Reflexão e Fé

Injustiça

Hugo Evandro Silveira Pastor Titular - Igreja Batista do Estoril. E-mail: hugoevandro15@gmail.com

14/03/2021 | Tempo de leitura: 4 min

A Escritura Sagrada diz que os governos terrenos são ordenados por Deus para administrar a justiça e os cristãos devem estar sujeitos à sua autoridade. O magistrado civil é "um ministro de Deus para o seu bem... um vingador que irrita aquele que pratica o mal" (Romanos 13.1-4). Mas também é verdade que nenhum governo na história conseguiu estar consistentemente justo. Na verdade, quando o apóstolo escreveu essa ordem, o imperador romano era Nero, um dos mais injustos, sem princípios e de coração cruel no exercício do poder no cenário mundial.

O cristão ciente da sua fé sempre soube "que o mundo inteiro está sob um poder maligno" (cf. 1João 5.19); as estruturas de poder do mundo são e sempre foram sistematicamente injustas em um grau ou outro. Até mesmo em países desenvolvidos, com direitos inalienáveis, encontra-se sistemas de opressão e injustiças. Até o século 19, os EUA mantinha um sistema de escravidão opressor que retinha todos os benefícios da vida, liberdade de multidões de pessoas de etnias africanas, que eram relegadas à condição subumana. No Brasil quando a princesa Isabel sancionou a lei Áurea que aboliu a escravidão em 13 de maio de 1888, a injustiça da escravatura não foi exterminada automaticamente e, até hoje, em muitos guetos, a luta continua em salvaguardar os direitos civis de todas as pessoas igualmente, independente da cor da pele.

O fato é que a injustiça se manifesta em todos os nichos da sociedade. Esse mal é tão comum, que já não nos indignamos, nem reagimos propositivamente. Assim como a força de uma correnteza, a injustiça e a desigualdade, desestabiliza e gera inseguranças. Um país desigual dá as mãos à injustiça, à discriminação, à ganância e à falta de compaixão. Sua estrutura vai se tornando ímpia a tal ponto que perpetua ciclos de decisões elitistas e descompromissadas socialmente. É exatamente isso que estamos vivendo no Brasil. Nesse assunto vejamos a qualificação do próprio ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF): "O sistema criminal brasileiro é 'injusto e desigual' para a população menos abastada e 'leniente com os poderosos'". É assustador observar que o discurso daqueles que detém o poder encontra-se ano-luz da realidade. Para que a injustiça seja, de fato enfrentada, precisamos de pessoas sensíveis, corajosas, honestas e dispostas pela luta da verdade. A verdade tem nome (João 14.60). Como cristão, tomado pelas Palavras do nosso Senhor Jesus Cristo, estou convencido de que a única solução a longo prazo para cada tipo de injustiça no mundo encontra-se na ética do Evangelho de Cristo. Acredite, somente no Evangelho as barreiras da injustiça podem ser derrubadas.

Vivemos em um momento de grande instabilidade. Grandes segmentos de nossa sociedade têm se manifestado em favor de "Justiças Sociais" — mas esse é um movimento enigmático que significa coisas diferentes para pessoas diferentes. Em geral, aqueles que lutam contra as injustiças do sistema, dizem querer exterminar todo tipo de opressão. A maioria é gente sincera que quer um futuro melhor e uma sociedade mais justa para todos. Contudo, será que as principais correntes contemporâneas contra as injustiças, realmente buscam justiça? No caso da religião cristã, será que a "obsessão por justiça social propagada em determinadas linhas do evangelicalismo" encontra-se abarcada na mensagem do Evangelho de Jesus? Será que a mensagem de justiça propagada por Jesus trazia em seu escopo essa ideia secular e liberal de "justiça social" dos nossos dias?

As várias correntes que lutam por Justiça Social, assumem que o indivíduo é inocente e que as estruturas da sociedade, racismo, sexismo, capitalismo, patriarcado, família nuclear, a igreja e etc., são o problema. Essas correntes não avaliam o indivíduo. Entretanto, se eu presumo que sou inocente e, que as estruturas ao meu redor são o problema, a mudança verdadeira e piedosa, como Cristo propagou em sua mensagem de justiça, nunca ocorrerá. Um erro que não podemos cometer é que, embora os combatentes da injustiça possam ser frequentemente bem intencionados, eles operam sob suposições e princípios que historicamente já conduziram à sociedade ao sofrimento e a injustiça em grande escala. Rapidamente pode-se pesquisar que revoluções históricas de combate contra injustiças em lugares como França, Rússia, China, Cuba, Camboja e outros, foram movimentos impulsionados pelos mesmos princípios atuais de busca de Justiça Social. Ocorre que inevitavelmente essas revoluções terminaram em escravidão, morte e empobrecimento de milhões. Se aqueles que defendem a Justiça Social continuarem a ignorar lições da história, inevitavelmente alcançarão fins semelhantes. O anseio por justiça que extingue a todo tipo de injustiça, é a justiça de Deus nos princípios de Cristo que todos podemos buscar.

IGREJA BATISTA DO ESTORIL

58 anos atuando Soli Deo Gloria

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