Reflexão e Fé

Lidando com as notícias

06/02/2022 | Tempo de leitura: 4 min

Talvez você tenha se encontrado em uma conversa em que alguém expresse surpresa - ou uma pitada de julgamento - por você não estar ciente de uma notícia recente. Em nosso mundo rico em informações, podemos sentir que temos o dever de estar informados, saber o que está acontecendo e, inevitavelmente, ter uma opinião. No entanto, se pararmos para examinar essas suposições, esse dever parece absurdo. É impossível alguém saber tudo o que está acontecendo hoje, muito menos ter uma opinião ponderada sobre todos os acontecimentos.

ERA DA INFORMAÇÃO

Há décadas as notícias eram desencadeadas pelo telégrafo, por impressoras a vapor. Hoje nos encontramos em plena velocidade da informação por tecnologias digitais. A Bíblia afirma: "Tudo o que for verdadeiro, tudo o que for nobre, tudo o que for justo, tudo o que for puro, tudo o que for amável, tudo o que for de boa fama, se houver alguma excelência, se há algo digno de louvor, pense nessas coisas" (Filipenses 4.8). Esse é um bom conselho para essa era da informação. O significado dessas palavras bíblicas é que se estivermos enraizados em verdades profundas, seremos mais capacitados a discernir quais eventos contemporâneos vale a pena conhecer e o que uma resposta adequada a eles pode acarretar. O conselho bíblico implica a retirada de uma enxurrada de informações que nos sobrecarregam. Sim, isso pode significar que muitas vezes "perderemos" as coisas sobre as quais outras pessoas estão falando, mas não devemos necessariamente ver essa "perda" como primordial para seguir em frente, porque muitas dessas notícias que roubam o nosso tempo não fazem diferença real em nossa vida. Ficamos tão estupefatos pelas tragédias do mundo ou pelos acontecimentos dos artistas, que nem temos mais tempo ou energia para os necessitados que estão perto de nós e que realmente nos interessam. Quando estamos sobrecarregados por tragédias e controvérsias distantes, somos menos capazes de atender adequadamente aos acontecimentos próximos, eventos aos quais somos mais capazes - e talvez até obrigados - a responder.

DISTRAÍDOS DO FIM PRINCIPAL

Um dos desafios essenciais para cultivar a atenção adequada vem do fato de que somos bombardeados com tantas informações que clamam por nossos olhos e ouvidos. O filósofo católico Joseph Pieper afirmou que as "as pessoas do nosso tempo perdeu a capacidade de ver porque há muito para ver!". A resposta necessária a essa explosão de notícias é recuar, pelo menos parcialmente: silenciar os telefones, desligar o computador, desligar a TV, afastar-se da agitação dos nossos tempos pós modernos para não sermos distraídos para os fatos essenciais da vida, do nosso fim principal. Isso nos faz lembrar-nos de Jesus o Filho de Deus que praticava retiradas regulares e estratégicas em sua caminhada nesse mundo: "Se retirava para lugares afastados e orava" (Lucas 5.16).

O QUE REALMENTE IMPORTA?

Ao nos afastarmos das notícias distantes e que pouco nos afetam, ganhamos o espaço necessário para atender ao que importa. A esse respeito santo Agostinho concluiu que o ser humano só encontra satisfação para a sua alma, quando se encontra em Deus, o seu criador: "Fizeste-nos, Senhor, para ti, e o nosso coração anda inquieto enquanto não descansar em ti" (Agostinho de Hipona). Os muitos afazeres, as turbulências das notícias impedem o alcance da finalidade principal do homem que é "glorificar a Deus e desfrutá-lo para sempre". Cumprir esse propósito sublime, deleitar-se na beleza da criação de Deus se torna impossível quando estamos distraídos e sobrecarregados com todas as informações bombardeadas em nossa direção. Contemplar e deleitar-se nas coisas simples da vida pode parecer menos sério do que cuidar de assuntos importantes que enchem os jornais todas as manhãs, mas embora percamos muitas notícias que ocupam as rodas de conversas - incluindo, talvez, se Bolsonaro comeu pastel na feira, se o participante do BBB transou na casa, se Zuckerberg perdeu US$ 27,1 bi e deixou de ser um dos mais ricos do planeta - mas essa perda de informações consumidas, sugere ganho na qualidade da mente. Quando nos afastamos da mangueira de incêndio da informação, da reverberação de notícias difusas, podemos prestar mais atenção no que realmente importa, renovar a capacidade de viver mais leve e até observar o Criador trabalhando no mistério do mundo, o que será uma bênção a quem puder desfrutar.

Hugo Evandro Silveira

Pastor Titular - Igreja Batista do Estoril.

E-mail: hugoevandro15@gmail.com

 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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