Alberto Consolaro

Escova, dentifrício e fio: e os bochechos?

16/05/2020 | Tempo de leitura: 3 min

A boca é a região corporal com maior variedade e quantidade de microrganismos. O conjunto de bactérias, vírus, fungos e parasitas recebe o nome de microbiota, muitas vezes equivocadamente referida como flora ou microflora, nomes mais apropriados para os vegetais. O controle quantitativo da microbiota bucal é dificultado pelas reentrâncias e irregularidades das estruturas que compõem a boca.

IRREGULARIDADES

Entre a gengiva e os dentes tem-se uma interface que forma um “sulco”, onde cabem milhões de microrganismos. Nos dentes saudáveis, na parte oclusal dos posteriores e na face palatina de canino a canino, tem-se uma quantidade incrível de sulcos, fissuras e depressões onde se pode alojar milhões microrganismos.

No sulco gengival e nas irregularidades anatômicas dos dentes, a microbiota pode se organizar na forma de aglomerados e se fixar em locais inacessíveis a escovas, fios e enxaguantes. Igualmente, na superfície da língua, a irregularidade é espantosa e oferecida pelas papilas minúsculas aos milhares que retém muitos alimentos e acolhem zilhões de microrganismos. Nas tonsilas palatinas, na passagem da boca para a faringe, as irregularidades guardam ainda outra riquíssima microbiota que se adentra por dentro delas.

Se na boca tem próteses, aparelhos ortodônticos, placas, chupetas e outros objetos, as irregularidades aumentam mais ainda, redobrando-se os cuidados. Se houver cáries, gengivites e periodontites, devem ser tratados, pois aumentam muito mais a quantidade e a variedade da microbiota bucal, podem ser fonte de outros problemas na saúde do paciente.

BIOFILME

Nas superfícies dos dentes, gengiva, língua e de outras partes da boca, a microbiota pode formar películas bem organizadas em forma de verdadeiros “condomínios horizontais e verticais”. Neles, se tem vias de circulação, bairros com população específica e uma troca metabólica e nutritiva incrível, dignas de shopping centers humanos. Estes condomínios são os chamados biofilmes microbianos. Não são formados por dente e nem apenas por bactérias e, por isto mesmo, não devem ser chamados de biofilmes dentários e nem de biofilmes bacterianos, pois tem também vírus, parasita e fungos.

Estas películas são recobertas e envolvem os microrganismos com um “gel” ou uma “cola” de polissacarídeos quase insolúveis frente a saliva, alimentos e produtos químicos. São as bactérias que os produzem para se proteger e atuar como reserva nutritiva se em algum momento faltar alimento, pois estes humanos vivem fazendo dietas! Antibióticos, antivirais, enxaguantes e outros produtos não conseguem dissolver os biofilmes microbianos. A única coisa que conseguem desorganizar e remove-los são a escova dentária, os dentifrícios e o fio dental, ou seja, tem que ter uma ação mecânica qualquer.

DENTIFRÍCIO

Os dentifrícios são importantes no controle da microbiota bucal pois contém agentes químicos antissépticos, em especial água e sabão que, acompanhados da ação mecânica e bem direcionada da escova, desorganizam e destroem os biofilmes microbianos que se formam, infiltrando-se (via água e sabão) nas irregularidades. A escovação ou qualquer outra ação mecânica na língua deve ser leve para não machucar, mas é essencial que se faça para diminuir quantitativamente a microbiota bucal.

Depois da higiene bucal via escova, dentifrício e fio dental, o enxaguante atua como um complemento, mas não isoladamente e sem uma ação mecânica prévia ou simultânea! Se optar por usar este complemento ou auxiliar da higiene bucal, escolha aquele que não agrida quimicamente os tecidos da boca e que não seja co-carcinogênico (como os que contem álcool ou peróxido de hidrogênio/água oxigenada), ou seja, aquele que mais lhe agrade no sabor e conforto oferecidos!

POR FIM

A higiene bucal adequada é a melhor antissepsia que temos para esta região do corpo. Antissepsia é o conjunto de ações que diminua a quantidade de agentes patógenos em um local em que eles existiam previamente no contexto de um organismo vivo!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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