Reflexão e Fé

Liberdade x segurança

Hugo Evandro Silveira Pastor Titular - Igreja Batista do Estoril. E-mail: hugoevandro15@gmail.com

17/05/2020 | Tempo de leitura: 4 min

É claro que tememos a ameaça do Coronavírus. Tanto que a maioria das pessoas abandonaram voluntariamente seu modo de vida, seus direitos e liberdades e aceitaram o bloqueio imposto em nome da proteção contra a infecção. Se pararmos para refletir, houve muito pouco debate sobre as medidas tomadas diante da pandemia - nem deu tempo! Embora governos tenham tido parcial êxito em suas imposições de trocar a liberdade pela promessa de segurança, muitos países que estão voltando suas atividades públicas, têm encontrado um novo dilema, a saber: Os cidadãos ficaram temerosos demais para deixar suas casas e retornarem a vida normal, inclusive em permitir que os filhos retornem as aulas presenciais com receio de serem cobaias de um experimento incerto, caso o vírus realmente não tenha sido erradicado. Na Europa aonde o relaxamento tem começado, grande parte da população mostra-se desconfortável em usar o transporte público, ir a bares, restaurantes e até escolas. Isso mostra que para uma grande parte da população, ao menos os mais sofisticados, a mensagem do "fica em casa" funcionou muito bem. Mas isso tem se revelado, ao nosso ver, não apenas um produto do medo das pessoas, mas também do anseio por segurança e proteção. Muitas pessoas e a mídia em geral parecem estar dispostas a aceitar uma perda acentuada da liberdade, em nome da segurança. Para uma parte do público o imperativo segurança tem governado as dimensões da vida. A cultura do medo tem se expandido ao ponto de definir a vida. A cultura do medo tornou-se o valor dominante da sociedade contemporânea. Ao contrário dessa realidade atual, na história, fica nítido que a virtude da coragem adicionada a responsabilidade sempre foi o antídoto eficaz no combate ao medo, mas, a vida pós moderna tem se afastado desse ideal. A busca pela segurança a qualquer preço tem reduzido em pó a virtude da coragem. O slogan mais popular nos dias de hoje é "permaneça seguro, custe o que custar" - o "fique em casa" se tornou quase um rito sagrado. Contraditoriamente, ao longo dos séculos, a postura da coragem foi sempre o antídoto contra o poder do medo capacitando a sociedade de exercer a sua liberdade acima de tudo. A insegurança existencial sempre foi integrante da condição humana. Jamais estivemos seguros! Viver é um risco; atuamos em um cenário de insegurança, o mundo que vivemos é um mundo de incertezas, logo, a busca por segurança no palco da vida é interminável. Então, o "ficar em casa" de certa forma, oferece uma a ilusão quando vista como chave de solução. As políticas de manipulação social combinadas ao alarmismo da mídia somada a incoerência da classe científica tem reforçado a obsessão por segurança a qualquer preço, mas ao fazer isso, enfraquecem a capacidade das pessoas exercerem o controle de suas vidas, subordinando o valor da liberdade. Encontramo-nos em um tempo onde a segurança e proteção tornaram-se valores de primeira ordem, enquanto que a liberdade foi reduzida. A exigência pela segurança tem sido usada para justificar decretos e procedimentos que eliminam a liberdade civil, corroborando para a direção implacável do autoritarismo - um grande "Big Brother de Controle Mundial" em nome da segurança. Sim, inegavelmente o Covid-19 constitui uma ameaça séria à saúde humana. Então o desafio que surge é como proteger as pessoas dessa ameaça sem sacrificar o direito da liberdade, porque uma vez que a liberdade social é decretada como oposição da segurança, uma outra ameaça seríssima se instala. Privar as pessoas de sua liberdade em nome da segurança mundial é pura ilusão. Por fim, tanto o negacionismo quanto o endeusamento da ciência não condizem com a cosmovisão cristã. Com isso, queremos dizer que nenhuma sabedoria humana pode capacitar-nos a lidar com o medo frente as situações limites. Essa vida terrena é cheia de perigos; obviamente nos esforçamos pela proteção, mas a verdadeira proteção na hora que as soluções desaparecem vem de Deus: "Ainda que eu ande pelo vale da sombra e da morte eu não temerei nenhum perigo, porque o SENHOR está comigo ..." (Salmo 23:4). A vida é assim, enfrentamos lutas e obstáculos que parecem intransponíveis e, diante do caos extremo corremos para encontrar soluções em pessoas, ideias e modelos de escape, mas quando todas as chances desmoronam-se, creia, só poderemos nos sentir verdadeiramente seguros nas mãos do criador. Ele é infinitamente maior que todos os medos, assim como declarou o salmista: "Em paz me deito e logo pego no sono, pois só Tú, Senhor, me fazes viver em segurança" (Salmo 4:8).

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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