Reflexão e Fé

O LADO B DA FACILIDADE

Hugo Evandro Silveira Pastor Titular - Igreja Batista do Estoril. E-mail: hugoevandro15@gmail.com

17/01/2021 | Tempo de leitura: 4 min

Partindo da premissa que o Brasil, ainda, em sua maioria é um país cristão, enfrentamos uma tentação, muitas vezes sem saber, de nos tornarmos confortáveis, aconchegantes, desinteressados em qualquer coisa que possa ameaçar o nosso repouso particular que construímos para nós mesmos. Assim acreditamos estar seguros. É verdade que do nosso lado do mundo, apesar de todas as imperfeições políticas, especialmente do lado debaixo do equador, muitos desfrutam de liberdade, de uma certa riqueza e tecnologias mais do que qualquer pessoa das gerações passadas. Podemos brincar dizendo que somos a inveja dos reis antigos. Hoje pode-se viajar pelo mundo em horas, nossas mensagens voam pelo planeta em segundos. Dispomos de colchões, ventiladores, ar condicionado, fornos, escovas de dente, desodorante, dentistas, hospitais, morfina, antibióticos, banheiros, papel higiênico, etc e etc. e até o pessoal incluído na chamada classe baixa carregam supercomputadores em seus bolsos. Apesar da fome ainda ser uma realidade, ainda assim está a mil anos luz da pobreza histórica da humanidade. A maior parte do mundo possui a condição de escolher seus governantes, praticar a sua religião, mais ou menos, livremente, e serem julgados sob um sistema de justiça incalculavelmente superior à maioria dos povos passados. Na linha do tempo, qual cristão de hoje trocaria viver nos tempos da monarquia de 1 ou 2 Reis?

Diante dessa "prosperidade" do nosso tempo, gosto de lembrar do aviso de Paulo, o apóstolo, quando diz que "O amor às riquezas é a raiz de todo mal" (1 Timóteo 6:10). E não é mesmo que o amor à riqueza gera ganância, orgulho, egoísmo e acaba induzindo as pessoas a todos os tipos de males? Em Provérbios 30: 8-9, Agur, orou para não ficar rico nem pobre, pediu pelo necessário. Ele fez uma prece para não ficar rico ao ponto de negar a Deus, e nem pobre o bastante correndo o risco de cometer delitos e pecar contra Deus. A história do povo na Bíblia revela um princípio que o coração humano invariavelmente escorrega: bênçãos materiais, em seguida o esquecimento de Deus e como resultado idolatria, disciplina e exílio, até o arrependimento e assim sucessivamente.

Em tantas coisas que brilham diante de nós, os cristãos devem cuidar-se para não se esquecer do Senhor nosso Deus, deixando de guardar seus preceitos que conduzem a pureza, plenitude, amor, felicidade, graça, paz e salvação. Em Deuteronômio 8:11-14 lemos um alerta que aplica-se perfeitamente aos nossos dias: "Nunca esqueçam o SENHOR, nosso Deus, e tenham o cuidado de obedecer aos seus mandamentos na terra onde vocês terão toda a comida que quiserem e construirão casas boas, e o seu gado e os seus rebanhos aumentarão; vocês ajuntarão prata e ouro e terão tudo de sobra. Então, tomem cuidado para não ficarem orgulhosos e esquecerem do SENHOR, o seu Deus". Em Apocalipse 3:15-17, Cristo faz a mesma denúncia: "Vocês dizem, sou rico, prosperei e não preciso de nada; sem saber, na verdade, que és miserável, pobre, cego e nu". O lado negro da prosperidade é que ela nos cega, e nos faz esquecer do próximo, e nos faz esquecer de Deus, ou ao menos moderar o nosso zelo e adoração por Ele.

Creio que esse é um alerta celestial para as nossas vidas tentadas pela presunção. Enfrentamos o perigo de nos tornarmos indelicados e gananciosos. A facilidade tenta a pessoa a amar seus luxos. Argumentamos aqui na esfera da alma, implicações espirituais eternas, entretanto até no âmbito da vida terrena, alguém já disse que um dos grandes problemas das famílias abastadas são os herdeiros que não conhecem o valor do trabalho duro na qual enfrentaram seus avós e pais. O luxo, a facilidade inebria, entontece, não apenas na vida terrena, mas pior, conduz homens desatentos a esquecerem-se de Deus, esse é o lado ruim, o lado B da facilidade.

Em Cristo, o cristão é levado a considerar tanto a abundância quanto a escassez sob o espírito da paz e satisfação (Filipenses 4.12,13), gratos pelo dom da vida e fortalecidos na esperança eterna oferecida á todos os que creem em seu Nome. Somos convocados a enfrentar a tentação de não amar demasiadamente as facilidades ilusórias e passageiras dessa vida fugaz. Poucas coisas tem achatado a vida cristã como o ficarmos acomodados, engordando, acampados confortavelmente em nossas poltronas, hipnotizados nos programas favoritos, enganados como 'sapos' num caldeirão que ferve aos poucos, como se a vida se bastasse assim - e ainda sem perceber nossos próximos que miseravelmente sofrem em agonias mil. Enquanto há fartura, não nos deixemos ludibriar pela segurança utópica das facilidades e riquezas da vida moderna. Necessitamos de Cristo tanto para enfrentar as provações das dificuldades, quanto as tentações das facilidades.

IGREJA BATISTA DO ESTORIL

58 anos atuando Soli Deo Gloria

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