Reflexão e Fé

Como a Covid-19 revela a mentira da teologia da prosperidade

Hugo Evandro Silveira Pastor Titular - Igreja Batista do Estoril. E-mail: hugoevandro15@gmail.com

14/06/2020 | Tempo de leitura: 4 min

Baseado no texto de Conrad Mbewe, pastor da Igreja Batista Kabwata, em Lusaka, Zâmbia.

Pregadores da teologia da prosperidade em todo o mundo afirmam que o cristianismo, quando bem compreendido e aplicado, é destinado a proporcionar uma longa vida de saúde e muita riqueza. Digo frequentemente a amigos do Ocidente que a teologia da prosperidade na África tem uma textura e ênfase ligeiramente diferentes daquela que foi inicialmente importada do Ocidente. Mestres defensores da chamada teologia da prosperidade no Ocidente muitas vezes ensinam sobre passagens cuidadosamente selecionadas da Bíblia fora de contexto, de maneiras que não estão de acordo com a intenção do autor original. Já na África, os mestres dessa teologia da prosperidade enfatizam que o "homem ungido de Deus" possui o poder de livrar da pobreza e miséria, através de suas orações.

Este é um problema muito grave na África que espalhou-se como um incêndio florestal descontrolado. Não tenho certeza em relação aos Estados islâmicos no norte da África, mas ao sul do deserto do Saara, esta tornou-se a forma mais conspícua de cristianismo. Isto ocorre porque pregadores dessa teologia da prosperidade tendem a comprar tempo na televisão e no rádio a fim de alcançar milhares de necessitados. Não bastasse, também construíram templos magníficos e espaçosos e, vivem estilo de vida opulente. E a mensagem que proferem é que quem crê no que eles crêem e os seguem, em breve também viverá assim. Isso atrai muitos seguidores incautos.

A versão africana da teologia da prosperidade tende a prometer uma solução para todas as "carências" concebíveis na experiência humana. Não só promete catapultá-lo para longe da pobreza para um estado de riqueza, mas também promete resolver seus problemas por carência de um parceiro de casamento ou a carência de filhos no casamento. Claro, há também o negócio da chamada cura milagrosa. Eles afirmam ter poderes especiais dados a eles por Deus para curar instantaneamente qualquer forma de doença. A frase "teologia da saúde e da riqueza" captura os dois lados deste fenômeno. Mas a pandemia de COVID-19 tem revelado esta última promessa como uma mentira avassaladora.

COVID-19 é uma doença. É uma doença muito perigosa. Já causou a morte de mais de 400.000 pessoas no mundo, com quase oito milhões de pessoas contaminadas no planeta, até essa data. Certamente, o bom senso seria que esses pregadores da teologia de prosperidade fossem aos epicentros da doença e curassem milagrosamente aqueles que estão gravemente enfermos nos respiradores já que possuem esse poder. Mas em vez disso, o que aconteceu, é que cancelaram as reuniões de cura previamente agendadas e ficaram mortalmente silenciosos, porque são pregadores de uma mentira.

Agora estão todos bradando para o COVID-19 se afastar do conforto de seus edifícios religiosos — mas, ao que posso ver, nenhum está indo para os lugares onde os médicos e enfermeiros lutam bravamente para salvar os doentes. Dizer que estão orando pelos enfermos, de longe, não mostra o mesmo poder que proclamaram ao longo do tempo. Anteriormente, seus outdoors convidavam multidões para suas reuniões alegando terem poder suficiente para curar todos os tipos de males. A mudança das regras do jogo deles é evidente. Isto os expõe a vergonha.

O que os pregadores da teologia da prosperidade devem fazer à luz do COVID-19 é enfrentar honestamente os fatos. Ao contrário da malária e do câncer, esta é uma doença tão contagiosa que os forçou a se esconderem por temerem por suas vidas, tal como o resto de nós. Na verdade o COVID-19 revela a nossa necessidade do glorioso evangelho bíblico; esse sim tem poder de nos satisfazer em quaisquer circunstâncias que estejamos. O evangelho genuíno do Senhor Jesus nos permite confiar em um Deus soberano que tem o direito de fazer com nossas vidas conforme seu propósito eterno. Também nos dá uma paz que desafia todas as probabilidades, porque sabemos que somos justificados pela obra consumada de Jesus Cristo, o Filho de Deus. Portanto, no meio desse COVID-19, devemos nos preocupar com a forma como podemos partilhar o amor e a graça de Deus com um mundo sofredor. E, finalmente, se o COVID-19 for o veículo pré-ordenado que nos levará ao túmulo, não temos problemas quanto a isso, porque sabemos e cremos com convicção nas palavras do nosso Senhor Jesus, de que teremos uma eternidade gloriosa que nos espera no céu ao seu lado.Hugo Evandro Silveira : hugoevandro15@gmail.com

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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