Wagner Teodoro

Novos e modestos rumos

14/06/2020 | Tempo de leitura: 3 min

Fifa, Comitê Olímpico Internacional e Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos de Tóquio sinalizaram durante a semana uma "era de austeridade" no pós-pandemia de coronavírus. Se será duradoura é outra história, mas em um primeiro momento a ordem parece mesmo ser economizar, rever conceitos. Em meio às indefinições sobre as Olimpíadas, adiadas deste ano para 2021 por causa da Covid-19, uma diretriz parece unir o COI e os organizadores japoneses: a realização de Jogos simplificados, economizando dinheiro para minimizar as despesas adicionais pela mudança de data, e uma competição mais sóbria devido ao momento de calamidade vivido pelo mundo. 

Sensatez e um desafio muito grande de definir como e onde cortar custos. Os Jogos ganharam uma grandiosidade que intimida para realizá-los. Mesmo um país com economia forte como o Japão sofre com a mudança de data e um gasto adicional que pode chegar a 6 bilhões de dólares. É muito dinheiro. Sendo assim, de fato, o ideal seria uma competição mais modesta, mesmo que não seja aquela festa. Até porque ainda não sabemos como estará a pandemia até lá. Terá surgido uma vacina eficaz? As Olimpíadas mais que festejar, talvez sirvam para celebrar a resiliência da humanidade ou a vitória sobre o inimigo invisível que vai arruinando 2020.

Já a Fifa deu sinais de que pode também apostar em um controle do incomensúravel volume de dinheiro que movimenta e rodeia o futebol. O presidente da entidade, Gianni Infantino, acenou ser favorável à ideia de um teto salarial e falou sobre transparência. Claro que o termo não combina muito com o histórico da Fifa. E é evidente que dificilmente isso deve ser implantado, mas poderia sinalizar um novo rumo. Eu penso que seria um dos caminhos para a competitividade e saúde da modalidade em longo prazo.

Planos ameaçados

O Comitê Olímpico Brasileiro vê seus planos ameaçados. Em um ciclo olímpico já conturbado, a entidade revelou o objetivo de enviar 200 atletas brasileiros para se aprimorarem na Europa de olho nos Jogos de Tóquio. Alto nível de preparação, países onde o coronavírus está mais controlado, com mais segurança, e a oportunidade de intercâmbio com esportistas de ponta. Tudo correto. Mas a possibilidade da União Europeia restringir a entrada de brasileiros no continente pode estragar o propósito do COB.

Com a pandemia em uma escalada vertiginosa no Brasil, cada vez mais países passam a olhar com receio para cá e, obviamente e compreensivelmente, podem tentar se proteger, até que o coronavírus seja controlado por aqui. Triste se de fato ocorrer mesmo. Em um ciclo já interrompido, onde os atletas terão que retomar sua preparação mental, física e técnica após estarem perto do auge para disputar a competição máxima, serão privados de treinamentos fundamentais para chegar com chances de brigar por bons resultados no Japão. A pandemia ceifa, além de vidas, sonhos e projetos.

A pressa da necessidade

Por paradoxal que seja, eis que é chegada a hora da retomada do futebol em São Paulo. O fim da quarentena da bola no meio da pandemia. Aliás, no pico da pandemia. Mas o desespero já começa a bater nos clubes e existe uma grande pressão pelo retorno para gerar algum caixa e evitar uma catástrofe financeira. Se o Brasil tivesse feito a lição de casa, como muitos países fizeram, talvez a volta ocorresse em momento mais controlado, mais seguro. Não fez.

Para o futebol, a impressão que fica é que perdeu-se três meses, uma vez que a necessidade obriga à pressa de voltar de qualquer maneira no meio do furacão. Não digo que não haja protocolo e cuidados. Certamente os terão. Mas nunca é ideal ser obrigado a voltar. O desejável seria retomar porque assim a situação controlada o permitisse. Sem isso, os estrangulados clubes ganharam aval para o começo dos testes nesta semana. Daí, mais uns 20 dias de treinos e teremos futebol novamente, provavelmente em meados ou final de julho. Certo ou errado voltar agora, a necessidade e a asfixia econômica se impõem.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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