Conversando com o Bispo

Sabedoria, bondade e humildade

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11/10/2020 | Tempo de leitura: 3 min
Dom SevilhaBispo Diocesano de Bauru

Jesus ensinou que não devemos julgar ninguém, pois nunca conhecemos as pessoas na sua totalidade, portanto, só Deus pode fazê-lo. Todavia, sem julgar pessoas concretas, podemos tentar fazer uma avaliação geral e abstrata delas e uma das conclusões, a meu modesto e imperfeito ver, é a seguinte: o pior no ser humano é a presença de três defeitos, sendo eles o hebetismo, o orgulho e a maldade. Em contrapartida, o melhor no ser humano são as três virtudes: a sabedoria, a humildade e a bondade (amor).

Todos temos igual dignidade diante de Deus mas, infelizmente, devido ao pecado ou, às vezes, mesmo sem culpa, nos diferenciamos entre pessoas melhores e menos melhores. Ninguém é completamente bom e ninguém é completamente mau. Somos melhores quando, por vários motivos e modos, as três virtudes citadas florescem em nossa maneira de ser.

Sabedoria é diferente de erudição ou inteligência. Trata-se aqui, sobretudo, de um olhar sereno e realista sobre a realidade, ou melhor, de uma visão de mundo onde, além da humana lógica racional, sobrepõe-se a lógica contemplativa da fé. Trata-se de educar o próprio olhar para que ele veja a realidade como Deus olha todas as coisas e todas as pessoas. O crente é o verdadeiro realista pois, em tudo o que vê, mistura uma dose de otimismo contido com uma boa dose de pessimismo esperançoso. Aqui está a sabedoria. O contrário da sabedoria é a pessoa que acredita que a realidade é exatamente aquilo que ela decretou ser. Consequentemente, ela viverá em uma eterna gangorra emocional feita de exagerados momentos de otimismo eufórico com pessimismos amargos e deprimentes.

As melhores pessoas são humildes. Santa Teresa de Ávila escreveu que humildade é caminhar na verdade. Humilde é a pessoa que enxerga e aceita a si mesma do jeito que ela é e aceita também os outros do jeito que eles são, pois sabe que fomos planejados por Deus, criados por Deus, conduzidos por Deus e, assim sendo, aconteça o que acontecer, estará sempre serena e feliz. Pelo contrário, o orgulhoso não enxerga a si mesmo e aos outros como planejados por Deus, criados por Deus, conduzidos por Deus, pelo contrário, ele pretende colocar-se no lugar do criador e se autoplanejar, autocriar, autoconduzir. O orgulhoso não caminha na verdade, pois prefere a ilusão de ser aquilo que ele não é e pretende ser aquilo que ele nunca conseguirá ser. O orgulhoso terminará decepcionado diante da própria ilusão de querer colocar a si mesmo no lugar de Deus. Além disso, ele espera que todos ao seu redor o reconheçam, o admirem e o venerem, afinal, ele considera-se acima dos comuns dos mortais.

A bondade é o reflexo da presença de Deus em uma pessoa. Quanto mais perto de Deus, mais a alma irradiará bondade ao seu redor. A bondade que se concretiza em ações, atitudes, palavras, ideias, silêncios etc. não é algo que acontece espontaneamente, mas é uma construção lenta, difícil e sofrida. A vida de Jesus mostra para aqueles que se decidem a segui-lo que devem amar até o fim e dar a vida pelos amigos, que é preciso, por amor, renunciar a si mesmos e carregar a cruz de cada dia.

A bondade, hoje, não é uma virtude muito exaltada, pois ela foi desidratada e é vista como ingenuidade, erroneamente associada à timidez e até certa covardia. A bondade não é bem vista em um mundo que valoriza a competição ambiciosa e egoísta. Na realidade, somente os fortes de espírito, com muito suor e lágrima, apoiados na graça de Deus, conseguem crescer em bondade.

O nosso mundo carece urgentemente de pessoas boas, que busquem, sinceramente, a sabedoria e a bondade, com humildade.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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