Wagner Teodoro

No fio do bigode

31/05/2020 | Tempo de leitura: 3 min

O Noroeste, e não só ele, vive momento tenso em relação ao elenco para uma hipotética continuidade da temporada, com a reta final da Série A3 do Campeonato Paulista. A situação do Norusca, hoje, é que dos quatro principais apoiadores que viabilizavam o futebol profissional do clube apenas dois permanecem injetando dinheiro em meio à crise que a paralisação pela pandemia de coronavírus causou. A diretoria fez acordo com os jogadores. Havia duas opções: receber 100% dos salários referentes a abril de uma vez ou diluir o montante em duas parcelas de 50% em maio e junho. Ocorreu acerto pela segunda alternativa. Os dois investidores arcaram com o total. Portanto, até junho há vencimentos.

A partir de agora é que surge o problema. Boa parte do elenco não tem mais contrato e entre os atletas que possuem vínculos vencidos, vários têm mercado. Mesmo que o que se anuncia cada vez mais provável ocorra e seja aprovada uma mudança excepcional na Lei Pelé, permitindo contratos com tempo mínimo inferior aos atuais três meses e clubes possam fazer uma extensão automática de um mês, por exemplo, o Noroeste não tem como propor renovação tão logo, já que não há ainda a mínima ideia de quando as competições voltam no Estado de São Paulo. Se é que a Série A3 termina mesmo em campo.

Os jogadores, neste instante, estão apalavrados com o Noroeste. Ou seja, é tudo no "fio do bigode". A situação é limite, uma vez que a pandemia não é homogênia no Brasil e, em outros estados, a bola pode voltar a rolar antes do que em terras paulistas. Nada impede que, já que vivemos uma realidade de exceção, clubes venham buscar jogadores alvirrubros para repor peças que porventura tenham saído em retas finais de estaduais. O gerente de futebol Deda é o homem que administra a turbulência e tem influência direta sobre o elenco. E o combinado é, se surgir proposta, que o Alvirrubro seja comunicado imediatamente.

O custo de testar

O Noroeste não é evidentemente o único com este problema na Terceirona. Tem clube contratando reforço, trocando peças, reformulando durante a parada forçada e outros dispensando. Alguns com poucas perspectivas de recontratar. A crise é grave. Nesta semana, o médico Moisés Cohen, presidente da Comissão Médica da Federação Paulista de Futebol, voltou a falar sobre protocolos para retomada do Paulistão e estimou em 3 mil testes a quantidade necessária para segurança dos envolvidos nas partidas.

"Uma parte" seria usada em divisões inferiores. Novamente, a questão primordial dos gastos não ficou definida, deixando a possibilidade de "dividir" os custos com os clubes. Reitero o que já falei aqui: como clubes da terceira divisão, já debilitados financeiramente, que jogariam com estádios vazios e, portanto, sem renda suportariam novas despesas de centenas de exames? Inviável. Não duvido que alguns times terminem a Série A3 usando jogadores da base por falta de dinheiro.

É sério?

Mudando de modalidade sem sair do assunto, a Federação Paulista de Basquete divulgou, em seu site, protocolo de retorno às atividades para competições na terça (26). Tão esdrúxulo era o texto que, dois dias depois, publicou nota afirmando que se tratava de uma versão provisória, que seria aperfeiçoada e adequada. Entre as várias diretrizes, estava a intenção de jogos com público nos ginásios, contrariando o que a maioria das ligas e modalidades vêm fazendo até o momento. Alguns campeonatos, como o do Japão, planejam voltar com torcida, mas a dimensão da pandemia lá é muito menor do que no Brasil. Colocar torcedor em ginásio, mesmo que sejam 30% da capacidade como aventado, seria seguro?

Mas o que causa maior estranhamento é um termo de autorização que deveria ser assinado por atletas, oficiais e técnicos, isentando a federação de responsabilidade sobre contaminações. A entidade quer colocar torcedores em um ginásio, jogadores em quadra, em um esporte de contato, para disputar um campeonato por ela organizado e não ter nenhuma responsabilidade sobre as consequências? É sério isso? Aguardamos a versão final do documento.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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