Reflexão e Fé

Lidando com as diferenças

Hugo Evandro Silveira Pastor Titular - Igreja Batista do Estoril. E-mail: hugoevandro15@gmail.com

31/01/2021 | Tempo de leitura: 4 min

O cristão é chamado a defender a sua fé (Judas 3), mas isso não significa necessariamente ser contencioso; porém, ainda assim, não faz concessões quando se trata de defender a sua cosmovisão de mundo, contudo sem ferir a particularidade do outro. Encontramos diariamente pessoas, até queridas, de quem discordamos nas várias esferas da vida, como na política, o modo de viver na família, nos negócios, na pedagogia, quanto a fé, a teologia, e até na forma da administração de uma igreja em particular, que é o nosso caso especificamente.

Quem não encontra pessoas que não lhes são totalmente de acordo? Até mesmo entre marido e mulher, pais e filhos, colegas de trabalho, amigos da vida e mesmo entre membros da mesma comunidade de fé. Talvez seja impossível viver sem divergências. A partir desse ponto, é bom procurar encontrar certos princípios básicos pelos quais podemos nos relacionar com aqueles que diferem de nós, como: O que posso aprender com a pessoa que discorda de mim? Como lidar com ética e respeito com a pessoa que pensa diferente?

O sentimento humano natural logo quer aniquilar o opositor. Todavia, mesmo discordando, temos responsabilidades sociais e obrigações para com as pessoas que diferem de nós. Obviamente que isso não exige concordância, ainda mais quando alguém não se encontra fundamentado em nossa mesma base de conhecimento. Contudo, educadamente, não podemos "pagá-los" com indiferença. No ensino de Cristo devemos amor ao próximo, seja quem for, e tratá-los como nós mesmos gostaríamos de ser tratados (Mateus 7.12), ou seja, com respeito. Queremos ser ouvidos, e muitas vezes ouvir e tentar compreender o nosso opositor requer um grande esforço da nossa parte. Isso quer dizer que devemos à pessoa que diverge de nós a cortesia de ao menos ouvi-lo com atenção em invés de atacá-lo confusamente. Logo, no que uma pessoa diz ou escreve, devemos tentar entender a sua mensagem. Claro que existem deslizes, afinal há pessoas que não se expressam exatamente da maneira que deveriam, sendo infelizes em suas manifestações, mas se alguém falha em se expressar com precisão, não temos o direito de atacá-la imediata e indiscriminadamente, ao contrário, com moderação devemos sempre oferecer uma nova oportunidade de expressão. A inteligência nos ajuda a compreender que nada se ganha com o tom contencioso de uma discussão, mas no diálogo tão ausente nas atuais relações familiares, na política, na religião, na sociedade, no mundo - calibrar o tom é dever, ao menos dos iluminados. A inteligência nos ajuda a mostrar aos oponentes o nosso real interesse neles como pessoas, no sentido de que não estamos simplesmente tentando ganhar uma discussão ou mostrar o quão inteligentes somos, e que até podemos aprender com nossos discordantes, bem como ajudá-los, se nos for dada a chance.

Diante das opiniões distintas, posturas de agressividade e sarcasmo revelam insegurança e em nada ajuda. Apesar que os personagens bíblicos mostraram indignação contra aqueles "que suprimem a verdade pela sua maldade" (Romanos 1.18). As explosões dos profetas do Antigo Testamento, a indignação do nosso Senhor Jesus e dos apóstolos denunciavam as heresias e hipocrisias do povo no passado no sentido da advertência divina. Esses julgamentos severos visavam conduzir as pessoas ao retorno da justiça sob a graça da correção, mas era certo que "o puxão de orelha" nos obstinados, em vez de conduzi-los ao arrependimento, não poucas vezes os afastavam ainda mais da verdade de Deus.

Por fim, posso estar errado e a outra pessoa certa, mas a cortesia permanece fundamental no trato relacional. Obviamente, que a possibilidade do erro não se aplica quando tratamos das verdades cristológicas, como a Divindade de Cristo ou a salvação pela graça, afinal toda a estrutura da fé cristã está em jogo aqui, e seria mais instabilidade herética do que tolerância permitir que isso fosse corroído por dúvidas. Agora, em outras questões gerais, quando não reconhecemos a nossa falibilidade, revelamos que estamos mais interessados em vencer uma discussão do que em descobrir a verdade. A pessoa que corrige nossos equívocos é verdadeiramente nosso ajudante, e não nosso adversário, e devemos ser gratos por esse serviço em vez de ressentidos. Pessoas que não reconhecem seus erros, revelam-se obcecadas e perdem a credibilidade. Lembramos que a razão é um dom divino, indispensável ao processo amplo da comunicação. Então, um cristão contencioso, que alimenta discussões divergentes, falha feio. Em vez disso, "o servo de Cristo não deve brigar: pelo contrário, deve ser bom para todos, capaz de ensinar, não ressentido. deve instruir gentilmente os que se opõem a ele, na esperança de que Deus lhes conceda arrependimento, conduzindo-os ao conhecimento da verdade, e que caiam em si..." (2Timóteo 2.24-26).

IGREJA BATISTA DO ESTORIL

58 anos atuando Soli Deo Gloria

 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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