Wagner Teodoro

Os giros que a bola dá

02/08/2020 | Tempo de leitura: 3 min

Na retomada do Paulistão, o futebol já deu lições da velocidade com a qual ergue e destrói narrativas. Nos giros que a bola dá, vimos três líderes de suas chaves caírem logo no primeiro jogo de mata-mata e "ressurreições". Reconhecimento ao surpreendente Mirassol, que se reconstruiu à força e, desfigurado, derrubou o gigante São Paulo, em pleno Morumbi, no melhor estilo Davi x Golias. Mas chama a atenção as trajetórias de dois alvinegros: Ponte Preta e Corinthians. Ambos lutaram contra probabilidades e estão entre os quatro melhores, até com chances de se encontrarem em uma final.

A história do Corinthians mostra o que uma pausa no momento certo, uma mudança de perspectiva de um treinador - na pressão - e duas alterações no elenco podem fazer. Em março, o time tinha contra si a matemática e seu pálido futebol. Com Tiago Nunes buscando mudar um estilo de jogo, que parece ter se tornado o DNA da equipe, o Corinthians acumulou fracassos. Mas eis que tudo pára. Eis que na volta o treinador parece ter revisto algumas convicções, pelo menos momentaneamente, e jogar um pouquinho no "modo Carille". Eis que o Alvinegro retorna vencendo um clássico, ganha moral e "descobre" Ederson, que estava por ali, ganhou uma chance e correspondeu. Eis que a combinação de resultados necessária ocorre e tudo vai se encaixando. A equipe ganhando moral e ganhando Jô.

Tiago Nunes, estrategicamente, coloca seu time como azarão. E, franco-atirador, o Corinthians despacha a então sensação Red Bull Bragantino e já não são tantos os que duvidam do título. Agora confiante, o Corinthians terá que forçosamente abandonar o papel de quem "corre por fora". Diante do Mirassol é franco-favorito, um papel mais condizente com a tradição e poderio do clube. É verdade que tem tudo para passar pelo time do Interior. Mas o Corinthians ainda não apresenta bom futebol. E, caso os orçamentos, qualidade de elenco e camisa prevaleçam em ambas as semifinais, decidiria o título com o Palmeiras. E no dérbi de alta voltagem, provavelmente vai ter que jogar mais.

Final feliz

Mas para o Palmeiras chegar à final, precisa passar pela Ponte. O time de Campinas vive outra história de superação. Os campineiros eram lanternas no momento da paralisação do Estadual, com o descenso se anunciando. Na pausa, sofreram reformulação no elenco. E reagiram. Ainda assim, entraram rebaixados na rodada final da primeira fase. No entanto, ressurgiram para não só escapar, mas conseguir a vaga no mata-mata. São três vitórias consecutivas, a mais recente eliminando o turbulento Santos na Vila Belmiro.

O técnico João Brigatti bate na tecla do "time de guerreiros", discurso motivacional para seus comandados. Vai encarar um favorito Palmeiras, um Palmeiras sequioso pelo título estadual para quebrar um jejum que vem desde 2008. Um Palmeiras irregular e buscando se acertar após a saída de Dudu. Aquém do que pode. Que sofreu contra o Santo André. Mas ainda poderoso, com elenco qualificado. Caindo na semifinal ou não, a Ponte já pode dizer que sua história no Paulistão deste ano tem final feliz. Eis a diferença entre os "contos de fada" alvinegros.

Enquanto isso...

São Paulo e Santos "ganharam" mais tempo de preparação para o Brasileirão. O principal avanço tricolor visto antes da interrupção desapareceu: a eficiência da defesa. Eram sete gols até então em dez jogos no Paulistão. Foram outros sete em três partidas após o retorno. Pior, o time não mostra alma, não "ganha no coração" quando é preciso. Não parte para o abafa. É uma equipe "burocrática". E o técnico é um grande teórico. Mas que parece incapaz de adaptar seu sistema ao elenco que tem. Um cara que há tempos busca implantar seu conceito de futebol e acumula resultados ruins recentes nos clubes por onde passou, como Athletico e Fluminense, e há dez anos não ganha um título.

O Santos vive crise política, financeira e técnica. Jogadores e torcedores descontentes com a atual administração e Jesualdo Ferreira tentando montar um time em meio a baixas por expulsão e atletas se desligando do clube via Justiça. Sanções e punições da Fifa se acumulando por dívidas não pagas e um cenário que preocupa em um campeonato tão disputado como o Nacional. O exemplo do Cruzeiro é recente.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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