Reflexão e Fé

O medo que governa as mentes

Hugo Evandro Silveira Pastor Titular - Igreja Batista do Estoril. E-mail: hugoevandro15@gmail.com

21/02/2021 | Tempo de leitura: 4 min

Se há uma sensação que sintetiza os últimos meses no planeta é o medo. Esse impacto tem atropelado a vida das pessoas. O ser humano está apavorado, primeiramente pelo mais óbvio, o medo da morte. As pessoas possuem medo da morte. O medo de morrer é comum, e a maioria das pessoas temem a morte em graus variados. Muitos preferem até ignorar esse assunto. Embora parte do medo seja saudável porque nos torna cautelosos, mas o descontrole vira uma doença. O COVID-19 com seu decreto diário de morte esparramou terror nos quatro cantos da terra e em resposta a esse mal, governos, organizações e indivíduos passaram a operar no sentido absoluto de que a morte é o maior temor da vida escondido em cada interação social. Nesse cenário, de forma similar há um segundo aspecto do medo que é o temor de perder o controle da vida que projetamos merecer. O medo vai tomando conta das nossas mentes e corpos quando a história a nossa volta não vai sendo construída segundo a nossa vontade, conforme nossos planos pré-estabelecidos. Temos a vã pretensão de que a vida deve seguir segundo o nosso querer. Mas quando percebemos que não estamos no controle, somos tomados de um pavor até ingovernável. Se pararmos para analisar, sofremos de um medo incubado por uma cosmovisão que faz o ser humano crer que ele está no comando da sua própria vida, que ele mesmo estabelece a agenda da sua história e, que portanto o mal maior está na negação dos planos autoprojetados, como se a sua vontade e sucesso fossem irrevogáveis.

Diante desse medo da morte que tem governado as mentes, como podemos gerir as nossas vidas minimizando essa sensação paralisadora? Como podemos abraçar a nossa mortalidade com serenidade, vivendo livres desse medo?

Sermos despertados para a simples realidade humana de que a morte é iminente, irá nos ajudar a viver nossos dias livres, mesmo diante da responsabilidade que a vida requer. A vida é um presente e não uma conquista. Talvez para nos livrarmos do medo da perda do controle da vida, a solução seria parar de acreditar que temos algum domínio sobre a quantidade dos nossos dias, seria desenvolver a percepção maravilhosa de que cada respiração que damos é um presente de Deus. A vida nesse durante, nesse instante, já é um presente seja qual for a sua duração. Essa é uma consciência da realidade fundamental da vida que pode nos ajudar a eliminar todo o medo decorrente do engano de presumir que estamos no controle da nossa existência. Quando formos tomados pela percepção de que a vida não está em nossas mãos, mas que é para ser desfrutada com responsabilidade, o saldo será agradecimento ao Criador pelo presente recebido. Conversando com um querido amigo nessa última sexta, subitamente ele disse, "aproveitemos o momento, a amizade, porque não sabemos se amanhã aqui estaremos". É isso! Qualquer que seja a vida que me foi dada, é imerecida, e devo, sem medos, brindá-la em louvor a Deus.

Quando foi a última vez que percebeu os detalhes mais comuns da vida como o simples, mas indispensável, rir, ouvir, cheirar, ver, saborear, acordar, andar, trabalhar, viver? O observar a maneira como as nuvens colorem o pôr do sol? O cheiro da terra molhada pela chuva? Os ritmos da conversa com seu cônjuge, filho ou amigo? Preste atenção aos detalhes simples, mas demasiadamente ricos, muito mais do que às manchetes aterrorizantes. Ocupar-se do minucioso presente da vida, diminuirá o medo trazido pelos eventos seculares que estão imensuravelmente além do nosso insignificante controle. Claro que acontecimentos mundiais, são importantes para nós como raça humana, mas Deus nos fez especificamente para um tempo e lugar na qual devemos valorizar o ver, tocar, sentir, saborear, cheirar, desfrutar, viver com gratidão.

Finalizo com um dos Salmos mais lindos da Bíblia, 131: "Senhor, meu coração não se elevou, nem meus olhos ficaram altivos; Não me envolvo em grandes assuntos ou em coisas demasiadas para mim. Certamente eu fiz calar e sossegar a minha alma, tal criança desmamada que repousa em sua mãe, minha alma é como essa criança desmamada em mim. Espero no SENHOR, desde agora e para sempre". Estão aí palavras de uma pessoa em paz, que lançou fora o medo da perda do controle. Podemos ter paz se resistirmos ao fascínio das mídias sociais, das manchetes dramáticas, da retórica imprópria dos políticos e de achar que somos absolutos. Nas promessas de Cristo o medo vai embora: "Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim, ... vou preparar um lugar para onde Eu estiver, estejais vós também" (João 14.1-3). Sossegue e creia.

IGREJA BATISTA DO ESTORIL

58 anos atuando Soli Deo Gloria

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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