Wagner Teodoro

Trio de Ferro enferrujado

23/08/2020 | Tempo de leitura: 4 min

O Brasileirão nem bem começou e os técnicos do Trio de Ferro vivem momento de forte contestação de seus trabalhos. Por razões diferentes, o resultado não é o esperado e torcedores estão descontentes com Tiago Nunes, Fernando Diniz e Vanderlei Luxemburgo. E, de fato, o futebol de São Paulo, Palmeiras e Corinthians é ruim. O Trio de Ferro anda meio enferrujado. As realidades distintas de cada treinador impõem o mesmo resultado pobre em campo. Tiago Nunes tem um elenco limitado. Grandes jogadores são Cássio e Jô. Acima do nível nacional Fagner e Gil. O restante está na média e alguns abaixo dela. O treinador foi contratado com a missão de mudar o "DNA" do clube, buscando um futebol mais ofensivo, vistoso. Na ocasião, a maioria da própria torcida entendia que o "ciclo" resultadista, que chegou ao ápice com Fábio Carille, tinha se esgotado.

Nunes buscou implantar suas ideias no começo da temporada e colheu sucessivos fracassos. Quando o futebol parou, o Corinthians já havia caído na Libertadores e flertava com o rebaixamento no Paulistão. A solução, por decisão própria ou pressão, foi adotar o modo sobrevivência e voltar a jogar por uma bola. O porém, entretanto, é outro: qual o sentido de contratar um treinador com uma filosofia diferente para jogar da mesma maneira?

O Corinthians passou a atuar muito parecido com o que tinha antes de Nunes. Ênfase em tomar poucos gols. Buscando corrigir espaços entre as linhas, além de ajustar a bola aérea. Mas o Corinthians cria muito pouco - é preciso mais do que ligação direta com Jô. Além disso, geralmente cede espaço e permite finalizações dos adversários. O time carece de profundidade e sofre com desequilíbrio. E Nunes não consegue entregar o futebol vistoso, propositivo e moderno que prometeu na chegada e nem voltar o time ao resultadismo de segurança de antes.

Posse ineficaz

No São Paulo, Fernando Diniz conta com um elenco com mais qualidade, mas não consegue fazê-lo render sob suas ideias e concepções de futebol. O que ocorre é que o São Paulo fica no meio do caminho. Controla a posse de bola na maioria das vezes, em algumas até cria, mas não converte. É um time ineficaz. E, assim, ter a bola em muitos casos facilita a vida do adversário, porque o que se observa é um time sem a movimentação necessária, que toca de lado, rodeia, ronda, mas não é uma real ameaça. Assim, o oponente fica com certo conforto de se resguardar de um cerco ineficiente e ainda se aproveita da lentidão são-paulina nos momentos que contra-ataca, em rápida transição.

O roteiro atual é sempre parecido. O São Paulo começa bem, buscando sufocar. Cria algumas chances e acaba sofrendo o gol. Foi assim contra o Bahia. Foi assim contra o Vasco. E diante do Fortaleza também correu riscos. Ganhou não pelo mérito do sistema, até porque jogou melhor contra o time vascaíno do que contra a equipe cearense. O São Paulo tem a posse, mas não consegue criar amplitude e profundidade. Esbarra na marcação e sofre para romper as linhas defensivas. Qual o sentido de posse de bola que não resulta em criação? Qual o sentido de uma "proposta ofensiva" que não culmina em gol? Insistir em um conceito e "morrer abraçado" com ele? Faz pensar se é genialidade, teimosia ou falta de capacidade de variações.

Elenco, não time

A situação de Vanderlei Luxemburgo mostra que título estadual não dá mais paz para ninguém. Menos de uma semana após a conquista do Paulistão, o Palmeiras foi alvo de protesto da torcida após uma vitória, sim, uma vitória, sobre o Athletico. O motivo: o time não engrena. Elenco com opções e alto investimento e a equipe não agrada, decepciona. A promessa de um Palmeiras que joga com a bola, cria, esbarra na falta de um meio-campo que produza. É verdade que a saída de Dudu quebrou o time e algumas peças vivem baixa, como Willian e Rony. Mas a real é que o treinador não consegue dar uma identidade ao Palmeiras, não encontrou ainda a formação ideal e nem parece capaz de tirar certos atletas da acomodação. Com o melhor material humano do Trio de Ferro em mãos, Luxemburgo não tem êxito em extrair todo o potencial de seus jogadores. É um time sem padrão tático, pragmático, que joga feio. O Palmeiras tem elenco, mas pouco se comporta como time.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

Receba as notícias mais relevantes de Bauru e região direto no seu WhatsApp
Participe da Comunidade

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.