e montou um time forte. As outras equipes dificilmente lutariam pelo troféu e a definição pelo encerramento prematuro "dói menos" para elas.

Nebuloso futuro

O NBB12 já é passado e o futuro se mostra nebuloso. A recessão que se anuncia vai impactar fundo em todas as modalidades esportivas e o basquete nacional tem equipes com projetos frágeis, que podem fechar as portas. À medida que as incertezas aumentam, diminuem as projeções de quanto dinheiro haverá no mercado. Fuga de patrocinadores ou redução de aportes. Some-se ao quadro completa indefinição de quando os jogos poderão ser retomados e certamente o serão, em um primeiro momento, sem público, ou seja, menos receita. Além disso, é extremamente provável que sejam necessários testes para Covid-19 periódicos e em larga escala. Mais gasto. Quem pagará?

Grana contada, equipes fragilizadas, menos vagas de empregos, salários afetados e muita cautela. Dificilmente, o NBB13 contará com o mesmo número de equipes desta temporada, 16. O Corinthians já pisou no freio e suspendeu o projeto momentaneamente. Será que volta? O clube tem eleição presidencial neste ano e o futuro está atrelado a isso. O Pinheiros fez o mesmo já anteriormente, dispensando todo o elenco profissional. O Bauru Basket se resguardou e saiu do NBB12 já pensando na sobrevivência para o próximo ciclo. O Botafogo ainda não pagou salários em 2020. Projetos com menor aporte como ficarão? Basquete Cearense, Brasília… O São Paulo Futebol Clube acaba de renovar patrocínio com uma construtora, que contempla também o seu basquete. Até o final de 2020. O NBB13 avança em 2021. Mas parece ter um horizonte menos tempestuoso. Como ficarão Franca, Flamengo, Minas? Terão readequação?

Todos no mesmo barco

O basquete como um todo sofrerá um retrocesso. Entretanto, por pior que seja, o cenário de recessão será igual para todos e, a exemplo do futebol, certamente haverá uma nova realidade na modalidade. Claro que certas características se manterão. Quem tem mais dinheiro leva as melhores peças. Neste sentido, pouco ou nada muda. Porém vínculos mais modestos serão firmados em termos de patrocínio e na relação de empregadores e empregados. O mercado deve desacelerar e na idêntica proporção que haverá menos dinheiro os valores de contratos também devem cair. Todos estarão no mesmo barco. Tudo será feito pelas equipes dentro de uma nova perspectiva financeira, de orçamentos mais modestos e salários mais baixos. A competência em montar um time competitivo "garimpando" peças com bom custo-benefício será fundamental para o sucesso esportivo.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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