Conversando com o Bispo

A arte do bem viver

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19/07/2020 | Tempo de leitura: 3 min
Dom SevilhaBispo Diocesano de Bauru

Talvez, a mãe de todas as crises que estamos vivendo seja a crise de identidade do homem atual que, há algum tempo, não sabe quem ele é. A cultura agnóstica que respiramos diariamente, prega que somos pessoas sem origem e sem outra finalidade na vida senão simplesmente viver. Seríamos como os passarinhos ou as flores que nascem, vivem e morrem.

A sensação geral é que aparecemos na vida por acaso, aliás, que fomos jogados nela e, mais do que viver, temos que sobreviver. Claro que, desse modo, os inevitáveis sofrimentos da vida se tornam incompreensíveis e insuportáveis. Resumindo: sentimo-nos filhos sem pai e como órfãos abandonados na vida. Consequentemente, temos uma cultura melancólica, nervosa, triste e ansiosa. Para amenizar ou disfarçar o clima depressivo, o nosso mundo oferece um vasto cardápio de felicidade fácil em sua propaganda enganosa: consumismo fútil e inútil (tendo que se matar de trabalhar para manter algo fútil e inútil); busca de prazer regada à bebida, droga e pornografia; alguns menos atirados buscam sua felicidade fácil em contínuos jogos eletrônicos ou navegando sem rumo e sem direção, dia e noite, no universo paralelo da internet.

Isso é vida? É urgente que o ser humano redescubra a busca pela arte do bem viver ou, melhor ainda, torne a procurar a sabedoria da vida. As religiões, mormente o cristianismo, apesar de todos os percalços históricos, elas têm o método, o mapa do caminho e a bússola que podem nortear a humanidade. Infelizmente, por causa do contra testemunho das religiões, também do cristianismo ao longo da história, a nossa cultura despreza a fé, jogando fora a criança junto com a água da bacia.

Ficamos sem água e sem a criança. Ficamos sem o Deus que se fez criança e que mantém viva a leveza da nossa criança interior e a faz entrar no Reino dos Céus. Ficamos sem a água viva do Espírito que jorra na alma do crente purificando-a, revigorando-a, fecundando-a. Muitos estão sem a água do batismo, outros deixaram evaporar da própria vida a água batismal que um dia receberam e vivem hoje em um árido e vazio deserto existencial.

As religiões, mormente o cristianismo, têm uma enorme responsabilidade (missão) em relação ao mundo moderno. É um pecado de omissão as religiões não anunciarem com convicção e clareza, em palavras e obras, que o mundo e o homem têm uma origem divina, que toda pessoa tem uma missão neste mundo e seu fim é a Casa do Pai na eternidade. Infelizmente, parece-me que o cristianismo está apresentando sintomas de complexo de inferioridade diante do mundo moderno. Passamos de um sentimento errado de orgulhosa superioridade, sobretudo na Igreja Católica no ocidente, para uma baixa autoestima social.

Urge aos cristãos assumirem com "santo orgulho" a sua fé e a mostrarem com a vida em todos os ambientes onde estiverem. Quem ama a Deus amará também os seus irmãos, e os seus irmãos mais próximos são a sua família, a sua Igreja, a sua vida profissional e todas as demais pessoas que cruzarem o caminho da sua vida. Você ama a sua Igreja? Aquele que diz ter fé e amar a Deus, mas a Igreja não, é como aquele que diz amar a Deus que não vê, mas não ama o irmão que vê (cf. 1 Jo 4,20). Você ama as pessoas com as quais convive no ambiente de trabalho? Você ama a família que Deus lhe deu? Não é fácil amar e amar se aprende. A Igreja é a escola onde, junto com a família (Igreja doméstica), aprendemos a amar com o Divino Mestre Jesus. Quer ser feliz? Aprenda a amar de verdade.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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