Wagner Teodoro

Ver e aprender

17/05/2020 | Tempo de leitura: 4 min

A retomada do Campeonato Alemão, que ocorre neste final de semana, nos oferece um vislumbre do que possa vir a ser o futebol no Brasil no momento em que a bola voltar a rolar por aqui, e sabiamente não agora - falar em datas neste momento é completa falta de noção. Este futebol que emerge da pandemia de coronavírus nos traz novidades impactantes, desde imagens de mascarados em bancos de reserva, estádios vazios, comemorações contidas e com os cotovelos até mudança na regra, a princípio temporária, com cinco substituições. Um futebol diferente em um mundo mudado. Mesmo com realidades distintas, é interessante ver e aprender com o que dará certo e, porventura, não funcione.

No Brasil, o futebol voltará com os campeonatos estaduais e certamente, pelas dimensões continentais do País, alguns governos estaduais vão autorizar o retorno mais cedo e outros, mais tarde. O Brasil vive cenários diferentes dentro da pandemia e cada caso precisa ser avaliado por autoridades de saúde e haver diálogo com as federações.

Importante evitar situações estranhas, como a que vimos no Rio de Janeiro, onde a federação de futebol autorizou os treinos e o governo estadual desautorizou. Sinal claro de falta de entendimento. Ou em Santa Catarina, com permissão estadual para treinar e proibição municipal em Florianópolis, o que acarretou disparidade entre Figueirense, que tem centro de treinamento em Palhoça e vai ter atividades, e Avaí, que possui CT na capital e não vai treinar em casa. Curioso. Mas, apesar do descompasso, aí é mais um caso de análise do governo de Floripa, dentro do quadro da Covid-19 na cidade, de que não era o melhor momento.

Lições importantes

Voltando à Bundesliga, primeira grande liga do mundo que retorna - a Coreia do Sul também já tem partidas -, mais do que o impacto das mudanças visíveis, é preciso que o futebol brasileiro faça algo que o País não fez antes da explosão da pandemia aqui - no Brasil, ainda há governantes que subestimam a Covid-19. Observar e aprender, tirar lições com a experiência alheia. Preparar-se. As verdadeiras mudanças que o Alemão põe à prova são os protocolos de prevenção. E são rígidos. Entre outras medidas, três zonas de segurança, partindo do gramado até os profissionais de imprensa e suporte no estádio. Distanciamento no transporte para o local e nos vestiários. Restrição de tempo de permanência e uso de máscara nos vestiários. E testes periódicos para todos.

Um dos segredos da Alemanha para lidar bem com o coronavírus e ser o país europeu que melhor controlou a doença, além do isolamento rígido, foi exatamente a testagem. Exames em massa foram feitos e casos identificados precocemente. Eficaz. Porém caro. E aí, mesmo com o abismo econômico entre os dois países, muitas ações de lá terão que ser obrigatoriamente implantadas no futebol daqui. O coordenador médico do protocolo nacional da CBF, Jorge Pagura, disse, na sexta (15), que "quando liberarem as atividades, não vai haver lugar mais seguro do que treino de futebol, jogo de futebol". Isso implica restrição de acesso aos estádios e testagem em larga escala.

Mão no bolso

Existe um protocolo da CBF sendo preparado há um mês e meio para o momento em que houver flexibilização e jogos possam voltar. Mas os custos dos dispendiosos exames não podem ficar exclusivamente com os clubes, como chegou a ser cogitado em São Paulo. Não existe Seleção Brasileira sem times nacionais e é o momento da CBF, que dispõe dos atletas das equipes para a Seleção e gerencia os campeonatos - em vários países as competições são organizadas por ligas, modelo que os clubes do Brasil já deveriam ter seguido há muito tempo -, colocar a mão no bolso. E ela conta com dinheiro para isso, registrou receita recorde no balanço referente a 2019. Hora da contrapartida.

Confederação e também federações têm obrigação de injetar valores e dar suporte aos clubes, principalmente os de divisões inferiores nacionais e estaduais. Caso contrário, fica inviável implantar qualquer protocolo que garanta realmente a saúde de quem vai trabalhar em uma partida de futebol. Há uma sensação de segurança para a retomada da Bundesliga, pela maneira como a Alemanha lidou com a pandemia e pelo protocolo. Se aqui parte de quem dirige o País combate mal o coronavírus, o futebol vai ter que ser mais alemão do que brasileiro neste aspecto.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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