Reflexão e Fé

Desobediência civil

Hugo Evandro Silveira Pastor Titular - Igreja Batista do Estoril. E-mail: hugoevandro15@gmail.com

28/02/2021 | Tempo de leitura: 4 min

Quantas vezes encontramo-nos sufocados por leis, normas, imposições, prescrições, decretos e decisões antidemocráticas. Subitamente somos tomados pela perplexidade de receber ordens arbitrárias, inquisitoriais. Frente a truculência de quem comanda, há os que começam a se perguntar sobre a possibilidade de se engajarem em atos de desobediência civil se opondo pacificamente contra alguma ordem opressora. Na história, propagados em livros e até celebrados em Hollywood, Gandhi, Martin Luther King, Nelson Mandela, Dietrich Bonhoeffer, Oskar Schindler e o herói lendário Robin Hood, lutaram pela justiça, paz e dignidade, conectados pelo fio da desobediência civil.

Mas antes de ceder a tentação de se envolver em qualquer ato de desobediência civil, um cristão deve procurar atentar-se ao que a Bíblia diz a respeito desse assunto controverso e, irá descobrir que Deus é quem está no controle de todo governo terreno, e que em última instância a vingança não nos pertence: "Não vos vingueis a vós mesmos... Minha é a vingança, diz o Senhor" (Romanos 12.19). "Deus somente, é o Vingador", escreveu Martinho Lutero. No Salmo 94.1 está escrito: "O SENHOR Deus, a quem a vingança pertence, mostra-te resplandecente". Então, em vez de vingança, o cristão é chamado a oferecer "os dois lados da face", "perdoar 70 vezes 7", "não pagar mal com mal", nunca se vingar. O cristão descobre que é livre para viver com gentileza, amor e tolerância.

Ainda assim, se há arbitrariedades, e se do outro lado a desobediência civil é um sacrilégio, passamos a ansiar que o Deus vingador entre neste mundo e pegue os ditadores orgulhosos, egoístas e abusadores pelo pescoço. Já que a rebelião não é prática do bom cristão, então que Deus venha e se vingue, que venha como aqueles vingadores, tipo um Capitão América, um Iron Man, o Incrível Hulk que pega a manifestação do mal pelos pés e o chicoteia como um boneco de pano. Mas as coisas não são assim.

Paulo, o apóstolo, mesmo vivendo no terror do Império Romano, sob o governo de um "César" tirano que ordenava sem piedade a execução de cristãos, mesmo nesse cenário, inspirado pelo Espírito Santo, afirmou que o cristão deveria abençoar todas as autoridades, em postura pacífica e tranquila, para que as pessoas fossem salvas pela graça de Cristo (cf 1 Timóteo 2.1-4). Mas em um estado totalitário, onde autoridades se postam acima da lei e da constituição, fazendo emergir um ambiente de insegurança e perversidade, surgem naturalmente sentimentos de desobediência civil. No Brasil temos experimentado dias de contrassenso onde autoridades estão proibindo determinadas atividades em lugares específicos, mas ao mesmo tempo, os mesmos, fecham os olhos para outras aglomerações diárias; temos experimentado desmandos com a falta de investimentos na área da saúde provocando amontoados de pacientes em corredores de hospitais públicos pela insuficiência de leitos, equipamentos e profissionais; temos experimentado impostos e preços em alta galopante, temos experimentado um ambiente de insegurança em que uma instituição pública federal pode ser até ameaçada de morte nas redes sociais, já uma outra, nem ao menos pode ser criticada, sob o risco de ser criminalizado o crítico.

Então como o cristão deve se comportar nas imposições de autoridades arbitrárias? Entendemos que toda autoridade na terra é passageira, nenhum poder é absoluto, exceto Deus. Logo, o cristão pede sabedoria e graça para enfrentar a tirania governamental; e se alguém tem sido tentado á desobediência civil, pergunte a si mesmo: "Será que Deus justificaria a minha desobediência?". Essa é uma aposta alta, que deve fazer pensar todos os que querem nela se arriscar. Nesse tipo de caso não é suficiente agir de acordo com a própria consciência, porque ela é falha, o importante é que sejam feitos julgamentos corretos e bem fundamentados no ensino teológico. Claro que também, o cristão não deve se comportar como quem não tem força ou vigor, como um bobo, jamais; entretanto, pelo bom testemunho de Cristo, o cristão deve se submeter às restrições, por mais que sejam inquisitoriais. E em tempo, o cristão também deve esgotar todos os meios comuns, honestos e legais para fazer valer a justiça, a liberdade e a verdade.

Por fim, na tentação da desobediência civil, a menos que a nossa liberdade de culto seja ameaçada (Atos 5.29), voltemos nossos olhos a instrução bíblica que diz: "Todos devem sujeitar-se às autoridades governamentais, pois não há autoridade que não venha de Deus; as autoridades que existem foram por Ele estabelecidas. Portanto, aquele que se rebela contra a autoridade está se colocando contra o que Deus instituiu, e aqueles que assim procedem trazem condenação sobre si mesmos" (Romanos 13.1,2). Portanto, frente as injustiças, pela fé, vislumbramos a justa vingança de Deus, onde a paz, justiça e alegria serão para sempre em plenitude.

IGREJA BATISTA DO ESTORIL

58 anos atuando Soli Deo Gloria

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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