Conversando com o Bispo

Quem é forte cuida dos fracos

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04/10/2020 | Tempo de leitura: 3 min
Dom SevilhaBispo Diocesano de Bauru

Somos todos iguais em dignidade, mas diferentes e desiguais na vida prática. Querer construir uma impossível fraternidade de iguais seria uma fantasia fácil e cômoda. O desafio é construir uma fraternidade entre desiguais. Somos todos diferentes uns dos outros. Em que repousa a dignidade humana? Para nós crentes a altíssima dignidade humana está no fato de sermos criados por Deus à sua imagem e semelhança e, portanto, somos filhos d'Ele, amados por Deus que tem um projeto e destino eternos para cada um de nós. Somos irmãos e devemos amar o nosso Pai comum como Ele merece ser amado e amar os irmãos que Ele colocar no caminho da nossa vida. Aqui está o natural fundamento da fraternidade humana.

Temos dificuldade em lidar com a desigualdade humana porque ela nos incomoda. Os mais fortes podem nos causar inveja ou medo. Os mais fracos podem nos causar incômodo, pois nossa consciência nos obriga a ajudá-los e, em geral, ajudar os outros causa desconforto. A nossa tendência instintiva é para o egoísmo comodista.

É mais cômodo pensar abstratamente que todos são iguais e que, portanto, cada um cuide de si mesmo, que se vire. A regra geral será a da indiferença: cada um no seu quadrado, cada um com seus problemas. Quem pode mais, chora menos. Fala-se em igualdade de oportunidades sem se levar em conta as desigualdades, sejam elas quais forem: físicas, sociais, ambientais, culturais etc. Seria como colocar um carrinho velho para competir com uma Ferrari e justificar igualdade de oportunidade alegando que ambos são igualmente carros e que estão partindo exatamente do mesmo ponto. São ignoradas as outras inúmeras diferenças entre a Ferrari e o carrinho velho.

Assim procede a cultura atual propalando uma igualdade imaginária que serve para anestesiar a nossa consciência e não enxergarmos os fracos e os pequenos que nos rodeiam. As pessoas fracas e pobres incomodam. Sonhamos viver em um mundo rodeados de pessoas fortes e ricas, pois elas nos passariam a sensação de segurança e bem-estar. "Assim diz o Senhor: Maldito o homem que põe sua confiança no homem, que faz da carne a sua força, e aparta o seu coração do Senhor!" (Jr 17,5).

Curiosamente, alguns chegam a querer igualar em dignidade o homem com os animais, com as plantas, com as pedras... Todavia, se perguntarmos ao mundo quem é mais importante: o homem ou a pedra? Provavelmente responderá que é o homem. E se a pedra for um raro diamante que vale sete milhões de dólares e o homem for um velho alcoolizado, jogado na cracolândia, qual vale mais? O mundanismo, por coerência, deverá responder que a pedra vale mais. Em inúmeras situações a cultura atual valoriza mais um animal, uma árvore ou uma pedra do que um ser humano.

O Papa Francisco espera que saiamos dessa crise, que escancarou as diferenças, melhores do que entramos. A fraternidade só acontece verdadeiramente quando concretizamos, entre outros, estes dois comportamentos ensinados pela Palavra de Deus:

1. "Tudo aquilo que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles" (Mt 7,12).

2. "Nós, os fortes, devemos carregar as debilidades dos fracos e não buscar a nossa própria satisfação. Cada um de nós procure agradar ao próximo, em vista do bem, para edificar" (Rm 15,1).

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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