Wagner Teodoro

De MPs, guerras, união e bagunça

21/06/2020 | Tempo de leitura: 3 min

A Medida Provisória assinada pelo presidente Jair Bolsonaro causou um "terremoto" no cenário do futebol brasileiro. A MP altera a forma de negociação dos clubes com as emissoras de TV sobre direitos de transmissão das partidas. Hoje, ambos os clubes precisam ter contrato com uma mesma emissora para o jogo ser transmitido. A partir de agora, o mandante terá o direito exclusivo da transação. A polêmica já começa pela contestação da legalidade da MP. Especialistas avaliam que o assunto não constitui matéria de urgência ou relevância, que são pressupostos constitucionais. De qualquer forma, ela vale por 60 dias e pode ser prorrogada por mais dois meses. E tem que passar pelo crivo do Congresso. Mais barulho ocorre porque a Federação Nacional dos Atletas Profissionais estuda entrar com ação de inconstitucionalidade por causa de mudanças que ela define no pagamento de direito de arena. É uma MP controversa.

De fato, não se justifica uma "canetada" neste assunto, a não ser o uso político na guerra que é travada entre o Grupo Globo e Governo Federal, com o Flamengo escolhendo um lado e sendo aliado para a apressar a volta do futebol, peitando governos no Rio de Janeiro para treinar na quarentena, forçando e conseguindo o retorno do Campeonato Carioca. A MP é a contrapartida do governo ao clube na batalha rubro-negra pelos direitos de transmissão com a Globo, que se arrasta desde o final do ano passado. A verdade é que o tema precisaria ser discutido com calma e de forma mais abrangente.

Se a MP for aprovada, os clubes terão que se adaptar. A nova legislação não valerá para contratos já assinados e que, em sua maioria, vão até 2024. Mas, com poder de barganha maior e donos de seus jogos de forma unilateral, não podem cair na armadilha do individualismo ou ganância. No médio prazo, seria prejuízo geral para o futebol brasileiro. O caminho da negociação coletiva é a tendência mundial e seria a melhor escolha. Quem sabe a nova situação abra perspectiva para a união em uma entidade forte de clubes e um embrião de uma liga futuramente?

O futebol brasileiro perdeu muito com implosão do Clube dos 13, que ruiu muito por dissidências individualistas e pela falta de visão do futebol como um produto coletivo. Uma nova associação em prol de negociar, daqui a algumas temporadas, o melhor acordo possível para todos os clubes seria extremamente benéfico e fundamental para as equipes conseguirem mais dinheiro, se fortalecerem e, quiçá, se constituírem em uma liga que organizaria e gerenciaria o Campeonato Nacional. Mas tudo isso exigiria mudança de postura, visão da modalidade como negócio e modernização no que há de mais sensível no futebol brasileiro: os dirigentes.

Modelo inglês

A Premier League é o melhor exemplo de sucesso na relação clubes e transmissão de jogos. Lá, 50% de todo o dinheiro é dividido igualmente entre os participantes, outros 25% de acordo com a classificação na temporada anterior e os 25% restantes por número de partidas exibidas. A repartição mais equilibrada fortaleceu a liga e o produto futebol. Os grandes se tornaram gigantes poderosos e os médios e pequenos cresceram e são fortes. Competitividade, alto nível e retorno financeiro. A despeito da disparidade de economias dos países, o modelo de divisão das cotas de transmissão poderia ser adotado no Brasil. Meu temor é que aqui se tome um caminho contrário e fiquemos mais para o padrão português, onde Porto e Benfica se fartam e outros minguam.

Bagunça carioca

Em meio à semana de MP e em total relação com ela, o Estadual do Rio voltou. E virou uma tremenda bagunça. Times em campo sem respeitar protocolos de segurança contra a Covid-19 e o Ministério Público entrando no caso. Divergências sobre a data de retorno com Fluminense e Botafogo, que discordam da retomada neste momento, acionando a Justiça para não jogarem. Aqui em São Paulo parece que agora vai mesmo. Nesta segunda (22), começam as avaliações físicas e daí para os treinos é um instantinho. Só que aparentemente tem clube já se preparando escondido. Bragantino, Ferroviária e Oeste são alvo de acusações de outras equipes de quebrarem o pacto de volta conjunta. Deles, só o Bragantino admitiu o "deslize" e se desculpou.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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