Alberto Consolaro

Poucos anticorpos pós-vacina. E agora?

24/04/2021 | Tempo de leitura: 3 min

Anticorpos são proteínas como tantas outras, desempenhando suas funções. Proteínas são muito grandes e se fossem uma parede, cada tijolo se chamaria aminoácidos. O colágeno e a queratina da pele são proteínas e, quase todas, são coligadas a outras partes formando estruturas. Mas, tem proteínas que ficam soltas, tal como os anticorpos, nadando para lá e para cá no sangue, linfa, saliva, lágrimas, leite e suor.

No corpo, com raras exceções, tudo se renova a todo instante como os ossos, pele e cabelos. Cada estrutura tem o que se chama vida molecular e pode durar horas e até semanas. O metabolismo do corpo modifica e consome tudo que ele mesmo forma para renovar sempre, inclusive os anticorpos.

RESPOSTAS

Quando alguma proteína estranha entra no corpo haverá uma resposta imunológica que em 14 a 21 dias, formará um pool de células sensibilizadas e outro pool de proteínas fabricadas por elas, especialmente os plasmócitos, e que são chamadas de anticorpos ou de imunoglobulinas. Esta reação se chamará resposta imunológica primária e produzirá o anticorpo chamado IgM.

Em um segundo momento, de preferência não muito distante, um segundo contato com esta proteína estranha, vai desenvolver de novo uma resposta imunológica formando um pool muito maior de celulas sensibilizadas e um outro de anticorpos. Esta resposta imunológica secundária é muito mais potente que a primária e produzirá um anticorpo chamado IgG. A terceira e outras sucessivas respostas se equivalem. Se demorar demais este segundo contato, a resposta primária pode ir se apagando, gradativamente, até desaparecer.

Depois de algumas semanas da resposta secundária, a maior parte das células sensibilizadas e dos anticorpos desaparecem quase que por completo. Só restará um clone de células de memória com todos os arquivos guardados. Se precisar da resposta imunológica, em horas formam se de novo os pools necessários para eliminar o agressor insistente. Isto sim é estar imunizado! Após a resposta secundária, as células de memória ficam mais eficientes e com arquivos otimizados para ser acionadas mais rápida e intensamente, se necessário for no caso do agressor ser insistente e entrar de novo.

E AS VACINAS?

Se tomar a vacina dentro do esquema proposto e fizer o teste depois de algumas semanas é até possível que a quantidade de anticorpo nem seja mais detectável em exames de laboratório. Isto não significa que a vacina não funcionou e que não esteja imunizado.

Significa apenas que os anticorpos já foram metabolizados e as células de memória estão de plantão. Que não se precisa mais manter aquela quantidade enorme de anticorpos. Se precisar em poucas horas estarão em níveis elevados de novo. Quem tem a memória são as células imunológicas e não as proteínas dos anticorpos!

E SE?

Ahhhh, mas se depois de 3 meses de vacinado o nível de anticorpo ainda estiver alto, o que isto pode significar? Que esta pessoa está tomando outras doses a mais da vacina ou está entrando com frequência em contato com o agressor para o qual a vacina foi feita!

No caso do coronavírus, pode ser que esta pessoa vacinada não esteja se protegendo e nem se isolando adequadamente. Neste caso o risco de se reinfectar existe, especialmente se contatar com uma variante viral que tenha proteínas diferentes daquelas para as quais a vacina foi direcionada!

Todo cuidado é pouco!

(Alberto Consolaro – Professor Titular pela USP e Colunista de Ciências do JC)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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